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FUTEBOL
O melhor Mundial do mundo ou nada
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fifa demorou cem anos para desenhar um Mundial de
clubes decente. E a demora pode
ter um alto preço para o futebol.
Tão simples quanto bacana era
pegar os campeões de cada confederação, no ano em que esses ostentam seus títulos continentais, e
reuni-los em um lugar interessante, por poucos dias, dando um caminhão de dinheiro a todos.
A Fifa deixou o Real Madrid de
Di Stéfano e Puskas, o Santos de
Pelé, o Benfica de Eusébio, o Peñarol de Spencer, a Inter de Herrera, o Ajax de Cruyff, o Bayern
de Beckenbauer, o Flamengo de
Zico, a Juventus de Platini, o Milan de Gullit e Van Basten, o São
Paulo de Telê, o Boca Juniors de
Bianchi e o Real Madrid de Zidane e Ronaldo, entre outros, disputarem confrontos épicos nos últimos 44 anos pelo título simbólico
de melhor equipe do mundo sem
que ela entrasse de cabeça na disputa (pelos times citados, ela perdeu "só" um pouco da história).
Não apenas a América do Sul e
a Europa se acostumaram a ver o
embate entre as duas regiões mais
potentes da bola. Cada vez mais o
planeta parava para seguir a Copa Europa-América do Sul, o tal
Mundial interclubes no Japão.
O verbo parar foi usado acima
no passado porque foi esse o tempo verbal que a Fifa usou para
anunciar o suposto fim da tradicional disputa intercontinental
como ela vem sendo jogada.
"Este torneio [Mundial de Clubes] ampliará a estrutura da Copa Toyota, torneio que confrontava nos finais de ano em Tóquio o
ganhador da Copa dos Campeões
e o vencedor da Libertadores."
Esse parágrafo da Fifa erra ao
dizer "confrontava" porque pelo
menos neste ano ainda haverá
Mundial interclubes. Erra ao citar apenas Tóquio porque houve
disputas na América do Sul e na
Europa e também em Yokohama.
O maior dos erros, porém, foi
avançar o sinal. Conmebol e Uefa
costuraram o atraente duelo entre seus campeões quando a Copa
do Mundo também era praticamente restrita a dois continentes.
Firmaram contratos que garantiram o Mundial interclubes no rico Japão por mais de 20 anos, sem
interrupção da disputa mesmo
em época de crise, de quebra de
agências de marketing, de neve...
Com o mínimo de diálogo e o
máximo de grana, o campeão europeu e o campeão sul-americano
aceitarão o novo formato de
Mundial da Fifa. Até porque a
entidade máxima da bola abraçou o que era viável e valorizado.
Se for mesmo ratificado o novo
torneio, o Mundial de Clubes será
o primeiro e único Mundial organizado pela Fifa que será anual,
algo impensável até a última semana. Para quem não dava muita bola até o final do século 20 para os clubes (oficialmente), é uma
mudança de direção radical.
Com discurso de "solidarismo",
o presidente da Fifa deu a cartada
final para manter vivo seu Mundial (os outros foram de outros
presidentes). A solidariedade de
Blatter, porém, soou como apropriação indébita para a Conmebol e para muitos. A Fifa tomou
para si o Mundial interclubes.
É cruz ou espada. Teremos em
2005 o Mundial de clubes mais
politicamente correto da história
ou talvez não tenhamos Mundial.
A melhor Copa dos Campeões!
O formato atual é bem bom. Os mais poderosos fazem menos jogos
para ficar com o título, e há mais partidas emocionantes. As oitavas-de-final, fase que não existia, começam na terça-feira. Show!
A melhor Libertadores?
O formato atual é bem estranho. Na última rodada da fase de classificação, como os vices dos grupos dependem de outras chaves e os jogos não serão no mesmo dia e no mesmo horário, pode ter mutreta
ou, no mínimo, time levando vantagem por causa da tabela. Argh!
O melhor Mundial de futsal...
O futebol de salão teve Mundiais, e bons, antes de 1989, quando a Fifa
abraçou a modalidade. E ela não dá o Brasil como pentacampeão.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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