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"Deixei minha casa aos 6 anos"
Ex-atleta de ponta chinês narra como seu jogo foi aprimorado em centros de treinamentos estatais
Wei Jianren diz que não há queixas contra o modelo de trabalho e que o tênis de mesa é encarado como esporte coletivo na China
DA REPORTAGEM LOCAL
O dono da idéia de forjar mesa-tenistas brasileiros na China
não estranha o conceito de separar crianças da família e colocá-las numa realidade desconhecida. Talvez por ter vivido
justamente isso há meio século.
"Aos seis anos, fui separado
da família. E foi assim para o
resto da vida. Voltava uma vez
por ano, uma semana", conta
Wei Jianren, 55, coordenador
técnico da seleção brasileira.
Ele primeiro foi recrutado
por um centro de treinamento
municipal e, conforme evoluía
no tênis de mesa, passou ao CT
da Província, depois para o da
equipe nacional. Nas três esferas, sua rotina saía pouco do binômio treinos e estudo -praticamente o mesmo modelo a ser
seguido pelas crianças brasileiras que a CBTM quer mandar
para a China neste ano.
"Quem começa na China
com seis anos já é meio profissional nos CTs", resume o técnico, enfatizando não haver indisciplina contra o modelo, que
estipula entre 5 e 6 horas diárias de treino (físico e técnico).
"Quem entra nisso é muito
feliz. São muitas pessoas disputando essa vaga. Quem consegue entrar, segue 1.000% as regras. São poucas as chances para cada um, e na China tem um
monte de jogadores bons."
Uma das formas de enfrentar
as dificuldades, narra Wei, é
por meio da união com os colegas de treinos. "Os atletas têm
muita ajuda do governo. Até a
cueca vem com ajuda do governo. Assim, eles vivem juntos,
dormem juntos, comem juntos,
estudam juntos e treinam sempre juntos. Todo mundo vive
essa rotina, então é mais fácil se
acostumar. Mesmo para quem
treina mais longe de casa e nem
sequer consegue passar uma
semana na terra natal."
Essa vida em coletividade
traz reflexos também no estilo
chinês de treino, explica Wei.
O fato de a China ter uma
quantidade enorme de praticantes de alto nível possibilita
forjar sparrings altamente especializados para o treinamento dos principais nomes.
"A seleção nacional tem mais
de 50 pessoas para treinar cinco. Há parceiros especialistas
em ajuda em treino: um tem estilo europeu, meninos especialistas em treinar com garotas
para que elas melhorem...", diz
Wei, antes de explicar por que o
sistema não induz a uma fogueira de vaidades.
"Para o chinês, o tênis de mesa não é particular. Quem é da
seleção representa o país, então
tem que ajudar o país. Quem
não tem chance de ser o atleta
olímpico, faz sua parte nos treinos. Quando um jogador é campeão, ele sabe que abaixo dele
há um monte de pessoas. Ele
não sente "eu ganhei", mas que o
país conseguiu o troféu. É um
feito coletivo. Mais importante
é a equipe.
(LUÍS FERRARI)
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