África do Sul volta ao ATP Tour. O esporte ajuda a engrandecer homens. Não deveria ser sempre assim?

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

JOHN MATHEBULA, é o nome que ele dá, ao me tirar de um dos melhores hotéis de Johannesburgo à tarde. O destino é Soweto, na periferia, para onde milhares de negros foram levados pelo governo branco no início do século passado.
Por ali ficaram, esquecidos ou simplesmente afastados, durante o apartheid. Hoje, tem entre 5 e 6 milhões de pessoas (sem registros oficiais devido ao grande número de imigrantes ilegais) e algumas das áreas mais pobres da cidade.
Foi lá que um protesto estudantil em 1976 foi sufocado com tiros pela polícia branca. As imagens das mortes de estudantes correram o mundo denunciando o regime de segregação. Países adotaram embargos comerciais. Isolados, os brancos sul-africanos aboliram o regime, e os negros foram integrados à sociedade.
John me leva para o museu que registra o massacre. Em seguida, passa por áreas da região, dirige à casa onde Nelson Mandela morou e começa a tomar o caminho de volta.
Aparentemente, John gostou do passeio e do papo. Pediu licença para passar por lugares fora do "roteiro". Mostrou então a escola onde estudou. "Rever [a escola] traz boas recordações", diz, sorrindo e reduzindo a velocidade. Depois, aponta à esquerda: "Morava nessa área".
John, minha idade, tinha só três anos quando o protesto no bairro começou a mudar a história do país.
"Era pequeno para entender, mas vejo que a vida melhora aqui." Sem se gabar, diz que, com seu emprego, consegue se planejar. Mudou-se para mais perto do trabalho, apesar de ter parentes e amigos no bairro. Namora uma mulher branca, é otimista, fala inglês fluente. "Precisamos voltar a acreditar no país. Isso acontecendo, os que nunca tiveram chance poderão seguir crescendo."
Pois a ATP confirmou no sábado a volta de seu circuito principal ao ex-país racista, que terá em 2009 um ATP Tour. Parte se deve ao patrocínio de uma companhia aérea sul-africana à ATP. Outra parte ao amadurecimento do país. E no geral, mais uma vez, o esporte ajuda a engrandecer homens e crescer países. Não deveria ser essa sua essência?

EM SÃO PAULO
A notícia mais bacana: Pete Sampras foi embora feliz da vida. Quem sabe não volta um dia?

EM LONDRES
A mais chata: Jonas Bjorkman, um dos mais profissionais e legais do circuito, aposenta-se em breve.

EM FORTALEZA
Eric Gomes venceu o future local.

EM UBERLÂNDIA
Fabrício Neis, Fernanda Faria (18 anos), Eduardo Dischinger, Gabriela Ce (16), Hugo Dojas, Mariana Buffara (14), Rafael Mattos e Mariana Humberg (12) levaram a terceira etapa da Credicard Citi MasterCard Junior's Cup.