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FUTEBOL
Os filhos bastardos da Fifa
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio às festividades do
centenário da Fifa, foi anunciada a 205ª federação nacional
filiada à entidade. O mais novo
integrante da chamada ""família
do futebol" é a Nova Caledônia.
Enquanto esse novo membro
era agregado, um torneio rebelde
deveria acontecer em Gibraltar
envolvendo a seleção local, a Ilha
de Man e a Ilha de Wight. A disputa começaria anteontem e acabaria hoje exatamente para chamar a atenção da comunidade do
futebol reunida na França.
O território britânico incrustado na Espanha está revoltado
porque a Fifa não o aceitou como
sócio neste ano. A alegação de que
não é ""um país independente reconhecido internacionalmente"
não colou para os chefes do futebol local. Andorra, Ilhas Faroë e
San Marino são exemplos de federações ligadas à Fifa que não
atenderiam às condições da entidade para entrar na ""família".
As Bermudas então, segundo os
dirigentes gibraltarinos, deveriam ser impedidas de jogar as
eliminatórias da Copa, por exemplo, pois são uma dependência
britânica tanto quanto Gibraltar.
A Fifa gosta de divulgar que
possui mais filiados do que a
ONU e que promove uma união
até maior no planeta que a organização que tem sede em Nova
York. Os critérios para entrar oficialmente no mundo da bola, porém, não são até hoje bem claros.
Muitos esperavam que Timor
Leste seria apontado como o 205º
selecionado reconhecido. A antiga colônia portuguesa, pelas minhas contas, é uma das nove localidades que integram a ONU que
não fazem parte do quadro da Fifa. Seis dessas pouco contribuiriam na verdade para o embrionário futebol da Oceania, mas o
fato é que estão no mapa.
Acredito que nem todos os filhos
bastardos da ""família do futebol"
querem hoje ser reconhecidos,
mas Kiribati, por exemplo, tem
um bom número de praticantes
de futebol (é uma agulha no Pacífico, mas até aí as Ilhas Cook também figuram nessa categoria).
A Fifa mostra-se politicamente
correta, aceitando a Palestina, esquecida pela ONU, e politicamente pressionada, rejeitando Gibraltar por imposição da Espanha. A
federação espanhola admite ajudar no desenvolvimento do futebol gibraltarino, mas ameaça deixar a Fifa e a Uefa se o território
for aceito oficialmente como sócio. E o caso de Gibraltar é bem
diferente do da Catalunha, região
espanhola que colocará mais um
duelo com o Brasil no currículo.
A França, antes mesmo de o
Monaco fazer o sucesso atual, já
chegou a sugerir que o time monegasco, finalista da Copa dos
Campeões, não ocupe uma das
vagas francesas em competições
européias. A ONU conta formalmente com Mônaco, mas a geopolítica do futebol não destaca o
principado do território francês.
A política de expansão da Fifa,
aliás, diminuiu vertiginosamente
sua velocidade nos últimos anos
porque quase todos os rincões do
planeta já foram alcançados. Talvez não exista filhos bastardos na
""família" quando a entidade chegar aos 200 anos, mas a Fifa hoje
não é uma mãe tão aberta e pluralista como parece. Algumas
crianças ainda dormem na rua.
Para as novas gerações
Gelsenkirchen, palco da final da Copa dos Campeões, veria ontem a
primeira Young Champions League, uma disputa com mais de 200
times de garotos (de até 16 anos). Como é apenas a primeira edição,
os melhores ganharão ""só" ingressos para a final Monaco x Porto.
Para as velhas gerações
Algumas coisas salvaram o França x Brasil no centenário da Fifa: todas as peças inspiradas no passado. Dica aos colecionadores: corram.
Para todas as gerações
A Sportv promete exibir, ao vivo, os 31 jogos da Eurocopa. Além das
partidas, o canal transmitirá uma série de programas especiais até o
dia 4 de julho, data da final. Será um longo e delicioso inverno.
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
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