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FUTEBOL
Sonho olímpico de Ronaldinho acaba na poltrona 49
Após derrota para Argentina, seleção viaja de classe econômica, no final das filas, para disputar bronze
No Rio, Ricardo Teixeira nem liga para Dunga na noite após fracasso, enquanto jogadores demonstram insatisfação com viagem
DO ENVIADO A XANGAI
O sonho do inédito ouro
olímpico virou uma melancólica viagem para disputar a medalha de bronze em Xangai.
Acostumada a badalação e a
mimos, a seleção viveu ontem
mais um dia de abandono e vida
de gente comum.
A não ser em aeroportos ou
aeronaves menores, ou quando
não há lugar nas classes mais
nobres, o time costuma viajar
de executiva. Quando vai de
econômica, os atletas ocupam
as primeiras filas, separados de
outros passageiros.
Não foi o que aconteceu ontem no vôo para Xangai, em um
Airbus 330 da companhia Air
China, com capacidade para
cerca de 300 passageiros e muitos lugares na executiva.
Mesmo com vários lugares
vazios, toda a seleção ficou nas
últimas fileiras, aquelas bem
perto do banheiro. Ronaldinho
-sem falar com ninguém durante as quase duas horas de
viagem e com a mesma cara de
choro após a derrota para a Argentina- foi acomodado na fila
49, ao lado de um fotógrafo e de
um repórter. Dunga ficou ainda
mais atrás, na 54.
Os jogadores embarcaram
depois dos demais passageiros
e não gostaram do que viram. O
volante Anderson disse que logo eles estariam para fora do
avião. Outros afirmaram que,
em seguida, a seleção iria viajar
de ônibus na Olimpíada. Muitos reclamaram da disputa pelo
bronze ser em Xangai, a quase
1.500 quilômetros de Pequim.
Com caras de sono, os jogadores improvisavam uma posição para dormir. Anderson passou mais da metade do vôo deitado no chão, na frente dos
bancos ocupados por Alexandre Pato e por Hernanes.
O volante são-paulino sentia
dores na perna e foi atendido
dentro do avião, na frente de
outros passageiros, pelo médico Rodrigo Lasmar, que fez um
curativo nele. Ainda foi preciso
tratar o zagueiro Thiago Silva,
que soltava pus de ferimento.
No desembarque, os pedidos
de autógrafo e fotos para Ronaldinho não foram tão grandes como em outras escalas na
China. Mas o meia-atacante se
isolou em um canto e, desta vez,
ignorou quase todos os fãs.
No avião, jogadores ouvidos
pela Folha não apontaram o
jeito econômico de viajar como
motivo da derrota para a Argentina. "Não foi isso que fez a
gente perder", disse Hernanes.
Na noite após o fracasso,
Dunga não recebeu uma ligação de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, seja para dar
apoio ou para cobrar.
Enquanto o treinador e os jogadores viviam a ressaca da
derrota, o cartola recebia, na
CBF, no Rio, uma delegação de
Santa Catarina para mostrar
seu projeto para a Copa-2014.
A seleção joga amanhã, às 8h,
contra a Bélgica, a disputa pelo
bronze, mesma posição que
conquistou nos Jogos de Atlanta-1996.
(PAULO COBOS)
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