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ATLETISMO
Organização esquece vara, e Murer fica fora do pódio
Brasileira erra saltos por falta de equipamento, encontrado na Vila
Bem abaixo de sua melhor marca, Fabiana Murer fica na 10ª posição na prova em que Yelena Isinbayeva é ouro e bate recorde mundial
DOS ENVIADOS A PEQUIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Na prova mais aguardada de
ontem -o salto com vara para
mulheres-, a organização dos
Jogos de Pequim cometeu uma
falha que prejudicou diretamente Fabiana Murer, 27, que
ficou fora do pódio.
No evento coroado pelo 24º
recorde mundial da carreira de
Yelena Isinbayeva, 26, a brasileira viu uma de suas varas desaparecer. O equipamento foi
encontrado pela saltadora em
um depósito na Vila Olímpica,
em meio ao material das não
classificadas para a final.
A vara esquecida era necessária para o salto a partir de 4,55
m até 4,70 m. Após passar pela
barreira de 4,45 m, a brasileira
foi procurá-la e não achou.
Desesperada com o sumiço,
fez reclamação para a arbitragem e até entrou na pista para
paralisar a competição.
"Estava nervosa com o sumiço. Sabia que ia chegar a minha
hora de saltar e estava sem a vara. Por isso entrei na frente e falei: "Pára a prova porque vocês
precisam achar a minha vara"."
Os juízes, porém, continuaram a disputa. O estafe de Murer tentou contornar o problema, sem sucesso.
"Estava com Vitaly Petrov
[treinador da Isinbayeva] e até
perguntei se ele tinha uma
igual. Mas ele não levou porque
a Yelena estava com outras
mais duras", contou o técnico
de Murer, Élson Miranda.
Sem o equipamento, Fabiana
desistiu de tentar saltar 4,55 m
após ouvir ordem de Miranda.
Partiu para os 4,65 m. Só que a
vara que utilizava era para alturas maiores do que essa.
Além disso, ela demonstrava
claros sinais de nervosismo, caminhando irritada pela pista.
E falhou nas três tentativas:
conseguiu ultrapassar o sarrafo, mas esbarrava nele em sua
descida, derrubando-o. Acabou
em décimo lugar na prova.
"Era uma vara essencial. Tinha que ter feito 4,55 m para
acertar a corrida. Essa com a
qual tentei 4,65 m foi a vara que
usei para saltar altura maior.
Não era a adequada", reclamou
Fabiana, bronze no Mundial
indoor de Valência, neste ano.
O Brasil fez um protesto formal ao Júri de Apelação, requerendo a anulação da prova. O
pedido acabou rejeitado.
Fato raro nas competições, o
esquecimento da vara não tinha como eclipsar o brilho de
Isinbayeva. A russa só foi saltar
com o sarrafo a 4,70 m, marca
que superou com facilidade.
Um pouco mais tarde, ultrapassou 4,85 m, já garantindo o
ouro. Depois de passar por 4,80
m, a norte-americana Jennifer
Szuczynsi (prata) falhou ao
tentar 4,90 m. Murer tem como
melhor marca salto igual ao que
obteve a segunda posição.
Com outras finais encerradas, Isinbayeva começou o
show. "Adoro essa hora em que
todas as atenções estão voltadas para mim. Me sinto uma
atriz", disse ela, que lamentou a
falta de sorte de Murer.
No terceiro salto, ela superou
a barreira de 4,95 m. A partir
daí, o alvo era ultrapassar sua
melhor marca, de 5,04 m.
Na terceira e última tentativa, Isinbayeva bateu o seu recorde mundial, com 5,05 m.
Fora do Ninho de Pássaro,
após a competição, Murer e seu
treinador encontrando a vara
na Vila Olímpica.
"Estávamos nos protegendo
da chuva, quando vimos umas
varas em um depósito. Olhamos um monte delas e estava
lá, entre as varas das desclassificadas", relatou Miranda. "O
garoto responsável não soube
explicar."
(ADALBERTO LEISTER FILHO, FÁBIO SEIXAS E RODRIGO MATTOS)
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