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FUTEBOL
"Bem vindaõs"
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil chega hoje a Ulsan,
na Coréia do Sul, onde vai
ficar durante toda a primeira fase
da Copa do Mundo.
Os gentis entusiasmados coreanos esperam ansiosos pela seleção. Só não tiveram cuidado com
as palavras. Numa importante
avenida de Ulsan, há uma grande
faixa de saudação aos brasileiros
com os dizeres: "Bem vindaõs".
O novo estádio da cidade, o Ulsan Munsu, onde o Brasil fará o
primeiro jogo, no dia 3, contra a
Turquia, é maravilhoso. Há mais
de 43 mil lugares, todos numerados com cadeiras de várias cores,
e 276 assentos para deficientes.
São 32 saídas do estádio, o que dá
conforto e segurança aos torcedores. O gramado também é perfeito. Ao ver esses estádios, não só
aqui mas também em todo o
mundo, sinto vergonha dos estádios brasileiros.
A Comissão de Defesa dos Direitos dos Torcedores, criada recentemente no Brasil pelo Ministério do Esporte, precisa resolver
rapidamente essa situação.
A cidade industrial de Ulsan é
maior e mais cosmopolita do que
eu imaginara. Parece uma boa cidade norte-americana e tem todos os recursos de um país de Primeiro Mundo.
No primeiro dia aqui em Ulsan,
acordei muito cedo por causa do
fuso horário e fui caminhar. Próximo do hotel, operários protestavam em frente ao imenso estaleiro da Hyundai. É a eterna luta
entre o capital e o trabalho.
Ao lado do hotel, há um moderno hospital universitário com serviço de urgência, onde, se precisarem, os jogadores brasileiros serão atendidos. Ao ver os alunos e
os jovens médicos entrarem no
hospital, senti saudades dos meus
tempos de professor de medicina.
"A vida dá tantas voltas: a vida
nem é da gente." (João Guimarães Rosa)
Contraditório Felipão
Em qualquer situação, diante
de uma suposta verdade, há sempre argumentos diferentes, às vezes contrários, tão importantes e
verdadeiros quanto os anteriores.
A verdade tem várias faces. Isso
é ainda mais evidente quando está envolvido um personagem contraditório, passional, que desperta opiniões opostas e apaixonadas, como Felipão.
Podemos enxergar o técnico
brasileiro por vários ângulos. Fora de campo, Felipão é um disciplinador, conservador, austero,
rude e, ao mesmo tempo, dócil,
afetuoso e humano.
É o paizão, o titio e também o
chefe todo-poderoso. É temido,
mas respeitado e admirado pelos
jogadores.
Durante a partida, Felipão é
ainda mais contraditório. Todo
profissional é o reflexo do cidadão. Scolari é obcecado pela disciplina tática, pela marcação, pelas
jogadas ensaiadas, mas é também imprevisível, inquieto e corajoso nas substituições.
Felipão não aceita passivamente uma derrota. Corre atrás dos
resultados de todas as formas.
Muda radicalmente o time durante o jogo. Age mais pela emoção do que pela razão.
Felipão sempre foi assim nos
clubes. Vi várias vezes o Palmeiras passar da depressão para a
euforia, da defesa para o ataque,
da derrota para a vitória. Acompanhei também ele cometer erros
bisonhos na tentativa de mudar a
equipe.
Qual é o verdadeiro Felipão: o
conservador, racional e durão ou
o imprevisível, inquieto, passional e dócil? Provavelmente os
dois. A alma humana tem muitos
mistérios. A personalidade nada
mais é do que um acordo que a
pessoa faz consigo, para atender à
razão e aos impulsos.
Qual dos Felipões você prefere: o
cauteloso e racional do primeiro
tempo ou o corajoso e passional
da segunda etapa?
Ou preferiria o treinador equilibrado, frio, calculista e tranquilo
do princípio ao fim do jogo, como
Carlos Alberto Parreira?
Esse comportamento instável
do técnico brasileiro durante a
partida será positivo ou negativo
na Copa? Vai confundir os adversários ou os jogadores brasileiros
é que ficarão confusos com tantas
variações táticas?
Será que essas mudanças radicais do treinador muitas vezes
dão certo porque ele tem conhecimentos técnicos que ultrapassam
a nossa compreensão? Será que o
time nacional vai cair logo fora
ou vai dar muitos sustos e no final
dará certo?
Não tenho respostas. Somente
perguntas.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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