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TURISTA OCIDENTAL
Cobertura da seleção registra esforço de reportagem, jornalista-torcedor e tensão
Furo?
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A SAITAMA
O último bate-boca entre um
integrante da seleção brasileira e
um jornalista na Copa de 98 ocorreu depois da final França 3 x 0
Brasil, na zona mista, a área de entrevistas pós-jogo nos estádios.
O então técnico Zagallo lamentava a crise de Ronaldo horas antes quando o repórter Mauro
Leão, do jornal "O Dia", indagou:
"Por que ele foi escalado?".
Zagallo se enrubesceu e berrou:
"Você agora está no seu momento. Vocês devem muito a mim".
Leão retrucou: "O momento é dos
franceses".
Enquanto a equipe vence, a zona mista costuma ser não só um
lugar de troca de empurrões por uma boa posição mas também de um
certo clima de jardim de
infância. No Mundial-2002, os jogadores demoravam a aparecer, e quem
passou foi o roupeiro (ou
""mordomo", como diz o
técnico Luiz Felipe Scolari)
Rogelson Barreto. Alguns
jornalistas brasileiros gritaram: ""Barreto! Barreto! Barreto!". Um membro do comitê organizador da Copa passou de cabelo pintado. O coro: ""É Paulo
Nunes! É Paulo Nunes!" -referência ao ex-atacante da seleção,
loiro graças à química.
O lateral Belletti, único jogador
(fora os goleiros reservas) que não
atuou, costuma ser pouco procurado. Alguns repórteres na zona
mista chamam seu nome e, quando o atleta se vira, escondem-se
atrás de colegas ou fingem não ter
chamado.
Esses são capítulos pontuais, e
não comuns ao conjunto da mídia, na cobertura da campanha do
Brasil no Japão e na Coréia.
O trabalho é igualmente marcado por esforços de reportagem
como o dos fotógrafos no domingo para registrar o banho de jogadores na piscina do hotel em Saitama (região de Tóquio). Proibidos de se aproximar, eles subiam
e desciam no elevador panorâmico, de onde fizeram as imagens.
""O que mais chama a atenção
na cobertura da seleção brasileira
são os radialistas", diz o jornalista
londrino Brian Homewood, 38,
da agência Reuters, que mora e
trabalha no Rio. Foi possivelmente o precursor do emprego da tradução ""Big Phil" para ""Felipão",
hoje adotada pela imprensa internacional ao citar o técnico.
""É engraçado ver o pessoal de
rádio gritando em telefones públicos dos hotéis. Parece que estão
narrando um jogo emocionante,
porém estão contando a que horas Scolari acordou. É uma emoção tremenda para informar uma
coisa banal."
Homewood foi um dos cerca de
300 jornalistas que acompanharam ontem o último treino da seleção, no Omya Park (ao lado de
Saitama), antes da partida de hoje
contra a Turquia. Para o indiano
Arun Sengupta, 42, que cobre o
Brasil na Copa, ""os radialistas são
mesmo muito agitados. São os
verdadeiros papparazzi [fotógrafos sensacionalistas" brasileiros."
Uma das características deste
Mundial é o emagrecimento das
equipes jornalísticas, mesmo da
TV Globo -de 150 para 115-,
que passou a deter o monopólio
da transmissão televisiva por canal aberto para o Brasil.
Em 1998, a rádio K do Brasil, de
Goiânia, transmitia treinos coletivos com narrador, comentarista e
repórteres. ""Agora não há sentido
porque o fuso é contrário [o Japão
está 12 horas à frente de Brasília"", diz o repórter Alípio Nogueira, 34. ""O mais difícil para
nós é trabalhar em dois horários.
Um é o do que acontece aqui. Outro, o da programação no Brasil."
Um dos colegas de Nogueira na
rádio K é Pierre Carvalho, 44,
também da carioca rádio Mania.
Ex-coordenador dos cursos de
culinária de uma rede de supermercados, ele levou 10 mil bandanas da emissora carioca para distribuir. Descobriu, em Ulsan (Coréia do Sul), que um atravessador
pegava os brindes e os vendia a
R$ 4 a uma butique, que cobrava
R$ 10 a unidade.
Carvalho reclama do que considera favorecimento de Scolari a
jornalistas do seu Estado, o Rio
Grande do Sul, o que técnico e
jornalistas gaúchos negam.
Após a goleada de 6 a 0 sobre a
Bolívia neste ano, antes de fazer a
pergunta, um radialista gaúcho
elogiou os diversos títulos conquistados por Scolari: ""Tu és um
multicampeão, uma múmia de
tantas faixas que tu tens".
Integrantes da delegação brasileira insistem numa tese peculiar:
é bom tanto para o time como para os jornalistas que o Brasil vença. Reservadamente, muitos concordam, numa visão que distorce
a função jornalística: a de informar objetivamente.
Certas figuras de jornalista-torcedor do Brasil
são paradigmas de compostura em comparação
com o que se vê na Copa.
Repórteres de Camarões
trabalham com a camisa
da seleção. Ingleses, não só
com a camisa, mas com cabelos cortados e pintados no
formato da bandeira e imitando o corte de Beckham.
A relação entre jogadores e
jornalistas às vezes é tensa.
Em 1994, Romário e Dunga
levantaram o troféu bradando palavrões aos fotógrafos próximos.
O assessor de imprensa
da seleção, Rodrigo Paiva,
38, diz que há menos restrições na cobertura do Brasil
que em seleções européias
-o que é verdade em muitos casos. ""Na Europa, se a
gente disser para ficar aqui,
eles ficam, e é o paraíso. Os
brasileiros são mais exigentes". Perto de onde Paiva falava, o místico Thomas Green
Morton, 55, dizia estar no
hotel da seleção a convite de
um repórter. Usava colar
com moedas entortadas por
sua ""mentalização positiva"
e exalava o aroma de patchouli, também ""produzido"
por ele. Deu entrevistas a valer.
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