|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
South American-European Cup
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mundial interclubes, Copa Intercontinental, Copa
Toyota ou European-South American Cup, como queiram, sobrevive com uma curiosa realidade.
Não é uma disputa entre o técnico futebol sul-americano e o robotizado futebol europeu, como
diriam os mais antigos. Até porque os grandes da Europa têm os
principais talentos sul-americanos. A questão maior que envolve
o jogo no Japão nos últimos anos
é como continentes com situações
financeiras tão diferentes podem
se equilibrar em campo.
Especialmente a partir dos anos
90, seleções passaram a representar o velho continente com a camisa de um clube, em campo neutro, contra uma aguerrida equipe
cheia de limitações que leva a
bandeira da América do Sul. Nos
anos 60, tinha um Santos de Pelé
para fazer frente aos europeus.
Nos anos 70, havia antiesportividade para complicar a vida dos
"gringos" ricos. A idéia do jogo
único do outro lado do mundo favorece os mais poderosos, mas
não foi isso o que se viu na década
de 80, quando ainda não tinha
aparecido claramente o clube-seleção (o Milan de 89 e 90 começou
a consolidar esse modelo de esquadrão multinacional moldado
no capitalismo selvagem).
A partir dos anos 90, só times
dos geniais Telê Santana e Carlos
Bianchi neutralizaram o favoritismo europeu. Esses cinco títulos
(dois do São Paulo, um do Vélez
Sarsfield e dois do Boca Juniors)
mantiveram a América do Sul na
frente em vitórias (22 a 20) e igualada em território japonês (12 a
12), uma grande façanha.
O salário de Inzaghi, reserva na
decisão de domingo passado devido a uma contusão, é quase o salário de todo o Boca. Enquanto o
campeão da Copa América ganhará US$ 1 milhão, o último colocado da Eurocopa embolsará
mais de US$ 5 mi. Em época de
crise financeira no futebol internacional, o Chelsea, que não integra o grupo dos mais poderosos
da Europa, quer pagar 85 mi
por Van Nistelrooy, o que seria a
maior transação da história. Beckham, só a última estrela do Real
Madrid, figura em terceiro lugar
na lista dos esportistas mais bem
pagos de 2003, algo impensável
até pouco tempo para um jogador
de futebol (lucrou 28,6 mi). E o
clube campeão mundial não consegue impedir que Battaglia vá
jogar no Villareal, modesto time
que já desfruta de Riquelme.
Foi sorteada a maior e mais pobre Libertadores dos últimos tempos. O campeão fatura praticamente US$ 2 milhões (menos da
metade do que a extinta Copa
Mercosul ensaiou pagar). Agora
quanto vale ir ao Japão com as
duas mãos atrás e derrotar as milionárias celebridades européias?
Fazendo comercial de graça, isso
não tem preço. O título de campeão do mundo é válido e parece
até pouco.
A América do Sul tem uma capacidade futebolística inigualável. Como o Mundial sub-17, o
Mundial sub-20 viu três países do
continente nas semifinais. Não há
estrutura decente, a bagunça impera, os piores dirigentes estão
aqui, mas os resultados são fantásticos. O futebol expõe cada vez
mais um rosto latino, mas, na essência, latino-sul-americano.
América do Sul
Libertadores é sempre bacana, mas haverá confusão na última rodada da primeira fase. Com esse novo sistema de nove grupos, ridículo,
alguns times serão lesados na luta pela classificação quando dependerem de outros resultados, já que concorrentes não jogarão no mesmo horário. E em 2005 serão 37 clubes na competição continental.
Os dirigentes sul-americanos são até mais criativos que os jogadores
do continente.
Europa
O Manchester United contratou Lee Martin, jogador de só 16 anos
que atuava no Wimbledon, por quase 1,4 milhão de euros. Enquanto isso, a
Conmebol anunciou com pompa que o time campeão do Pré-Olímpico do Chile ganhará US$ 90 mil.
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
Texto Anterior: Memória: Popular desde os anos 30, esporte revelou craques Próximo Texto: Judô: Nova seletiva minimiza efeito do mau dia Índice
|