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ATLETISMO
Absoluto por quase 10 anos, americano vê declínio de sua prova e diz à Folha que meta é disputar seletiva olímpica
Moses volta para superar barreiras aos 48
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A disputa dos 400 m com barreiras do GP de Berlim, em 1977,
parecia ser igual a tantas outras
das quais Edwin Moses já participara. Não foi. Nove dias antes de
completar 22 anos, o norte-americano, que seria o maior nome da
história daquela prova, foi surpreendido por Harald Schmid.
"Me prometi que não voltaria a
perder tão cedo. Tenho instinto
assassino. Quando estou na pista,
quero vencer sempre", diz Moses,
que manteve a supremacia na
prova por cabalísticos nove anos,
nove meses e nove dias.
Nesse período, o velocista demonstrou a mesma confiança que
o levou, aos 48 anos, a anunciar
seu retorno às competições.
"Queria voltar para correr como
veterano. De um ponto de vista
conservador, creio que já possa
competir em fevereiro ou março.
É preciso cinco ou seis meses de
adaptação", disse Moses à Folha.
Para se aproximar dos melhores
em uma idade em que a maioria
dos atletas só vai à pista para assistir à performance de seus pupilos, Moses segue uma rotina bastante rígida de exercícios.
"Faço duas ou três sessões diárias. Tenho que ser cada vez mais
consistente", afirma, incisivo.
Seu objetivo é completar a prova em 50s50 -quando recomeçou a treinar estava correndo a
distância em 52s. Tempo ruim?
No Mundial de Paris, disputado
em agosto, com essa marca, Moses teria se tornado o sétimo atleta
mais veloz do planeta na prova. E
enfrentando competidores com
idade para ser seus filhos.
"Eu ficaria chocado se os barreiristas dos EUA me permitissem
conseguir um lugar na equipe
olímpica. Meu objetivo é modesto, mas quero fazer esse tempo
para participar das seletivas."
Com a decadência de sua prova,
essa fantasia não parece tão distante da realidade. Os tempos estão fracos em relação ao auge da
prova, no fim dos anos 80.
Naquela época, ele fez duelos
empolgantes contra os compatriotas Andre Phillips, ouro nos
Jogos de Seul-88, e Kevin Young,
dono do recorde mundial obtido
em Barcelona-92 (46s78). Young
é o único homem que conseguiu
cumprir o percurso dos 400 m
com barreiras em menos de 47s.
Moses lamenta que ninguém
mais se aproxime daqueles feitos.
As críticas sobram até para o dominicano Félix Sánchez, campeão
nos dois últimos Mundiais (Edmonton-01 e Paris-03). "Ele mostrou que tem consistência. Mas as
marcas que o Sánchez faz hoje eu
já fazia vinte anos atrás."
Expansivo, o velocista só fica reticente quando questionado sobre os recentes escândalos de doping que macularam os EUA. Um
dos atingidos foi justamente Phillips, que confessou ser fã de Moses antes de superá-lo em Seul.
"Isso eu não comento."
Indiretamente, porém, admite
que seus companheiros podem
ter usado drogas no passado.
"Com o doping, muitos atletas
medianos foram bem-sucedidos.
Mas, se você minimizar isso, verá
performances normais, como as
de hoje, com marcas iguais às de
10 ou 14 anos atrás", analisa.
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