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FUTEBOL
Má atuação da seleção
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Foi uma vitória enganosa. A
equipe jogou muito pior do
que contra Portugal e Iugoslávia.
De bom, somente um drible aqui,
outro ali do Denilson, dois lances
de habilidade do Ronaldinho
Gaúcho em dois gols, e, em alguns
poucos momentos, uma boa marcação por pressão.
Foi numa tomada de bola no
campo do adversário, que saiu o
segundo gol do Brasil.
Continuam os mesmos problemas. O principal é que há somente dois jogadores no meio campo.
Emerson e Kleberson estão sobrecarregados e limitam-se a marcar. Não há troca de passes entre
o meio campo e o ataque. Além
disso, sempre que a fraquíssima
seleção da Catalunha marcava
por pressão, tomava a bola com
facilidade.
Com Denilson atuando somente pela ponta esquerda, Ronaldo
ficou isolado na frente, pelo meio,
lento e sem inspiração. Não houve também jogadas ofensivas pela
direita. No segundo tempo, com a
saída dos dois Ronaldos e Denilson, o time ficou também sem
qualquer brilho individual.
Após o jogo, fiquei mais preocupado. O consolo foram as derrotas
da França e da Itália, duas candidatas ao título, para a Bélgica e a
República Tcheca.
Capitão e líder
Emerson será o capitão da seleção na Copa. O capitão é o representante dos jogadores. Geralmente é o mais sociável dos atletas. Quando encerra sua carreira,
tem emprego garantido como relações-públicas, gerente do clube
ou ainda de marqueteiro, no bom
sentido.
São funções do capitão: trocar
flâmulas e figurinhas com o capitão adversário, reivindicar melhores prêmios para os jogadores,
fazer discursos, saudações, escolher o lado do campo no início do
jogo e levantar a taça na final da
Copa. Para isso precisa ter estilo,
porte físico e posar bem para os
fotógrafos e câmeras de televisão.
Já imaginou o Dida e o Rivaldo
com as caras fechadas levantando a taça de campeão?
Algumas vezes o capitão é também o líder. Capitão é um só. Líder podem ser vários. Quanto
mais líderes, melhor. O líder é o
técnico em campo. Enxerga mais
do que os outros, orienta e dá
broncas. É respeitado e admirado
pelos companheiros. Quando a
bola pára, ele vai à lateral para
conversar com o técnico.
Nos últimos tempos, o líder foi
substituído pelo técnico. Esse, no
lugar de observar o jogo, calado
-como faz o Parreira-, fica gritando na lateral do campo, perturbando times, juízes e auxiliares. Os atletas não escutam nada.
Na Copa de 70, Carlos Alberto
Torres era o capitão e um dos líderes. Gerson era o principal líder. Ele discutia bastante os problemas do time, antes, durante e
após o jogo. Certo! Sempre depois
de uma frase, Gerson dizia: Certo!
Dunga era o capitão e líder nas
Copas de 90, 94 e 98. Ele não tinha
o talento dos grandes armadores,
mas era um bom volante, observador, um técnico em campo, admirado e respeitado pelos companheiros. Piazza também foi o capitão e líder do Cruzeiro nos anos
60. Difícil era convencê-lo a encerrar o discurso.
Emerson será bom líder e/ou capitão em 2002? Parece que sim. E,
se os atletas estiverem inspirados,
isso terá pouca importância.
Prêmio pelo título
Emerson, capitão da seleção,
conversou com o presidente da
CBF sobre os prêmios que os jogadores vão receber pelas vitórias e
pelo título. Nada mais corriqueiro. Isso não significa que os jogadores só pensam em dinheiro, como alguns disseram.
Quando a bola rola numa Copa, muito mais importante que o
prêmio é o orgulho, a vaidade, a
ambição, a alegria de jogar bem,
ser campeão e de corresponder à
expectativa de um país. Quem
nunca colocou a emoção na frente da razão e dos bens materiais
passou pela vida e não viveu, como diz o poeta.
É preciso também desmitificar a
idéia de que no passado os jogadores não pensavam nem falavam em prêmios. A única diferença é que os valores de hoje são
muito superiores.
Em 70, o capitão Carlos Alberto
Torres, em nome de todos os jogadores, discutiu com a CBD, antes
do Mundial, os prêmios pelas vitórias e pelo título. O mesmo
aconteceu em todas as Copas e
com todas seleções do mundo.
Reivindicar prêmios não é crime nem pecado.
Além do mais, a CBF vai arrecadar um bom dinheiro, e os atletas, estrelas do espetáculo, merecem ser bem remunerados. A confederação não pode é gastar mal e
mais do que arrecada.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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