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Poderio e verba dos EUA são questionados no COI
Partilha de receitas olímpicas opõe americanos a outros dirigentes do comitê
Foco da polêmica é acordo, celebrado há 20 anos, que dá aos EUA 75% da soma das receitas conjuntas de todos os demais países do comitê
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como ocorre na economia global, o poderio dos
EUA começa a ser questionado
dentro do mundo olímpico.
Uma briga dentro do COI (Comitê Olímpico Internacional)
opõe norte-americanos a dirigentes de outros países na entidade por conta da distribuição
das receitas dos Jogos.
O centro da discórdia é o fato
de o Usoc (Comitê Olímpico
dos EUA) receber do COI,
atualmente, montante em torno de três quartos do valor de
todas os outras associações nacionais juntas. Isso é fruto de
acordo realizado há 20 anos.
Mas dirigentes europeus alegam que, assim como ocorreu
no mercado globalizado, os
EUA perderam em representatividade no mundo olímpico
nos últimos anos.
Em 1988, ano do acordo
atual, as TV norte-americanas
representavam 74,4% do total
arrecadado com direitos de
transmissão pelos Jogos Olímpicos. Até então, a fatia das
emissoras do país sobre os Jogos era crescente desde 1960,
quando começaram a ser vendidos os direitos de transmissão do evento multiesportivo.
Mas isso mudou nos anos seguintes. Os EUA contribuirão
com pouco mais da metade do
total amealhado pelo COI com
as redes do mundo para os Jogos de Pequim, que começam
em 8 de agosto.
O mesmo ocorreu no marketing. Antes, a totalidade dos patrocinadores principais era
norte-americana. Agora, entre
os parceiros figuram empresas
como a Samsung (sul-coreana)
e a Atos Origin (européia).
Isso levou os dirigentes europeus a questionarem o contrato
atual. Segundo seus termos,
20% das receitas de marketing
e 13% das taxas das TVs dos
EUA são repassados ao Usoc.
Esse montante chegará a
US$ 311 milhões no quadriênio
de 2005 a 2008. O valor girava
em torno de US$ 235 milhões
para a Olimpíada anterior.
Naquele período, todos os
outros Comitês Olímpicos Nacionais ganharam US$ 319 milhões das receitas totais.
"É uma imoral quantidade de
dinheiro em relação ao que os
outros ganham", afirmou o holandês Hein Verbruggen, membro do COI, após reunião da entidade no início deste ano.
Já Dennis Oswald, membro
da executiva do comitê, escreveu carta aos colegas dizendo
que, na realidade atual, não era
mais "moralmente aceitável" o
dinheiro recebido pelos EUA.
A declaração do suíço demonstra como explodiu o barril
de pólvora dessa discussão, que
se arrastava por quatro anos.
Tanto que foi formada uma
comissão do COI para negociar
com os norte-americanos uma
redução de sua fatia, o que só
valeria a partir de 2020.
Antes dessa data, os europeus desejam que, pelo menos,
o Usoc pague taxas anuais para
a manutenção da Wada (a
agência mundial antidoping) e
do CAS (tribunal esportivo). Há
uma reunião marcada para bater o martelo sobre o assunto,
em Pequim, durante a realização dos Jogos Olímpicos.
Embora admitam discutir o
assunto, os norte-americanos
não se mostram dispostos a reduzir sua fatia no bolo. E reclamam de seus adversários os
chamarem de imorais.
"Nós já dissemos que vamos
dividir mais se aumentarmos a
torta", afirmou o presidente do
Usoc, Peter Ueberroth. "Se
mantivermos a torta parada ou
diminuí-la, ficaremos discutindo pequenos percentuais. Isso
não fará bem a ninguém. A torta pode ser dobrada."
A Folha procurou o COI e o
Usoc para dar mais detalhes sobre o assunto, mas não recebeu
respostas até o fechamento
desta edição.
(RODRIGO MATTOS)
Com agências internacionais
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