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Luxemburgo diz nunca ter feito nada de errado e culpa diretoria de Palmeiras e Corinthians por conflitos nos clubes
Técnico apaga passado e critica paulistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Wanderley Luxemburgo, 51,
diz que "amadureceu" no Cruzeiro. Nesta entrevista à Folha, o
treinador afirma que faltou respaldo das diretorias de Corinthians, em 2001, e Palmeiras, no
ano passado, a seu trabalho e não
esconde a decepção pela maneira
como deixou os clubes. "Eles não
acreditaram no meu projeto, o
Cruzeiro sim."
(EDUARDO ARRUDA)
Folha - Como é sua rotina em Belo
Horizonte?
Wanderley Luxemburgo - Eu levo
a rotina normal de futebol que
sempre tive. Aqui a rotina de vida
é mais tranquila. Temos menos
opções de ir de um lado pro outro,
você fica mais com os amigos, é
uma cidade mais acolhedora.
Folha - O que você mudou no seu
planejamento para disputar esse
torneio de pontos corridos?
Luxemburgo - Nesse tipo de
competição, você tem que entrar
já num percentual de 70% para cima. Todos os jogos são decisivos.
Não adianta você querer jogar
partidas decisivas do meio da
competição para a frente.
Folha - Você considera essa a fórmula ideal para o Brasileiro?
Luxemburgo - Não era contrário
aos pontos corridos, mas é que a
nossa cultura sempre foi a de finais. Só que, disputando a competição, você vê que ela é boa. E, se
for enxugada para 18, 20 clubes,
ela vai ficar muito boa. As duas divisões vão ficar fortes. E vai fazer
com que os clubes, em vez de se
acomodarem, se estruturem. Eles
vão ter que enxergar diferente.
Folha - Você acha que essa [organização] é a diferença do Cruzeiro
para os demais clubes?
Luxemburgo - O Cruzeiro se planejou para a competição. Nós temos um elenco versátil, com jogadores que atuam em mais de uma
posição. O Maldonado, por
exemplo, sabe jogar de volante e
zagueiro. O Maurinho joga de lateral e volante. Então você tem
um elenco equilibrado e versátil e
ainda tem a expectativa de usar os
juniores. Isso é fundamental num
campeonato de 46 jogos.
Folha - O que aconteceu para que
o Alex voltasse a jogar bem e se tornar o principal jogador da equipe?
Luxemburgo - O Alex viveu momentos de irregularidade na carreira, como qualquer outra pessoa. Agora direcionou a carreira
dele de novo. Veio para o Cruzeiro, e o clube deu a condição para
ele desenvolver o trabalho. Ele se
motivou a voltar para a seleção
brasileira. Nós fizemos um trabalho em que ele reduziu o percentual de gordura de 14% para 8,5%.
Mas, independentemente disso,
ele sempre foi talentoso.
Folha - Esse Cruzeiro é o melhor
time que você montou?
Luxemburgo - Não acho. Eu estou fazendo aquilo que eu sempre
fiz. O dirigente não é profissional
de futebol, ele é dirigente. Eu acho
que minha saída do Corinthians
foi em razão de eu ter feito aquela
reformulação no meio do ano, e o
time não deu aquela resposta
imediata no segundo semestre
[de 2001]. No ano seguinte, deu a
resposta. Aqui faço tudo que queria fazer no Corinthians, gerenciar o futebol com as outras pessoas. Contratar visando o custo/
benefício, investimento, projeção.
Folha - Você teve uma fase difícil
em 2001 no Corinthians e outra no
Palmeiras, no ano passado, antes
de acertar com o Cruzeiro. Você
achou que depois daquelas experiências sua carreira pudesse não
decolar mais?
Luxemburgo - Eu não achei, vocês [imprensa] acharam. Esqueceram que minha carreira era
vencedora. Para vocês, eu tenho
sempre que provar alguma coisa.
Como é que minha carreira iria
para baixo, se depois da minha
volta ao futebol, após aquela confusão todinha, que eu sempre disse que não passava nada a não ser
o Imposto de Renda, que já me
condenaram, mas estou com recurso no STF, fui campeão de
uma competição e vice de outra.
Folha - Mas você teve problemas.
Não foram saídas boas...
Luxemburgo - Eu não tive problema nenhum, não. Eu ter saído
do Palmeiras para ter vindo para
o Cruzeiro foi por opção profissional. Eu indiquei vários jogadores, o clube tinha condições de fazer, mas o presidente não quis fazer. Eu entendi que não ia avançar
mais do jeito que estava. Só eu iria
trabalhar, trabalhar, e não via
perspectiva para poder crescer
com o time do Palmeiras. Foi uma
opção profissional. Mas me apontaram como responsável por ter
colocado o Palmeiras na segunda
divisão e não viram como o clube
estava sendo conduzido.
Folha - Você tirou lições dessas
passagens turbulentas?
Luxemburgo - Eu não tirei lição
nenhuma, mas você vai amadurecendo. Eu sempre fui muito ético
nas minhas passagens pelos clubes, mas nem me deram satisfação por eu ter saído do Corinthians. Então me senti no direito
de achar que no dia em que tiver
proposta melhor eu tenho o direito de ir embora também.
Folha - Você ganhou os principais
torneios do país em grande quantidade, mas pouco conquistou no exterior. Há um trauma por isso?
Luxemburgo - Eu não tenho uma
Libertadores nem um Mundial
interclubes. Mas, se eu não ganhar a Libertadores, quer dizer
que sou um fracassado? Alguém
tem que ganhar. A Libertadores é
um torneio importante e vou trabalhar para ganhá-la, como estou
trabalhando para ganhar o Brasileiro. Eu não posso me sentir frustrado se não ganhar porque nem
todo mundo consegue ganhar.
Folha - O que significa para sua
carreira poder dar o primeiro título
brasileiro ao Cruzeiro e ser o único
técnico tetracampeão do torneio?
Luxemburgo - Na minha cabeça
não muda nada porque ainda estamos caminhando para ganhar
esse título. O mais importante é
ganhar. É assim que funciona.
Folha - Você ainda tem o sonho de
trabalhar na Europa?
Luxemburgo - O meu contrato
diz que, se aparecer um clube da
Europa em que possa desenvolver
o meu trabalho, existe uma cláusula me liberando. Para um clube
do Brasil, eu posso até sair, desde
que se pague uma multa. Mas para a Europa, não. Foi uma exigência minha e é algo interessante para a minha carreira.
Folha - E a seleção brasileira?
Luxemburgo - Não. Eu estou torcendo muito pelo Parreira, assim
como torcia para o Felipão.
Folha - Temos grandes clubes hoje
com salários atrasados. A crise financeira está afetando também as
equipes em campo. O que deveria
ser feito para mudar isso?
Luxemburgo - Eu acho que você
não começa a construir um prédio pelo 12º andar, mas, sim, pela
fundação. E a Lei Pelé começou
pelo 12º andar. Ficou muito mais
fácil tirar jogador do Brasil hoje.
Estamos perdendo jogadores até
para a Ucrânia. Temos de ter de
volta os investimentos de grandes
empresas, abrir novamente o
mercado do futebol para que possamos segurar por mais tempo os
melhores atletas aqui.
Folha - Você entrou no Refis?
Luxemburgo - Esse é o único
problema que tenho, e eu quero
zerar isso. Mas o Refis não foi feito
para mim. Eu estava discutindo
juridicamente com a Receita Federal a ação criminal e a fiscal. Eu
estava na Justiça, e o Refis veio para todo brasileiro que estava na
Justiça repensar. Podem vasculhar, buscar, virar de ponta cabeça, como fizeram com a minha vida todinha, que não vão achar nada. Eu nunca fiz nada de errado.
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