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VELA
Último brasileiro a triunfar em Olimpíadas tenta hoje também virar maior da história
Brasil busca 1º ouro após 2.944 dias, e Scheidt fala no 'prazer do barquinho'
DO ENVIADO A ATENAS
A grande batalha aconteceu antes da Olimpíada. Robert Scheidt
precisou superar outro brasileiro
campeão mundial da classe laser,
Peter Tanscheidt, para obter seu
lugar nos Jogos de 1996.
Ambos sabiam que daquela disputa sairia o favorito ao ouro
olímpico. O vaticínio se cumpriu.
Em 31 de julho, Scheidt triunfou
na disputa e subiu ao degrau mais
alto do pódio em Atlanta.
Desde aquele tarde, 2.944 dias se
passaram. Nunca mais o hino nacional foi tocado nos Jogos. Ao
menos até hoje, quando o mesmo
Scheidt reaparece em situação
privilegiada na disputa pelo topo.
Com um nono lugar na derradeira regata, ele já leva a medalha
de ouro. O enredo da história,
contudo, agora é diferente e impede a sensação de déjà vu.
Nesses oito anos, o esporte brasileiro, a classe laser e até sua vida
foram completamente transformadas. "É difícil comparar, porque são épocas muito distintas.
Uma coisa posso afirmar que segue inalterada: é o prazer que sinto em pegar o meu barquinho e
treinar", conta.
A primeira alteração está na
conta bancária. Pouco antes do
primeiro ouro, ele titubeava entre
seguir a carreira no esporte ou
exercer a profissão na qual acabara de se graduar -administração,
pelo Mackenzie, em São Paulo.
Hoje, recebe de cinco patrocinadores. Prosperou no aspecto financeiro, assim como todas as
modalidades do Brasil.
Desde 2001, o Comitê Olímpico
Brasileiro recebe recursos públicos para investir no esporte. A
verba vem da Lei Piva, que só no
ano passado rendeu quase R$ 50
milhões à entidade. Em Atlanta-1996, na primeira Olimpíada da
gestão Carlos Arthur Nuzman no
COB, os recursos eram bem mais
escassos -o comitê custeou a
presença do país nos Jogos com
R$ 3 milhões.
Mas havia também menos pressão pela conquista de um ouro. O
fim do incômodo jejum está novamente nas mãos de Scheidt.
Tudo porque em Sydney-2000,
todas as estrelas tombaram - inclusive ele, que sucumbiu na disputa com o inglês Ben Ainslie.
Na época, o atleta nem de longe
ostentava a hegemonia que hoje
impressiona os rivais. Desde 1995,
sete títulos mundiais foram conquistados. Em 2004, venceu nove
torneios realizados na laser.
"É complicado. Se eu perder,
vão me criticar. Se ganhar, dirão
que não fiz mais que minha obrigação." Assim, o velejador sabe
que a conquista em Atenas será a
mais importante de sua carreira.
Toda a trajetória, agora, volta à
tona. Na infância, o paulistano
Scheidt praticou tênis no Banespa
e no Pinheiros. Chegou à vela por
intermédio do pai, Fritz, habitué
do Yacht Club de Santo Amaro.
Seguiram as primeiras aulas
com o técnico Dudu Melchert, o
título sul-americano aos 11 anos, o
respeito conquistado pelo garimpo de troféus e as críticas de outros velejadores questionando o
fato de ele ainda não ter provado o
valor em outras classes.
Hoje, pode se tornar o maior
atleta olímpico brasileiro da história. Com dois ouros e uma prata, deixaria o bicampeão Adhemar Ferreira da Silva para trás.
"Prefiro não pensar em tudo isso. Ainda não ganhei nada." Ainda não. Mas, naquela tarde de
1996, nunca imaginou que iria tão
longe.
(GUILHERME ROSEGUINI)
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