|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Intervenção da Casa Civil barrou tentativa de colocar "atenuantes"
na nova lei e surpreendeu Queiroz
Planalto implodiu acordo entre ministério e cartolas
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
O Palácio do Planalto abortou
acordo do Ministério do Esporte
com dirigentes de futebol para aliviar o teor de um dos artigos do
Estatuto do Torcedor que atinge
diretamente os cartolas.
Na primeira pressão que recebeu do establishment da bola, o
ministro Agnelo Queiroz fraquejou e quase cedeu. O chefe da Casa
Civil, José Dirceu, intercedeu, ordenando ao ministro que não recuasse. O argumento: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentiria pessoalmente ofendido.
Em reunião na última quarta-feira, Queiroz, mesmo já advertido pelo Planalto de que nenhuma
vírgula da lei deveria ser alterada,
apresentou aos cartolas uma solução para o impasse: solicitar à Advocacia Geral da União um esclarecimento sobre o artigo 19 da lei
-pelo qual as entidades e dirigentes que organizam competições são responsáveis por prejuízos causados ao torcedor "independentemente de culpa".
Para mostrar seu compromisso,
o ministério redigiu uma nota técnica que aliviou os temores dos
dirigentes e seria, conforme promessa feita por Queiroz durante o
encontro, enviada à AGU.
A reação de Lula e Dirceu surpreendeu o ministro do Esporte.
Foi também da Casa Civil a decisão final de pedir à AGU que ignorasse o argumento da cartolagem
de que alguns pontos do estatuto
não tinham validade jurídica.
E foi o próprio Dirceu quem
quebrou os alicerces da aliança
entre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e os cartolas, que definira a paralisação. A Folha apurou que o ministro da Casa Civil
fez chegar a Teixeira o seguinte recado: Lula não admitiria recuo.
Afinal, o Estatuto do Torcedor
foi a primeira sanção de lei feita
por Lula. Na cerimônia, o presidente disse que a lei deveria pegar.
Ou seja, seria desmoralizante para
o governo ver o Brasileiro interrompido por um motim contra
uma lei sancionada há menos de
uma semana pelo presidente.
Para tentar ficar bem com o governo, Teixeira rompeu o acordo
tácito com os cartolas indo à TV e
dizendo que nunca cogitara paralisar o futebol, assumindo uma
posição apaziguadora. Na terça-feira, no entanto, no encontro na
sede da CBF que selou o levante,
Teixeira fora um dos avalistas.
Além de Queiroz, o deputado
federal Gilmar Machado (PT-MG), presidente da subcomissão
de Desporto da Câmara, também
recebeu recado do Palácio do Planalto para ser intransigente. No
auge da crise, Machado admitiu
negociar com a cartolagem, o que
desagradou a Lula e a Dirceu.
Para combater o lobby dos dirigentes, o lobby dos defensores do
estatuto acionou parlamentares e
membros do governo. A pressão
começou horas depois do anúncio do motim, na terça-feira, e durou até quinta-feira, quando, finalmente, a rebelião morreu.
Os defensores da nova legislação alegaram que a ação dos cartolas mataria na prática uma lei de
cunho moralizador e que, se houvesse recuo do governo, eles jamais se submeteriam a uma nova
tentativa de mudar o futebol.
A reação do Corinthians também teve peso na decisão do Planalto de barrar a rebelião dos cartolas. O clube se posicionou contra a paralisação e, apesar de também reivindicar algumas mudanças no estatuto, decidiu não se bater contra ele -atitude, aliás, tomada por várias agremiações.
O Planalto considerou que o
apoio ao Estatuto do Torcedor do
time que tem a maior torcida de
São Paulo, uma das maiores do
país, era um sinal de que o que está previsto na lei é factível.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Futebol: Ministro leu salvaguarda a cartolas durante reunião Índice
|