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Suécia só recebeu Copa por causa do Brasil, diz cartola
Sueco que organizou o Mundial aos 28 anos se lembra de
pressão brasileira pela confirmação do país como país-sede
Organização contou com o
apoio da força aérea local
para divulgar os resultados
das partidas que foram
realizadas simultaneamente
RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO
Os brasileiros não agradecem
ao responsável pelo Comitê Organizador da Copa-58 pelo título, mas o contrário acontece.
"Não fossem os brasileiros, a
Copa não seria realizada na
Suécia", conta Bengt Agren, 78.
"Era professor de educação
física e me chamaram para assumir o comitê em 1955. Foi tudo tão bem que, em maio, não
tínhamos mais nada para fazer", gaba-se ele, que recebeu a
Folha no estádio Rasunda.
Ele explicou que a relação do
Brasil com a Copa de 1958 começou muito antes do torneio.
""Congresso em Londres indicou a Copa de 54 na Suíça e de
58 na Suécia. Já discutíamos
em 1949 quais cidades seriam
sedes da Copa, que poderia até
acontecer em 1954 se tivesse algum problema na Suíça. Em
1950, no Brasil, houve discussão sobre a sede. A Argentina
queria a Copa-58. E dirigentes
brasileiros disseram para ser
na Suécia. Foi a decisão final."
Para o comitê organizador, a
competição foi um sucesso
muito pelo bom tempo em junho. Os times faziam viagens
curtas de ônibus, e os maiores
deslocamentos de trem (o Brasil levou 6h20min de trem de
Gotemburgo a Estocolmo, viagem que hoje dura três horas).
"A Inglaterra ficou na chave
de Gotemburgo, o que permitiu
a seus torcedores chegarem de
barco. Era o grupo do Brasil,
mas nós não tínhamos os brasileiros como favoritos. Os sul-americanos nos diziam que a
Argentina era a favorita do continente", falou Agren.
Ele admitiu desconhecer Pelé até então. ""Clubes brasileiros
eram populares aqui. Botafogo,
Vasco e até o Santos excursionaram pela Suécia nos anos 50,
mas não conhecíamos Pelé."
Se ainda havia poucos vôos
como em 1954, nas comunicações o avanço era visto com clareza. ""Foi a primeira Copa com
TV, que apareceu na Suécia em
1956. Não havia satétite. Podíamos mostrar só um jogo por
grupo. Vieram muitas rádios da
América do Sul. Precisavam de
linhas telefônicas e suportamos. Nos estádios, eram muitos fios, linhas...", disse Agren.
A violência não foi problema.
"Há filmes que mostram torcedores em jogo colocando as
mãos nos ombros do goleiro e
dizendo: "Você é bom". Tivemos
reuniões com a polícia por um
ano, mas não havia hooligans. A
Força Aérea Sueca, preparada
para uma guerra, nos ajudou
até. Informávamos os times a
cada 15 minutos sobre os placares dos outros jogos."
Agren passou instruções detalhadas com muita antecedência a comitês organizadores locais. A Suécia, que havia optado
pela neutralidade na Segunda
Guerra, tinha certa experiência
em grandes eventos.
Uma coisa que fugiu do controle do comitê organizador foi
a bola da final. Culpa de Mário
Américo, o massagista.
"O goleiro sueco, Svensson,
fez sua despedida na final. Nos
disse que queria ficar com a bola de recordação. O árbitro pegou a bola após o jogo, mas Mário Américo a tomou e a levou
para o vestiário", falou o dirigente, apontando para uma foto de Américo com a bola.
Segundo ele, o fato de os suecos terem torcido para o Brasil
até na final foi algo natural. ""Os
suecos começaram a torcer pelo Brasil contra a URSS. Na final, a Suécia esteve bem durante uns 10, 15 minutos só."
O gol mais bonito? "O de Pelé, chapelando Gustvasson", diz
Agren. O melhor jogador? ""Seria Pelé, mas, pelos gols, Just
Fontaine", sela o chefe do Comitê Organizador da Copa-58.
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