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Voto em branco
Combustível da propaganda ideológica do governo no regime militar (1964-1984), a seleção brasileira chega ao século 21 alienada politicamente, pelo menos dentro de campo. Os jogadores do
time se esquivam do assunto eleições e muitos dizem
desconhecer quem são os candidatos a presidente do
país que eles representam. Em 1986, no México, o meia
Sócrates entrou em campo com uma faixa na testa com
mensagem por paz e justiça. Em 2002, com mais da
metade do time nacional trabalhando na Europa, a política parece ser coisa apenas para os "brasileiros".
DOS ENVIADOS A SAITAMA
Os jogadores da seleção brasileira não querem saber de política. A Folha ouviu os 23 atletas que
defendem a equipe na Copa do
Mundo sobre o candidato preferido para suceder o presidente Fernando Henrique Cardoso. Apenas um tem o seu voto definido
para o dia 6 de outubro.
O zagueiro Edmilson afirmou
que vai votar no ex-governador
do Rio Anthony Garotinho, candidato do PSB. ""Vou votar no Garotinho, que é o candidato de
Deus", declarou o jogador do
Lyon, que "o atual campeão francês. Edmilson é evangélico como
o ex-governador do Rio.
O atacante Denílson, do Betis
(Espanha), chegou até a declarar
o seu voto, mas voltou atrás depois de ser questionado pelo próprio Edmilson. O jogador disse
que votaria em Luiz Inácio Lula
da Silva, novamente o candidato
do PT. ""Vou votar no Lula porque
ele gosta da periferia", disse o atacante, que foi criado em Diadema,
no ABC paulista, berço do PT.
Logo após manifestar o seu voto, Edmilson retrucou o colega.
""Ele vai é matar a periferia", argumentou o zagueiro da seleção. ""É
mesmo? Então fala que estou indeciso. Vou perguntar aos meus
pais", concluiu Denílson.
Já quatro titulares disseram que
não vão escolher o próximo presidente. ""Depois do que aconteceu
com os fundos de renda fixa [mudanças nas regras de contabilização causaram perdas aos investidores", não quero votar em ninguém", falou o goleiro Marcos,
que defende o Palmeiras.
""Meu assunto é o futebol. Só falo se for para escolher o candidato
a presidente da CBF", afirmou o
meia-atacante Rivaldo, do Barcelona (Espanha), um dos destaques da seleção na Copa.
O lateral-esquerdo Roberto
Carlos e o zagueiro Lúcio também disseram que não vão votar
na eleição de outubro.
""Não tenho candidato. Vou ficar fora do país. Na última, eu
também não votei", disse Roberto Carlos, do Real Madrid (Espanha), um dos mais ricos jogadores do futebol brasileiro. O zagueiro Lúcio, do Bayer Leverkusen (Alemanha), também deu a
justificativa de que mora no exterior para ficar de fora da eleição.
O meia Ricardinho, do Corinthians, foi outro que disse que
não vai votar em outubro. ""Não
sei e não gosto [de política".
Quem são os candidatos?", disse o
jogador, tentando desconversar
sobre o assunto.
O atacante Ronaldo, da Inter de
Milão (Itália), o mais famoso da
seleção, prefere se manter distante das eleições. Ele alega que é para não ter a sua imagem explorada pelos políticos.
A maioria dos jogadores
-15- disse que está indecisa.
O volante Vampeta foi um dos
poucos que revelaram as suas preferências. ""Estou em dúvida se
voto no José Serra ou no Lula",
disse o volante do Corinthians,
que pretende ser político depois
de encerrar a carreira.
Poucos jogadores da seleção
acham importante exercer o voto
na eleição de outubro.
"Não tenho nenhum candidato,
mas vou votar. Depois da Copa,
vou pensar nisso", declarou o lateral Cafu, que é capitão da seleção e joga na Roma (Itália).
Juninho, Rogério Ceni e Roque
Júnior também falaram da importância do voto. Já o lateral Belletti e o atacante Luizão preferiram não manifestar a opção de
voto. Eles alegaram que o voto é
secreto.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, RODRIGO
BUENO E SÉRGIO RANGEL)
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