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OLIMPÍADA
Falta de corpo a corpo depois da Lei Piva intriga principais anunciantes, maiores agências e até mesmo parceiros
Mercado publicitário vê COB paralisado
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde julho de 2001, quando entrou em vigor a Lei Piva, que só
em 2003 deu mais de R$ 47,4 milhões de recursos públicos ao
COB, o comitê deixou de procurar patrocínio entre os maiores
anunciantes e as principais agências de propaganda do país.
Consultadas pela Folha, as dez
empresas que lideram o mais recente ranking dos anunciantes da
revista ""Meio e Mensagem" disseram não ter recebido projeto do
COB ou de confederações esportivas propondo parcerias ou solicitando patrocínios com vistas a
Atenas-04. Juntas, elas investiram
R$ 1,04 bilhão, ou pouco mais de
20% do despendido pelos 300
maiores anunciantes do país.
O mesmo aconteceu com as cinco maiores agências pelo critério
de investimento em mídia, que
somam R$ 1,37 bilhão em gastos
(27,9% do gerado pelas 50 maiores). Até os poucos parceiros da
entidade afirmam que a iniciativa
para o corpo a corpo partiu deles.
Para Ângelo Franzão, diretor de
mídia da McCann-Erickson,
agência que lidera o ranking, os
dirigentes deveriam adotar abordagem mais agressiva. ""O patrocínio e a parceria não vão cair do
céu. Os dirigentes têm de ir atrás,
apresentar um projeto, mostrar
que retorno o investidor vai ter.
Os contatos não são profissionais,
são por amizade, e isso não funciona", diz. "As confederações
precisam diminuir a distância que
mantêm das agências."
Sérgio Amado, presidente da
Ogilvy Brasil, tem discurso parecido. "O COB tem de chegar às
agências. Se nos apresentassem
projetos, mostraríamos aos clientes e poderíamos obter recursos.
Eles nunca chegaram até a gente."
João Fernando Vassão, diretor
geral da Fischer América, segue
na mesma linha de Amado.
"Às vezes um cliente pode até
pedir informações [sobre investimentos em marketing esportivo]
e somos nós que temos de correr
atrás. As confederações e o COB
deveriam passar sistematicamente informações às agências, ter
uma postura pró-ativa", afirma.
A Coca-Cola, uma das parceiras
do COB, é um exemplo prático da
reclamação das agências. A multinacional diz não ter sido procurada pelo comitê para negociar um
acordo para Atenas.
Segundo Claudia Calaferro, diretora de marketing da empresa,
foi a companhia que tomou a iniciativa de conversar com Carlos
Arthur Nuzman e Leonardo
Gryner, diretor da Olympo, a
agência de marketing do COB.
"Nós os procuramos logo depois de Sydney [2000]. As conversas demoraram, mas chegamos a
uma solução boa. Como queríamos diversificar os investimentos,
não ficando restritos ao futebol,
resolvemos fazer aporte de um x e
dividi-lo entre três confederações.
Se fôssemos dar para todas, sobraria pouco para cada uma."
Parceira do Comitê Olímpico
Internacional desde 1928, a multinacional reservou R$ 2,1 milhões
para premiar atletas brasileiros
nos Jogos. Investiu ainda R$ 1,8
milhão em três confederações
-judô, triatlo e ginástica.
O caso da Samsung, que ao lado
da Coca-Cola patrocina o revezamento da tocha olímpica no Rio,
marcado para 13 de junho, é o
mesmo. A empresa diz não ter sido procurada pelo COB para fazer
promoções que pudessem render
dividendos ao comitê.
Gisela Turqueti, diretora de
marketing da empresa, que é parceira do COI, conta que a Samsung organizará um show para
arrecadar fundos para a delegação brasileira após o revezamento
da tocha. "A iniciativa foi nossa."
Segundo Gryner, o COB já arrecadou R$ 12,9 milhões da iniciativa privada até o momento, bem
pouco perto da conta que fica para o governo. Para este ano, a previsão do COB é que a Lei Piva
-2% dos recursos das loterias federais vão para o esporte olímpico e paraolímpico- proporcione
R$ 48 milhões.
Do total, R$ 3,6 milhões iriam
para um instituto olímpico projetado pelo comitê e R$ 3,6 milhões
para o esporte escolar e universitário. Os restantes R$ 40,8 milhões ficam à disposição do COB
para redistribuição.
Para manter suas atividades e
preparar o Brasil para Atenas, o
comitê anunciou que ficaria com
30% -R$ 12,24 milhões-, deixando 10% -R$ 4,08 milhões-
num fundo de reservas e dando
60% às confederações.
Além disso, as estatais contribuem para aumentar o bolo. Só o
Banco do Brasil diz ter investido
R$ 35 milhões em esportes no ano
passado. Para 2004, a previsão era
investir R$ 40 milhões, dos quais
R$ 22 milhões iriam para a Confederação Brasileira de Vôlei -incluindo o de praia e o de quadra.
No ano passado, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos recebeu R$ 5 milhões dos
Correios, o handebol, cerca de R$
1,4 milhão da Petrobras pelas
temporadas 2003/2004 e a Federação Brasileira de Vela e Motor, R$
550 mil da petrolífera para ajudar
nove atletas. Já a Caixa Econômica Federal dará R$ 5,5 milhões ao
atletismo, enquanto a Eletrobras
repassou R$ 1,2 milhão ao basquete feminino no ano passado.
Colaboraram Adalberto Leister Filho e
Mariana Lajolo, da Reportagem Local
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