|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
nocaute
Alemão é "culpado" por queda cubana
Ex-pugilista Ahmet Öner foi responsável por deserção ou suspensão de cinco campeões olímpicos ou mundiais do país
"Se fossem tratados da maneira correta, esses lutadores nunca teriam deixado Cuba", declara promotor de combates
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
Com as luvas, nos ringues, ele
admite nunca ter sido "o melhor boxeador do mundo".
Mas, fora do ringue, o alemão
Ahmet Öner interrompeu a série de títulos de Cuba como
campeã olímpica de boxe -foi
desbancada pelos donos da casa em Pequim-, pois foi responsável pela deserção (ou suspensão) de cinco campeões
olímpicos ou mundiais do país.
Nos Jogos, os cubanos não
ganharam um ouro sequer, o
que não ocorria havia 40 anos.
""Não foi minha culpa que os
lutadores cubanos desertaram.
Se fossem tratados de maneira
correta, não teriam deixado
Cuba. Nem fui eu que suspendi
[o tricampeão olímpico Guillermo] Rigondeaux da seleção.
Essa decisão foi do governo cubano, não minha. [Rigondeaux]
teria conquistado o seu quarto
ouro", afirmou Öner à Folha.
Após uma carreira amadora
de só um ano, Öner, filho de
turcos baseados na Alemanha,
tornou-se lutador profissional
em 1997. Cinco anos depois,
aposentou-se com um currículo de 16 vitórias, 5 derrotas e 2
empates, tendo ganhado só
uma das últimas cinco lutas.
Ironicamente, foi justamente o que lhe trouxe fama como
promotor de lutas que encurtou sua carreira profissional.
""Faltou para mim um longo
currículo amador. É a técnica
que as estrelas amadoras obtêm que as tornam campeãs no
profissionalismo", resumiu, ao
apontar que sua experiência
lhe serve bem na nova função.
Foi o suficiente para convencer Öner, hoje com 35 anos, de
que jamais seria um campeão.
Paralelamente à sua carreira
como pugilista, ele já vinha
plantando as sementes que
anos depois o colocariam no
comando da empresa promotora Arena Box-Promotion.
Dividia seus dias entre os
treinos, um curso de economia,
fazia o trabalho de marketing
para um amigo, o peso pesado
Sinam Samil Sam, e ainda encontrava tempo para vender
ingressos de programações.
Foi natural que, logo após
pendurar as luvas, Öner realizasse a transição para empresário de boxe. Sua primeira
conquista foi guiar Sam ao cinturão europeu dos pesados.
Desencantado com as firmas
promotoras de boxe locais Universum Box-Promotion e
Sauerland Events, fundou a
Arena Box-Promotion, em
2006. Três meses depois, em
setembro, promoveu seu primeiro show, com o desconhecido Mahir Oral, que hoje está
entre no top 15 do mundo.
Porém, fora dos ringues, registrou um feito que ninguém
havia conseguido: dizimou a
esquadra cubana amadora.
Foi ele quem deu abrigo aos
desertores Yuriorkis Gamboa,
Odlanier Solis e Yan Barthelemy, todos campeões olímpicos, em 2006. Depois, orquestrou a tentativa de deserção, no
Pan-07, de outro cubano campeão olímpico, Guillermo Rigondeaux, e do campeão mundial Erislandy Lara, proibidos
de retornar à seleção nacional
pelo ditador Fidel Castro. Lara
depois fugiu para a Alemanha.
""[Fidel] é uma lenda, mas
também um homem velho que
deveria entender que o conceito de uma sociedade perfeita é
simplesmente errôneo. Você
não pode ordenar às pessoas
que vivam felizes. Deixe o povo
decidir, não decida por ele."
O promotor poupa a todo
custo sua vida pessoal. Ao ser
questionado sobre sua mulher,
a filha do técnico Fritz Sdunek,
e filhos, pediu privacidade.
""Deixe-os fora disso", disse.
Hoje, Öner é freqüentemente visto ao lado do ringue, torcendo por seus pupilos, diversos dos quais prontos para disputar títulos, em eventos
transmitidos por redes de TV
com enorme tradição no boxe.
Acompanhou o boxe olímpico, mas pela TV. ""Não fui à China. Não gosto do jeito que tratam as pessoas, do fato de a
China estar popular agora porque sediou os Jogos. Tem muita coisa errada na China, e não
devemos esquecer disso só por
causa da Olimpíada."
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Fidel cita "máfia" e faz defesa de chute na cara Índice
|