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entrevista
Pioneira diz que colegas rapam cabeça
DA REPORTAGEM LOCAL
Kim Inokuchi, 16, tem o
tênis de mesa no sangue.
Seu pai, o maior entusiasta da empreitada na
China, foi o primeiro campeão dos Jogos Pan-Americanos que o Brasil fez na
modalidade (Caracas-83).
Por e-mail, ela conta sua
aventura na pátria do esporte e da Olimpíada.
(LF)
FOLHA - Como surgiu a idéia
de morar na China?
KIM INOKUCHI - Vir à China
sempre foi um dos meus
sonhos, poder treinar entre os melhores, jogar com
eles e ter as técnicas dos
melhores. Em princípio,
eu ficaria três meses, mas,
como eu me sinto muito
bem, resolvi ficar um ano.
FOLHA - Qual foi sua principal
dificuldade de adaptação?
KIM - Muitas, porque estou em um país que é completamente diferente do
meu, mas eu acho que a
pior dificuldade foi quando eu mudei de cidade e
vim morar sozinha. No começo, estava com duas
amigas, mas elas voltaram
ao Brasil. Depois fui para
um lugar onde não sabia a
língua e não conseguia me
comunicar direito.
FOLHA - Como se comunica?
KIM - Após sete meses, e
com aula todos os dias,
converso numa boa. Mas,
se falam muito rápido, não
entendo nada.
FOLHA - Qual a maior diferença entre uma brasileira e
uma chinesa da sua idade?
KIM - Pelo Brasil ser um
país, digamos, mais "aberto", acho que uma menina
da minha idade é muito
preocupada com vaidade,
escola, amigos, namorar. E
aqui uma menina que sonha de verdade com o tênis de mesa é mais focada
só nisso. Existem meninas
aqui que rapam o cabelo,
coisa que no Brasil uma
menina dessa idade jamais
faria. Mas, quando vim, já
sabia como eram todas as
meninas daqui, e cortei o
meu cabelo bem curtinho,
acho que surpreendi a todos e a mim mesma.
FOLHA - Sente falta de algum
tipo de luxo, incompatível com
um país comunista?
KIM - Eu tinha tudo o que
eu queria na minha casa, a
hora que eu quisesse. É
claro que eu sinto falta,
mas eu gosto de ser independente e correr atrás sozinha do que eu preciso.
FOLHA - Notou dedicação
profissional aos treinos, mesmo de crianças?
KIM - A disciplina é muito
grande, e isso me deixa
muito feliz. As famílias daqui são mais disciplinadas,
não são tão abertas como
as do Brasil, por serem
asiáticas. Treino todos os
dias, e o técnico não gosta
que fique reclamando na
mesa, ou que faça cara feia,
e isso eu fazia muito no
Brasil. Tive que mudar
completamente minha
postura. E de uma vez.
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