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ATENAS 2004
Antoine Jaoude, que começou a lutar durante conflito no Líbano, quebra jejum de 12 anos do país em Jogos
Guerra coloca brasileiro na luta olímpica
MARIANA LAJOLO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
A viagem de Tânia e Antoine estava programada para ser breve.
Com o pequeno Antoine de apenas seis meses em seus braços, a
idéia dela era visitar o sogro doente no Líbano e voltar para o Rio
em dois meses. No máximo.
Não foi o que aconteceu. O ano
era 1977, e o país estava sob cessar-fogo. Algum tempo depois de
instalado em Beirute, o casal foi
obrigado a adiar a viagem de volta
ao Brasil. A guerra civil, que teve
início em 1975, recomeçava.
Aeroportos foram fechados, e a
viagem que duraria dois meses se
prolongou por quase 13 anos.
Graças a essa mudança repentina na vida dos Jaoude, o Brasil vai
encerrar em Atenas um jejum de
12 anos em Jogos Olímpicos. Antoine Jaoude, hoje com 27 anos,
será o único representante do país
na luta livre, esporte que ele conheceu graças ao exílio forçado.
Seu primeiro contato com a luta, no entanto, foi tímido. "Comecei vendo pela TV. Lá, o esporte é
muito divulgado, aparece bastante", diz. "Achei legal e comecei a
brincar com os meus amigos."
Nada de sério até os Jaoude desembarcarem de volta no Brasil,
com algumas diferenças. Além de
mais três irmãos, o filho mais velho de Tânia e Antoine trouxe do
Líbano a paixão pelas lutas.
Uma de suas primeiras providências no Rio foi se matricular
em uma academia, onde praticava boxe-tailandês. "Foi lá que eu
conheci o Beto [Leitão, seu treinador até hoje] e comecei a treinar de verdade", afirma.
A parceria se transformou em
amizade, e hoje o lutador diz que
seu sucesso se deve, em grande
parte, ao treinador. "Ele sempre
foi importante para mim, me influenciou muito. O Beto sempre
confiou em mim e me ensinou a
ter responsabilidade", diz Jaoude.
A virada em sua carreira só
aconteceu em 1995, após a grande
decepção que sofreu nos Jogos
Pan-Americanos de Mar del Plata, na Argentina. "Era inexperiente, tinha 18 anos e quando vi, só
precisava ganhar uma luta para ir
para a Olimpíada de Atlanta, no
ano seguinte", explica.
"Perdi para um cara de 30 anos
e esse resultado me fez começar a
levar a luta mais a sério."
As desilusões, aliás, marcaram
boa parte da trajetória do lutador.
Em 1999, novamente em um Pan,
desta vez em Winnipeg, no Canadá, novo fracasso. "Perdi minha
última luta só por um ponto e por
isso não fui para a Olimpíada de
Sydney", lamenta ele, que chegou
a ficar 10 anos invicto no Brasil.
O começo da reviravolta não
poderia acontecer em outra competição. Veio em Santo Domingo,
no ano passado. Jaoude ganhou a
terceira medalha da luta para o
Brasil em Pans, a terceira de prata.
O resultado o igualou a seu treinador. Roberto Leitão conquistara a prata em Indianápolis, em
1987 -antes dele, só Antenor da
Silva, em Buenos Aires-1951.
A classificação para os Jogos de
Atenas foi sofrida. No Mundial
dos EUA, em 2003, Jaoude perdeu
a chance de assegurar a vaga na
categoria até 96 kg ao ser eliminado ainda nas oitavas-de-final. Nos
Pré-Olímpicos deste ano, mais resultados negativos: foi sexto na
Eslováquia e 16º na Bulgária.
Jaoude teve então que esperar a
classificação por índice técnico da
federação internacional.
"O suspense durou até que eles
concluíssem o ranqueamento, já
que dependiam do resultado dos
europeus. Fiquei eufórico", diz.
Na Grécia, acredita que seus
maiores rivais serão atletas de Belarus, Irã, Geórgia, EUA, Bulgária.
Sem patrocínio, Jaoude, que já
fez bicos como intérprete e guia
turístico por conhecer cinco idiomas -além do português, fala inglês, francês, árabe e espanhol, herança de sua infância- e ainda
luta vale-tudo, diz que não tem
grandes expectativas. "Vai ser difícil, mas eu vou para buscar medalha. Não quero fazer feio."
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