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ATENAS 2004
Comitê teme que Jogos sejam cancelados e caça empresas para indenizá-lo; três já recusaram proposta
Medo de terrorismo
faz COI correr atrás
de seguro inédito
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O discurso é um, a prática, outra. Apesar de dizer que não há
risco de os Jogos de Atenas serem
cancelados ou interrompidos no
meio, o Comitê Olímpico Internacional quer fazer um seguro
inédito. Pela primeira vez na história, corre atrás de uma empresa
que lhe reembolse parte da verba
investida na Grécia caso a Olimpíada não seja realizada ou mesmo não chegue a seu final.
""[A tentativa de fazer o seguro]
não significa falta de confiança
em Atenas. Pelo contrário, acreditamos nas medidas tomadas, a segurança [US$ 820 milhões foram
investidos no setor] será enorme,
e as obras estarão prontas a tempo", afirma Giselle Davies, porta-voz do COI.
Mas não é bem assim. Depois
do atentado terrorista de 11 de
março em Madri, o COI teve duas
reuniões de emergência com o
Athoc, o comitê organizador, e
saiu dos encontros decidido a
contratar uma seguradora.
A avaliação é que, devido à conjuntura mundial, o risco de a
Olimpíada não acontecer ou ser
interrompida por causa de uma
ação terrorista é muito maior do
que o dos Jogos anteriores.
Em conjunto, COI e Athoc estão
dispostos a pagar mais de US$ 100
milhões para segurar o evento. O
valor é muito maior do que o desembolsado em Atlanta-1996
(US$ 25,5 milhões) e Sydney-2000
(US$ 5,7 milhões).
De acordo com Theodoros
Roussopoulos, porta-voz do governo grego, as cifras envolvidas
são maiores porque o contrato seria fechado em cima da hora -os
Jogos terão início em 13 de agosto.
""E, por mais cuidado que tomemos, a situação internacional não
é das mais favoráveis."
Mas há outra diferença: nos Jogos anteriores, o seguro cobria
apenas acidentes, independentemente da causa, mas nada dizia
sobre um possível cancelamento
ou uma interrupção dos Jogos.
Até agora, três seguradoras londrinas foram procuradas, mas nenhuma se dispôs a fechar contrato
com o COI e o Athoc.
Diante da dificuldade, a idéia
das entidades é tentar acordo com
um pool de empresas, como foi
feito na Copa Coréia/Japão, a primeira depois do 11 de Setembro.
As seguradoras fariam o resseguro, ou seja, contratariam empresas que fazem o seguro da própria seguradora.
Para diminuir o risco de prejuízo -se os Jogos forem cancelados ou interrompidos, elas teriam
que pagar até US$ 1 bilhão-, a
operação envolveria a emissão de
títulos de catástrofe.
Quem os comprasse ganharia
juros acima do mercado, mas, se
os Jogos forem cancelados ou interrompidos, para diminuir o
prejuízo das seguradoras, elas não
lhes pagariam os juros.
Thomas Bach, um dos vice-presidentes do COI, disse à Folha,
por e-mail, que a apólice de seguro pode chegar a US$ 200 milhões,
só que, nesse caso, envolveria não
apenas a Olimpíada de Atenas,
mas também as duas seguintes
-a de 2008, em Pequim, e a de
2012, cuja sede ainda não foi definida. O Rio é uma das candidatas.
Segundo Bach, o COI iniciou
contatos para segurar os Jogos em
2002, mas na ocasião não pensava
em incluir cláusulas de indenização para casos de cancelamento
ou interrupção do evento.
""Se tivéssemos feito o seguro alguns anos antes, o valor [da apólice] poderia ser mais baixo. É por
isso que pensamos em colocar no
pacote as duas Olimpíadas seguintes a Atenas. Seria uma forma de não termos de pagar tanto
como teremos de fazer agora."
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