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Copa 2002
Jogando torneio em casa, co-anfitrião apresenta mudanças no visual e costumes orientais, reflexo da globalização
No oriente, Japão se fantasia de ocidente
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
Na primeira Copa em solo asiático, um dos co-anfitriões, o Japão, justamente o país que abrigará a final do torneio, colocará em
campo uma "seleção do ocidente". Não só pelo visual, mas também pelos costumes.
Como disse o técnico Philippe
Troussier, 47, francês que comanda a seleção japonesa, "é resultado da globalização".
"O oriente se ocidentalizou, o
que pode ter aspectos positivos,
mas também tem os negativos. O
mundo não pode viver de um
pensamento único", afirmou o
treinador à Folha, durante lançamento do livro "Passion" - "Paixão", em português-, sua autobiografia, que chegou às livrarias
japonesas na semana passada.
O sinal da ocidentalização é claro. Está estampado no visual dos
jogadores -dos 23 convocados
por Troussier, pelo menos 12 estavam "loiros" ou "ruivos" na apresentação da equipe.
Para Troussier, boa parte deles
escolheu o "new look" depois de
passarem pelo futebol europeu,
caso de Hidetoshi Nakata, a estrela da seleção, que joga pelo time
do Parma, da Itália.
Mas, aparentemente, não se trata apenas disso. O sociólogo Shinji Kamikawa, 48, crítico de TV no
Japão, diz que "o oriente parece
perdido em muitos aspectos". "A
influência não é só de quem vai ao
exterior e volta, mas está em todos
os lugares, principalmente na televisão. Parece que estamos desenvolvendo um complexo de inferioridade, de que aquilo que é
falado em inglês é melhor, os costumes estrangeiros são".
Ele reclama do fato de os desenhos animados japoneses não
apresentarem personagens com
olhos puxados. "Só pode prejudicar o processo de identificação de
nossas crianças, que começam a
invejar os traços ocidentais."
Segundo Kamikawa, uma novela que faz sucesso no país- "Sakura"- trata justamente dessa
questão. "Mostra uma garota [Elizabeth Sakura" da quarta geração
[de descendente de japoneses"
criada nos EUA e que, aos 23 anos
de idade, vai estudar no Japão. É
um choque cultural. A garota se
percebe mais japonesa do que os
próprios japoneses. Não há mais
respeito aos velhos, não se pensa
mais tanto no coletivo, muita coisa mudou", conta ele.
Quando se trata de futebol, no
entanto, há pontos importantes,
acredita Troussier. "Com a integração e o contato maior com o
futebol europeu, os japoneses
evoluíram muito", comentou o
treinador, que após o Mundial
deixará a seleção nacional.
O goleiro Yoshikatsu Kawaguchi, do Portsmouth, da Inglaterra,
um dos que mantêm o cabelo moreno, embora bem espetado, acha
que, de fato, o Japão evoluiu muito dentro do campo. Fora, porém,
gosta de dizer que as coisas são diferentes e espera que continuem
assim. "Aqui os torcedores são
mais comportados. Eles vão aos
jogos para se divertir. Raramente
vaiam e não costumam brigar. Seria bom se os europeus copiassem
nossas torcidas", comentou o
atleta japonês.
Mas o maior sinal da ocidentalização da seleção japonesa talvez
seja o meia-atacante Alex -ou
Santos, como também é conhecido no Japão. Nascido no Paraná,
ele se naturalizou japonês no final
do ano passado para jogar a Copa
pela seleção da casa, como já fez
Wágner Lopes em 1998.
Mulato, Alex tem usado visual
rastafári e pode virar sucesso no
mundo da moda no Japão. Já recebeu convite para, depois do
Mundial, participar de desfiles no
país para a temporada de outono/inverno. Caso se destaque no
torneio, pode virar uma celebridade. E seu cabelo um novo ícone
da modernidade no Japão, fazendo frente às tintas "amarelas" que
fazem a cabeça da moçada.
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