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FUTEBOL
Compulsão à repetição
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em todas as atividades e no
comportamento individual e
coletivo, as pessoas e a sociedade
tendem à repetição e a formar os
mesmos conceitos. É mais fácil e
seguro. A repetição aprimora o
conhecimento, mas, quando excessiva, limita a criatividade.
Quando alguém pensa diferente, foge ao comportamento habitual e tenta fazer algo novo, é visto com desconfiança. Somos todos
preconceituosos.
Contudo a desconfiança tem a
sua lógica, já que a maior parte
das pessoas que inova não dá certo. Não basta querer. Para ser um
revolucionário, é necessário competência.
Não entendo de economia, mas
dá para perceber que o governo
atual repete o anterior. Não foi
para isso que foi eleito. Não é fácil
mudar, há riscos, porém é preciso
tentar, com eficiência e criatividade.
Técnico da seleção muito influenciável pelas críticas e que
muda demais os jogadores e o esquema tático é um desastre. Mas
o time brasileiro está burocrático
e repetitivo, incompatível com o
grande número de jogadores criativos que possui. É necessário fazer algo diferente.
Quando eu era professor de medicina, orientador dos alunos e
médicos residentes, recebíamos
muitos doentes para esclarecimento diagnóstico. Os pacientes
tinham passado por outros médicos e traziam enormes relatórios,
com um grande número de exames repetidos.
A minha orientação aos médicos residentes, que eu tinha
aprendido com alguns mestres e
na minha função anterior de professor de semiologia (estudo dos
sinais físicos, sintomas e técnica
de examinar o paciente), era a de
só lerem os relatórios e os resultados de exames após fazerem um
exame minucioso do paciente,
formarem um raciocínio e pedirem os exames de acordo com as
suas impressões clínicas.
A grande dificuldade no esclarecimento do diagnóstico desses
pacientes era o fato de que um
médico seguia o mesmo caminho
e repetia tudo o que os anteriores
tinham feito.
No futebol é a mesma coisa. Os
conceitos e chavões se repetem
durante anos e décadas. Impressiona-me como se dá tanta importância a fatos e versões que
não têm nenhuma ou pouca importância.
Com freqüência, repetem que
um time perdeu porque os jogadores não tiveram raça, que o
grupo não estava unido, que o
atleta badalou na semana da
partida, que o jogador está rico e
desmotivado, que o técnico não
tem comando, que falta um líder,
que a equipe não tem pegada e
dezenas de outros motivos. Alguns desses fatores podem ser importantes em algumas situações.
É preciso imaginar e inovar,
mas é difícil sair da mesmice e da
compulsão à repetição. Dizer que
tudo se repete é também uma repetição.
Solução para tudo
A moda atual no futebol brasileiro é achar que a solução para
os problemas de qualquer equipe
é contratar um meia de ligação
habilidoso, que atue livre, sem
marcar, e que tenha a função de
organizar as jogadas ofensivas.
Todos os times procuram esse
meia. Querem repetir o sucesso do
Cruzeiro com Alex. O Corinthians
sonha que o Piá vai resolver todos
os seus problemas.
A maior parte das equipes da
Europa não joga com esse meia
de ligação. Os times atuam com
dois volantes e um armador de
cada lado, defendendo e atacando, e dois atacantes.
Parece também que há no Brasil um grande número de meias
de ligação talentosos. Esses são
raros. Há muitos jogadores habilidosos. Todo armador de grande
talento tem habilidade, mas nem
todo armador habilidoso tem talento.
Jogo errado
Enquanto o Goiás dava um
show no Botafogo (Alex Dias, autor de quatro gols, foi uma figura
apagada no Cruzeiro), Levir Culpi não parava de mexer no microfone e de conversar com o auxiliar, que estava lá em cima. Sobrava pouco tempo para o treinador observar a partida.
Penso que os treinadores deveriam trocar de lugar com os auxiliares, já que lá de cima se vê muito melhor os detalhes e o conjunto. Será que os treinadores fazem
o que sugerem os auxiliares? Ou é
mais um teatro?
Gostaria de escutar o que os
dois tanto conversam. Devem se
achar grandes estrategistas. Estão
sempre certos. O jogo é que está
errado.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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