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OLIMPÍADA
Empresa quer fomentar estrutura esportiva da ilha e, em troca, ajudar Brasil na preparação para o Pan-2007
Cuba regressa ao Brasil e aquece parceria
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Estamos regressando."
A voz áspera e enérgica que dá o
aviso é de um atarracado cubano
de 55 anos, que chegou ao Brasil
há pouco mais de um mês.
Sergio Rios Cruz foi nomeado
por Cuba para retomar uma estreita relação de cooperação na
área dos esportes com o Brasil.
Ele será incumbido de representar no país a Cubadeportes S.A.,
empresa exportadora de técnicos
e atletas da ilha caribenha.
O intercâmbio com Cuba já foi
intenso no Brasil, principalmente
na década de 90, mas decaiu vigorosamente nos últimos anos.
"Tivemos problemas burocráticos e ficamos sem representantes
aqui por dois anos. Mas chegou a
hora de voltar. O Brasil vai abrigar
um Pan-Americano em 2007, e
nossos profissionais têm muito a
oferecer", disse Cruz à Folha.
Cuba é uma das principais potências das modalidades ditas
amadoras. O país de 11,3 milhões
de habitantes amealhou 131 medalhas em Jogos Olímpicos desde
a revolução que levou Fidel Castro ao poder em 1959.
Como comparação, o Brasil,
mesmo disputando duas edições
a mais -Los Angeles-1994 e Seul-1988, que os cubanos boicotaram
por razões políticas-, esteve
minguadas 58 vezes no pódio
olímpico no mesmo período.
A iniciativa de retomar o escambo de esportistas não foi unilateral. Em 2002, o Comitê Olímpico
Brasileiro renovou um acordo de
cooperação com Cuba.
A principal sinalização de que
as portas estavam abertas, porém,
veio do novo governo. O ministro
do Esporte, Agnelo Queiroz, já
realizou dois contatos para demonstrar o interesse brasileiro
em aprimorar atletas locais através de especialistas cubanos.
O primeiro foi consumado com
o embaixador da ilha no Brasil,
George Lezcano, no primeiro mês
da gestão. A segunda reunião
ocorreu com Alberto Juanterana,
um dos interlocutores do governo
cubano na área esportiva.
Em ambas, Queiroz explicou
que gostaria de contar com preparadores físicos e treinadores
para subsidiar a preparação para
o Pan-Americano de 2007.
O Brasil, vale ressaltar, não é o
único beneficiado na parceria,
que assegura bons frutos para a
outra parte. Criada para autofinanciar o esporte local, a Cubadeportes é uma sociedade autônoma, mas tem ligação com o Inder
-Instituto Nacional de Desporte,
Educação Física e Recreação.
O funcionamento das negociações é simples. 75% dos salários
pagos aos cubanos pelos brasileiros, que variam entre US$ 300 e
US$ 1.500, voltam para a Cubadeportes. Parte fica para manutenção, e o restante vai para o fomento da estrutura esportiva.
A empresa já exporta para 33
países e quer fazer do Brasil um de
seus principais consortes.
"Podemos trazer gente qualificada em diversas modalidades.
Acho que, até o final deste ano, será possível ver 60, 70 cubanos trabalhando com equipes brasileiras", afirmou Cruz.
O esporte é um dos principais filões de marketing do governo de
Fidel, que enfrenta uma penosa
crise econômica. Até 1991, o único
país socialista da América Latina
contava com a ajuda da extinta
União Soviética. Agora, precisa
atrair investimentos com as próprias forças para estimular sua
produção esportiva.
A chegada de especialistas ao
Brasil via Cubadeportes começou
em 1992. Em média, 50 técnicos
por ano aportavam no país.
Após o término de seus contratos, muitos continuaram prestando serviços para agremiações locais -no boxe, na ginástica e em
outras modalidades-, mas já
desvinculados das obrigações
com a empresa. Hoje, a serviço da
Cubadeportes S.A., estão apenas
cinco treinadores, todos trabalhando com a Confederação Brasileira de Beisebol.
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