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O dono da bola
APÓS ENFRENTAR VÁRIAS LESÕES, BRASILEIRO SE FIRMA NO FUTEBOL CHINÊS E VIRA ÍDOLO DO CAMPEONATO LOCAL
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
"Tiya Ge" fez só duas partidas como profissional no Brasil. Foi no Paulista de 2000, pelo União Barbarense. Daí, quebrou o dedinho e, antes de voltar ao time, foi parar na China.
Hoje é camisa 9 do clube da capital, o Beijing Guoan. E ídolo.
É tema de reportagem na edição deste mês da "Beijinger",
revista mais pop da capital chinesa: "Ele se tornou algo como
um favorito da multidão desde
que mudou para Pequim, em
2007. Em sua primeira temporada, conseguiu assegurar o vice-campeonato na Superliga
chinesa, a melhor posição da
equipe desde a criação do campeonato, em 2004".
É, para os fãs chineses, "Tiya
Ge" -pronuncia-se "Tiagã".
"Eles não conseguem falar
meu nome", diz Tiago Jorge
Honório, 30, nascido em Americana, interior de São Paulo, e
que começou a jogar pelo clube
da cidade vizinha, a Santa Bárbara d'Oeste de César Cielo.
Enfrentou Rio Branco e
América, fez dois gols e então
quebrou o dedinho do pé direito ao pisar num buraco, num
treino. Ele ainda não sabia, mas
estava encerrada sua experiência no futebol brasileiro.
"Enquanto estava me recuperando, um empresário negociou com o clube pra me trazer
pra China. Mas quando cheguei
aqui não era nada do que ele tinha prometido. Não havia nada
acertado, só testes", conta.
Tiago passou duas semanas
no Chengdu Wuniu, da segunda divisão. Não ficou. Passou
duas semanas no Shanghai
Shenhua, da elite. Não ficou. O
próximo teste foi no Shenzhen
Ping'an, também da primeira
divisão. Ficou por quatro anos.
Até o fim da temporada de
2003, marcou 44 gols. No campeonato, o melhor resultado do
seu time foi o segundo lugar,
em 2002. E Tiago então achou
que era hora de mudar de ares.
E foi o que ele mais fez.
Primeiro, tentou o Japão.
Defendeu o Sanfrecce
Hiroshima, mas uma fratura
por estresse na canela o mandou para o Brasil. Ganhou um
pino de platina na perna esquerda, passou 2005 se recuperando e, em 2006, retornou à
China, no Shanghai United.
Por pouco tempo. Sofreu outra fratura por estresse, desta
vez na canela da perna direita, e
ganhou outro pino no Brasil.
Em 2007, foi parar no Beijing
Guoan mas logo voltou a sentir
dores. Foi para São Paulo, perdeu os pinos e voltou para a
China. Neste ano, enfim, faz
uma temporada completa. E
experimenta status de ídolo.
"Nunca tinha jogado num
clube grande. Agora estou sentindo como é isso. A imprensa
critica, cobra. Os torcedores
sempre pedem pra tirar foto."
Segundo ele, o futebol chinês
melhorou, mas ainda há muito
a fazer. "Ainda é um jogo de
muita força e pouca técnica.
Eles precisam fazer como o Japão e trazer uns jogadores conhecidos para divulgar o futebol. O problema é que a China
não se abre nem no futebol."
Segundo Tiago, alguns clubes
até tentam contratar técnicos
estrangeiros, mas mantêm chineses nas comissões técnicas
como uma espécie de controle.
"O treinador diz uma coisa, o
auxiliar vai lá e pede pra fazerem do jeito chinês", afirma.
O atacante também foi obrigado a fazer coisa parecida
quando estava no Shenzhen.
O técnico era chinês e ainda
havia um marroquino, um namíbio e um sérvio na equipe.
Para essa turma, o tradutor
convertia as instruções para o
inglês. Idioma que Tiago nem
sequer arranhava. "Aí, eu fazia
o que sabia, que dava na telha."
Outra barreira para o futebol
chinês é a corrupção motivada
por um vício no país, as apostas.
Acusações de compras de resultados já fizeram algumas
grandes empresas, Siemens e
Coca-Cola entre elas, desistirem de patrocínios vultosos.
Obstáculos que não incomodam. Tiago faz planos de continuar no país até o fim da carreira. "Primeiro quero garantir o
futuro dos meus filhos. Aqui,
tenho nome. O Brasil é ilusão."
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