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VÔLEI
Zé Roberto reconstrói time e enterra culpa por Atenas
Técnico engole provocações após revés marcante e dá volta por cima
"Foi difícil levantar a cabeça de muita gente, inclusive
a minha", reconheceu ele, que agora diz sentir-se leve e pronto para sorrir sem dor
Alexander Demianchuk/Reuters
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Alexander Demianchuk/ReutersO técnico Zé Roberto é festejado por sua equipe após a conquista inédita
DOS ENVIADOS A PEQUIM
Após o quarto lugar na Olimpíada de Atenas, o mundo de
José Roberto Guimarães e de
muitas de suas jogadoras desmoronou. Marcada pelo desperdício de sete match points
na semifinal, a equipe ficou desacreditada, e o treinador se
sentia culpado pelas derrotas.
Mas, à frente, ainda havia
quatro anos a serem seguidos
para o time tentar apagar aquela imagem e mudar o resultado
final. Para o técnico, o trabalho
mais complicado de sua vida.
"Foi difícil levantar a cabeça
de muita gente, inclusive a minha. Eu tinha vergonha de sair
na rua, sentia-me culpado por
não ter ajudado o time. Nisso
tenho de agradecer à confederação [de vôlei], que me bancou
para mais um ciclo", afirmou
Zé Roberto, que ontem levou o
Brasil a uma inédita medalha
de ouro nos Jogos de Pequim.
"Quando você está a um ponto de ter ao menos uma prata, e
a bola não cai, aquilo não passa.
Sou um cara de sorte, porque tive oportunidade de refazer um
trabalho. Estou leve, vou voltar
a sorrir. Antes eu sorria, mas
era um sorriso meio apagado."
Após a queda em Atenas, as
provocações eram constantes.
Nos ginásios por onde o Osasco, seu clube na época, passava,
torcedores exibiam cartazes
com o placar de 24 a 19, o mesmo do quarto set da semifinal
contra a Rússia. Após levar a virada, a equipe perdeu o tie-break e, depois, o bronze.
"Foi muito duro, eu deixei
uma parte de mim na quadra
em Atenas, e hoje [ontem] voltei para buscar. Paguei com juros e correção monetária, mas
contei com o apoio da família,
da minha mulher e das minhas
filhas, que sofreram comigo",
afirmou o treinador de 54 anos.
"A dona Alcione [mulher de
Zé Roberto] foi quem mais me
ajudou e me orientou, foi quem
mais acreditou e mais rezou,
acho que para todos os santos
que existem. Ela me obrigava a
dormir com uma vela no criado-mudo, esquentava demais,
mas era por uma boa causa."
Além de reerguer a cabeça de
quem continuaria no grupo, a
comissão técnica teve de trabalhar a renovação da equipe e
dar rodagem a atletas como
Paula Pequeno, Jaqueline e
Sheilla. Ele também iniciou a
busca por novos nomes.
"O problema ali era reestruturar o grupo, refazer a escolha
das jogadoras e ter o horizonte
que precisava para chegar a
uma final olímpica", disse.
Em 2003, antes de o treinador assumir o cargo às vésperas
da Olimpíada, o time havia passado por uma grave crise com o
técnico Marco Aurélio Motta
-cinco titulares pediram dispensa. Faltava às novas jogadoras mais rodagem internacional e entrosamento. Para isso,
Zé Roberto traçou a meta de fazer 150 jogos internacionais em
quatro anos, antes de chegar a
Pequim -conseguiu 138.
"Foi tudo solidificado devagarinho. Quem nos conhece sabe que estávamos tranqüilos
porque o trabalho foi todo planejado e executado. Ninguém
merecia mais do que nós."
Ontem, a equipe não falhou.
E o técnico, que deseja seguir
no comando até Londres-2012,
fechou o mais difícil trabalho
de sua vida com o ouro. E com o
grupo todo de cabeça erguida.
(EDGARD ALVES E MARIANA LAJOLO)
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