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ATENAS 2004
Com 1.210 horas para preencher, TV busca substitutos para astros do atletismo envolvidos com doping
Mídia americana corre à caça de heróis
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma vitrine enorme, cheia de
produtos de gosto duvidoso. A
solução, substituí-los por novas
marcas, algumas desconhecidas,
mas com potencial para agradar.
Essa é a situação da mídia americana a menos de um mês dos Jogos de Atenas -a festa de abertura acontece no dia 13 de agosto.
Nunca um evento esportivo recebeu tanta atenção da TV americana. Nunca, também, um evento
desse porte perdeu tantas estrelas
a tão pouco tempo do seu início.
Foram dois movimentos, quase
simultâneos. No dia 10 de junho, a
NBC, que detém os direitos de
transmissão para os EUA, anunciou a maior cobertura da história
olímpica: 1.210 horas, o equivalente a 50 dias ininterruptos de esportes no ar. É quase o triplo do
que a rede fez em Sydney-2000.
Para isso, utilizará seis canais.
Logo em seguida, o caso Balco,
que vinha se arrastando desde o
ano passado, explodiu. E, no dia
23, após acusar cinco atletas de
uso de substâncias proibidas, a
Usada, agência antidoping dos
EUA, fez o mesmo com Tim
Montgomery, recordista dos 100
m -coincidência ou não, ele não
passou na seletiva para Atenas.
Não parou por aí. A história do
Balco, laboratório que produzia o
esteróide THG, respingou em todo o atletismo americano. E em
Marion Jones, heroína americana
em Sydney, com cinco medalhas.
Para piorar, os EUA perderam,
entre outros, Kelli White, campeã
mundial dos 100 m e dos 200 m, e
podem ficar sem Torri Edwards,
segunda nos 100 m na seletiva.
Ambas caíram no antidoping.
Com tantos desfalques, com
Marion Jones em baixa e com
1.210 horas para preencher, a NBC
teve que redecorar a vitrine. "Vamos mudar nosso foco. Mostraremos outras coisas, em vez de
acompanhar todas as baterias dos
100 m e dos 200 m, por exemplo",
declarou Dick Ebersol, presidente
da rede, em uma teleconferência.
O grosso de suas fichas, agora,
vai para Michael Phelps, que tentará oito ouros na natação. A NBC
também vai desviar suas câmeras
do atletismo para a ginástica, a luta livre e os saltos ornamentais.
O mesmo acontecerá na mídia
impressa. "Estamos acompanhando de perto as seletivas do
atletismo para tentar descobrir
uma nova estrela. Mas acho que a
natação vai tomar o lugar de destaque em Atenas", explicou à Folha Brian Cazeneuve, editor da
"Sports Illustrated", principal revista de esportes dos EUA.
"O que esperamos, agora, é um
novo herói. Só não sabemos de
onde vai surgir", completou.
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