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FUTEBOL
O melhor do mundo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Ronaldo ganhou 11 prêmios
no ano. Só não levou o que
mais merecia, o de melhor jogador da Copa do Mundo. Algumas
pessoas ainda insistem em dizer
que ele não é tão bom assim e que
seria mais um produto de marketing. Ronaldo é um fenômeno nos
campos, o melhor jogador do
mundo quando está em forma. O
marketing corre atrás e paralelo
ao craque.
Se não fossem os graves problemas e as cirurgias no joelho, Ronaldo seria hoje ainda melhor.
Ele e Romário são os dois melhores centroavantes do mundo que
vi atuar. Romário foi mais genial,
e Ronaldo reúne um número
maior de qualidades técnicas e
atléticas. Não sei quem foi o melhor. Os dois estão na pequena lista dos maiores atletas da história
do futebol brasileiro e mundial.
Além das qualidades técnicas,
Ronaldo mostrou na sua recuperação muita garra, disciplina, coragem e obstinação. Havia entre
torcedores, jornalistas e especialistas médicos uma grande dúvida se ele se recuperaria totalmente. Medicina não é ciência exata.
Ninguém poderia garantir uma
coisa ou outra. Felizmente, ele se
recuperou no momento certo.
Ronaldo tem jogado pouco nos
últimos anos, como está acontecendo no Real Madrid. Imagino
que ele continuará sendo poupado de muitos jogos. Como disse
José Geraldo Couto, Ronaldo está
se tornando um fenômeno somente dos acontecimentos mais
importantes do futebol.
Escrevi várias vezes antes do
Mundial que a seleção só ganharia o título se Roberto Carlos, Ronaldo e Rivaldo estivessem em
boas condições durante a Copa.
Rivaldo e Roberto Carlos ainda
poderiam ser bem substituídos. Se
o Luizão tivesse atuado no lugar
do Ronaldo, o Brasil teria enormes dificuldades de ganhar, mesmo de seleções medianas como
Turquia, Bélgica e Alemanha.
Antes do jogo final da Copa, escrevi que sonhara que o Ronaldo
brilharia, faria um belíssimo gol e
que o Brasil seria campeão.
Quando voltei da Coréia do Sul,
um leitor me perguntou se tinha
sonhado acordado ou dormindo.
Sonhei acordado.
O título e uma grande atuação
seriam a desforra definitiva do
Ronaldo após os acontecimentos
da final de 98. Nos treinos e na
concentração durante a Copa-2002, percebia nele um jogador
iluminado, predestinado e consciente da grande oportunidade.
Ele não falharia duas vezes.
Escrevi que sonhara porque não
tive coragem de garantir que o
Ronaldo seria o herói do título.
Como o futebol é imprevisível, se
desse errado, me tornaria um vidente fracassado.
Melhor do ano
Quando escrevi há mais ou menos um mês que o Roberto Carlos
deveria ser escolhido o melhor do
ano pela Fifa, recebi muitas críticas. Um leitor disse que eu estava
ficando louco. Em alguns momentos tenho vontade de cometer
uma loucura, mas ainda não tive
coragem. Somos escravos da consciência.
Houve também alguns poucos
que concordaram comigo, como
Galvão Bueno e Falcão durante a
transmissão do jogo do Brasil
contra a Coréia do Sul. São duas
opiniões respeitadas. Galvão Bueno e Milton Leite, da ESPN Brasil,
são dos raros locutores que conseguem narrar um jogo em alta velocidade e ainda perceber todos os
detalhes técnicos e táticos.
Evidentemente que Roberto
Carlos não é o melhor jogador do
mundo, como Figo não é e foi merecidamente escolhido o melhor
em 2001. O melhor jogador do
mundo é o Ronaldo, seguido do
Zidane. Mas, neste ano, os dois e o
Rivaldo brilharam pouco tempo.
Ronaldo e Rivaldo no Mundial, e
Zidane na Copa dos Campeões da
Europa. No momento da escolha,
Ronaldo ainda não jogava no
Real Madrid.
Apesar de o Mundial ser disparado o campeonato mais importante do mundo, acho que o melhor jogador do ano deveria ser
um que foi excelente ou excepcional durante toda a temporada.
Cruyff acha que foi o Thierry
Henry, o que não concordo porque ele jogou muito mal no Mundial realizado na Ásia.
Roberto Carlos é o único lateral
do mundo que consegue numa
única partida ser ótimo na defesa
e no ataque. Gosto mais dele jogando de lateral do que de ala.
Nesta posição, como jogou na Copa-2002, Roberto Carlos atua da
mesma maneira que na lateral, o
que dispensaria a presença de um
terceiro zagueiro.
Alguém disse que a regularidade é qualidade dos medíocres. Essas palavras têm algo de verdade
e de exagero. Roberto Carlos é regular e um excepcional jogador.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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