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ANÁLISE
Fiasco é chance de redenção para Massarandubas
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
"Porrada! Porrada! Porrada!"
A histeria tomava conta do
Morumbi nos minutos finais
da vitória do River. Inconformadas, as arquibancadas cobravam dos jogadores uma
"atitude". Fabinho obedeceu.
Caçou um argentino até levar o
vermelho. O estádio teve a audácia de aplaudir. E o volante, a
de agradecer, braços erguidos
para o céu preto-e-branco.
O desfecho escandaloso da
eliminação do Corinthians da
Libertadores mostra que o torcedor paulistano aos poucos se
transforma em um canalha.
A violência, que já havia ultrapassado a fronteira dos estádios, agora ameaça a essência
do esporte. Festejar um pontapé qual um gol?
O corintiano, que simboliza a
mais linda história de amor entre uma torcida e seu time de
futebol, hoje prefere cantar:
"Traz a farinha [cocaína] e a
maconha. Corintiano, maloqueiro e sem-vergonha".
Envergonhados da herança
"pó-de-arroz", os são-paulinos
vibram com a nova identidade,
forjada a socos. Agora gladiadores da periferia, não poupam
nem o ídolo. "Kaká pipoca",
manchetou, rude, o site da Independente logo após a desclassificação na Copa do Brasil.
Talvez não exista um clube
que tema tanto o torcedor como o Palmeiras. Basta uma
derrota para a sede redobrar a
segurança. De pai para filho, o
espírito palestrino, de comunhão e resistência cultural, aparentemente evaporou-se.
O fenômeno não se restringe
ao âmbito das uniformizadas.
Tampouco se explica pela superexposição do esporte na mídia eletrônica, pois, antes mesmo do advento da TV paga,
São Paulo já derrubava a média
de público dos Nacionais. Uma
má vontade que se estende até
à seleção brasileira -ao menos
no papel, uma grande oportunidade de espetáculo.
A verdade é que, à medida
que o futebol consagrava no
país a fórmula baratinada do
mata-mata, o paulistano perdia
o humor, o prazer e, constata-se agora, o respeito pela bola.
Por isso, a desilusão copeira
do "Trio de Ferro" nas últimas
semanas pode servir a um saudável recomeço.
Restam a corintianos, são-paulinos e palmeirenses os longos meses do Brasileiro. Na Série A, por pontos corridos, toda
partida, todo fim de semana e,
em última instância, todo lance
importam, têm valor.
É uma ótima chance (a única?) para o torcedor se reeducar. Deixar de lado a preguiça
Massaranduba ("só-assisto-aos-melhores-momentos-e-só-vibro-quando-meu-time-ganha-um-título-ou-então-vou-dar-porrada") e, desarmado, retomar o gosto pela dinâmica, pela inteligência, pelo vigor do jogo de futebol.
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