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Redução dos valores pagos por emissora expõe dependência das equipes
Depreciação do Brasileiro torna clubes reféns da TV
FÁBIO SOARES
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Começou a ruir o último pilar
de sustentação financeira do desorganizado futebol brasileiro.
O prestígio recuperado em
campo pelo pentacampeonato
mundial na Ásia não foi suficiente
para valorizar o produto no mercado. O Campeonato Brasileiro, a
competição mais importante do
rotulado "país do futebol", vale
cada vez menos.
A Rede Globo, dona dos direitos
de transmissão, irá pagar R$ 130
milhões para exibir a próxima
edição do torneio, que começa em
10 de agosto, R$ 98 milhões a menos do que o Clube dos 13 (associação que reúne os principais
clubes do país) esperava receber
quando negociava com a emissora em 1998. Para os times, reféns
das receitas dos direitos de TV, a
redução caiu como uma bomba.
O Flamengo, por exemplo, que
acumula uma dívida superior a
R$ 200 milhões, não vê como sair
do buraco. "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", constatou o presidente Gilberto Cardoso
Filho, que substitui Edmundo
Santos Silva, deposto do cargo no
dia 9. ""Se nós não aceitássemos a
proposta da Globo, perderíamos
nossa única fonte de renda."
E a dependência dos clubes em
relação à TV, no Brasil, é, de fato,
muito grande.
Segundo J. Hawilla, dono da
Traffic, a maior agência de marketing esportivo do Brasil e parceira da Rede Record, as receitas
de TV chegam a representar 80%
ou mais do faturamento de um
clube de futebol no país.
De acordo com a Pelé Pro, agência de marketing esportivo de Pelé, em média 61% das fontes de receita dos clubes brasileiros provêem dos direitos televisivos.
A desvalorização dos contratos
entre TVs e clubes é uma tendência mundial e, por isso, segundo
especialistas na área, deveria ter
sido prevista pelos dirigentes.
"Só os clubes daqui não se prepararam contra a dependência da
televisão. Os valores pagos bateram no teto e agora estão despencando", comentou J. Hawilla.
Depois de três reuniões entre os
dirigentes esportivos e a cúpula
da Globo Esportes, braço esportivo da emissora, de nada adiantou
a choradeira dos cartolas.
Dirigentes que participaram do
encontro na última segunda-feira, em São Paulo, revelaram à Folha que Marcelo Campos Pinto,
que comanda a Globo Esportes,
fez uma exposição para justificar
a necessidade de a empresa reduzir os custos com o pagamento
dos direitos de transmissão de
eventos esportivos.
Campos Pinto teria dito que,
mesmo pagando R$ 130 milhões
ao C13 pelo Brasileiro-2002, a
emissora terá prejuízo. Não deverá vender mais de R$ 70 milhões
em cotas de patrocínio.
Ele teria lembrado ainda que a
Globo Cabo, que administra a TV
a cabo, teve de pedir socorro ao
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para diminuir sua dívida,
que chegava a R$ 1,5 bilhão.
E disse mais: que, desde o início
do ano, cada departamento tem
de cumprir rigorosamente sua
meta de gastos -e com a Globo
Esportes não seria diferente.
Um dos casos citados por ele foi
o da Copa-2002. A Globo, que
comprou os direitos de transmissão do evento, ofereceu-os ao
mercado, mas nenhuma emissora
se interessou em pagar US$ 60
milhões para exibir o Mundial.
A audiência da Copa dos Campeões também desanima. Em
duas transmissões de jogos do
Corinthians no torneio, o time
mais popular de São Paulo, a Globo perdeu no Ibope para o SBT.
Para piorar um pouco mais a situação do C13, nenhuma outra
emissora de TV do Brasil se interessou em oferecer mais do que os
R$ 130 milhões da Globo, nem
mesmo a Record, que chegou a
ser cogitada pelos clubes.
Colaboraram Marília Ruiz,
da Reportagem Local, e
Sérgio Rangel, da Sucursal do Rio
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