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NATAÇÃO
Trinta anos após conquistar sete ouros em Munique, americano não vê outro atleta capaz de igualar seu feito
"Ninguém alcança meu recorde", diz Spitz
Associated Press - 3.set.72
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Mark Spitz |
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um pretensioso norte-americano de 18 anos chegou aos Jogos da
Cidade do México, em 1968, proclamando-se candidato a seis medalhas de ouro. Voltou para casa
com apenas duas, ambas obtidas
em provas de revezamento.
Mas não desanimou. Manteve o
nariz empinado e, quatro anos
mais tarde, em Munique, na Alemanha, prometeu que subiria sete
vezes ao lugar mais alto do pódio.
Dessa vez, contudo, Mark Spitz
cumpriu sua profecia. Pulverizou
sete recordes mundiais, na mais
avassaladora performance de um
atleta em toda a história olímpica.
De lá para cá, 30 anos se passaram, e o esporte evoluiu. Mesmo
assim, ninguém chegou sequer a
igualar o seu recorde. "E, francamente, ainda não vejo nenhum
competidor capaz de atingir a minha marca", contou Spitz à Folha.
A justificativa para sua tese vem
de um exemplo pessoal. "Vejo alguns atletas dizendo que podem
ganhar sete ouros em Atenas-2004 e me lembro de 1968. No México, eu queria ganhar seis ouros,
mas nunca havia treinado para isso", diz o ex-atleta de 52 anos.
Spitz aprendeu a lição. No ano
seguinte aos Jogos, em 1969, tentou vencer duas provas individuais em cada torneio que disputou. Em 1970 e 1971, passou a buscar três medalhas douradas por
evento. Assim, chegou ao ano
olímpico pronto para garimpar
quatro ouros individuais.
"Esse é o segredo. Me preparei
durante muito tempo para ganhar quatro eventos individuais
em 1972 [os outros três ouros vieram de revezamentos". Ninguém
faz isso nos dias de hoje", explica.
Após os Jogos de Munique, apenas dois atletas conseguiram resvalar na performance de Spitz.
Na Olimpíada de 1992, em Barcelona, o ginasta Vitaly Sherbo
(BLR) amealhou seis ouros. A
mesma marca foi registrada pela
nadadora Kristin Otto, da Alemanha Oriental, em Seul-1988.
É das piscinas, aliás, que surge o
principal candidato ao posto de
"novo Mark Spitz": Ian Thorpe,
20, dono de 18 marcas mundiais.
"Mesmo que Thorpe consiga
obter quatro medalhas de ouro
individualmente, vai depender de
seus companheiros nos revezamentos. Acho que a Austrália não
vence os EUA nas três provas coletivas", pondera o ex-nadador.
Ganhar ou ganhar
A dedicação aos treinamentos
pode ter ajudado, mas era na hora
de competir que Spitz conseguia
se distinguir dos demais atletas.
"Eu adorava uma boa disputa. Sabia que era um vencedor", conta.
A obsessão pela vitória é uma
influência do pai, Arnold. Foi ele
quem ensinou Mark a dar as primeiras braçadas em Honolulu, no
Havaí, onde o nadador morou
com a família até a adolescência.
"No dia das competições, ele me
acordava e dizia: "Filho, você treinou muito para chegar até aqui.
Ninguém foi derrotado ainda. Faça o possível para não ser você"."
Spitz fazia. E, na maioria das vezes, conseguia. Com dez anos, já
era dono de 17 recordes nacionais
americanos em sua faixa etária.
"Foi assim a vida toda. Se eu
continuasse nadando após Munique, poderia chegar à Olimpíada
de Montréal [1976] em condições
de ganhar sete ouros novamente."
Mas Spitz preferiu aproveitar a
fama conquistada com a performance na Alemanha. "Precisava
abandonar os treinamentos e ganhar dinheiro", recorda ele.
A aposentadoria, porém, foi interrompida após 18 anos. Em
1990, ele retornou às piscinas -
pleiteava uma vaga no time dos
EUA que disputaria os Jogos-92.
"Fiquei muito tempo afastado.
Já tinha esquecido como competir. Acabei fracassando", lembra.
Spitz não se classificou para a
Olimpíada, mas percebeu que
não precisava provar mais nada a
ninguém. Deixou as piscinas com
nove ouros olímpicos e 24 recordes mundiais no currículo.
Hoje, além de cuidar de sua empresa de investimentos, viaja o
mundo ministrando palestras de
motivação. "E, de vez em quando,
participo de alguns pequenos torneios. Ainda gosto de desafios."
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