São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

Próximo Texto | Índice

Brasil enfrenta hoje a zebra Turquia para alcançar a sua sétima final de Copa do Mundo

A maior barbada (ou a maior roubada)

CBF JÁ PLANEJOU A FESTA DO PENTA, E O PLANALTO NÃO ESTÁ CONVIDADO

FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RODRIGO BUENO
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A SAITAMA

O poder está rompido com o poder. A Copa do Mundo da Ásia não foi capaz, pelo menos por enquanto, de reaproximar a CBF e o Palácio do Planalto.
Mesmo antes de passar pela semifinal contra a Turquia, hoje, a entidade já ameaçava tirar Brasília e, consequentemente o presidente Fernando Henrique Cardoso, do roteiro de comemorações oficiais em caso de conquista da Copa do Mundo.
Inaugurada em 1960, Brasília recebeu os campeões do Mundial em 1962, 1970 e 1994. O encontro dos jogadores e da comissão técnica com o presidente da República tornou-se parada quase obrigatória no retorno do time verde-amarelo a sua casa.
Neste ano, no entanto, o desgaste produzido por duas CPIs do Congresso, ambas com o apoio do governo, estremeceu a relação entre a CBF e o centro do poder em Brasília. Historicamente aliada ao PFL, a entidade também tomou as dores do partido na disputa que rachou a base de sustentação de FHC no Planalto.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, principal alvo das investigações do Parlamento, pretende levar a seleção da Ásia para algumas capitais brasileiras, entre elas Fortaleza, São Luís e Rio de Janeiro.
O discurso do dirigente é que antes de deixar o poder, conforme está programado para o ano que vem, ele quer entregar a seleção brasileira para o povo, evitando assim o tradicional beija-mão palaciano de Brasília.
Amigos e assessores afirmam ainda que Teixeira teme o uso eleitoral da vitória brasileira pelo candidato governista, José Serra (PSDB), em detrimento de outros candidatos a presidente em outubro.
Mas o cartola e seus aliados estão ressentidos com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o tucanato. Acham que o Planalto fomentou duas CPIs que terminaram sem provar crimes supostamente cometidos pelo dirigente e uma campanha por sua renúncia do cargo.
Do lado do Planalto, a Folha apurou que FHC quer distância de Teixeira e da cartolagem. O presidente acha que imagem dos dirigentes está associada à corrupção e ao descalabro. Um fracasso hoje -ou até mesmo domingo- pode ser creditado à administração do dirigente, condenada pela CPI do Futebol, no Senado.
O ex-ministro Carlos Melles (Esporte), como o apoio do Executivo, comandou no final do ano passado uma campanha pela saída de Teixeira da CBF. Segundo ele, com o cartola, o Brasil não teria condições nem ambiente para triunfar no Mundial.
Mesmo após a vitória do Brasil sobre a Inglaterra, pelas quartas-de-final, FHC, que tem acompanhado com atenção de torcedor a Copa, não enviou mensagens de apoio ao time. Os jogadores reclamaram.
Antes, em 13 de junho, FHC assinou a medida provisória, com base na CPI do Futebol, conhecida como "MP de moralização do futebol", que contraria os interesses dos cartolas.
A seleção, em caso de fazer a final domingo que vem, embarca para o Brasil no dia seguinte. Antes de chegar ao Rio, sede da CBF, o vôo fretado da Varig poderá passar por São Luís e Fortaleza. Na primeira capital, o time conseguiu a classificação à Copa, em novembro. Na segunda, se despediu de sua torcida rumo à Copa.


Próximo Texto: Voto em branco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.