|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AUTOMOBILISMO
Ex-piloto diz que Fangio e Schumacher só levaram 5 títulos porque sempre tiveram os melhores carros
Sobrevivente do 1º GP desdenha de pentas
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Eugène Martin é um sobrevivente. Em 13 de maio de 1950, aos
35 anos, era o sétimo colocado entre os 21 pilotos alinhados no grid
de largada de Silverstone para a
primeira corrida de F-1 da história. Hoje, aos 88, é um dos dois
que restaram, o único lúcido e que
ainda acompanha a categoria.
Um homem que enfrentou Juan
Manuel Fangio, Tazio Nuvolari e
Alberto Ascari. Que conheceu Jim
Clark, Alain Prost e Jackie Stewart. Que contabiliza mais de 50
colegas mortos em acidentes durante a sua carreira. Anteontem,
ele conversou com a Folha, por
telefone, de La Rochelle, França.
"A F-1 daquela época não tem
nada a ver com a atual. Os carros
eram diferentes, a forma como
eram construídos era diferente e a
maneira de pilotar era outra", diz,
com conhecimento de causa.
Porque Martin, como vários de
sua época, foi mais do que um piloto. Engenheiro, construía os
carros da Talbot. Modelos que
usava, com outros contratados da
equipe. Em suma, metia a mão na
graxa, cenário inimaginável hoje.
"É impossível fazer o que eu fazia. Eu era construtor, mecânico e
piloto. Hoje, as tarefas são específicas. As pessoas são capazes de
fazer uma coisa ou outra. Mas
nunca as duas coisas", afirma.
"A cada ano, as equipes precisam de mais e mais técnicos para
cada pedaço do carro. E os pilotos, por outro lado, gastam muito
tempo pilotando. Eles não têm
tempo de conhecer mecânica."
Essa sua trajetória e suas opiniões escancaram as diferenças
entre as eras da F-1. O francês é
uma ponte. Acompanhou todas.
O grosso de sua carreira se passou na "pré-história", na década
de 40, em corridas disputadas em
pistas de pouso e montanhas.
Na fase seguinte, Martin correu
só dois GPs, em 1950. Além de Silverstone, correu em Bremgarten,
na Suíça. Abandonou ambos. O
primeiro, com um problema de
pressão de óleo. O segundo...
Bem, até os acidentes, naquela
época, eram diferentes: "Meu carro estava estranho. Então, uma
pedra acertou meu pára-brisa e
voou óleo fervendo nos meus
olhos, não pude ver nada e perdi o
controle. O carro girou no ar. Tive
sorte de não morrer, mas quebrei
a perna e decidi me aposentar".
Por essas e por outras, Martin
um dia resolveu contar os colegas
que viu morrer nas pistas. "Contei
52. Sabíamos que era fácil morrer.
Bastava um pouco de óleo na pista ou uma manobra estabanada."
Mesmo tendo trabalhado para a
Talbot, uma marca inglesa, Martin só fala francês, algo também
inviável na F-1 atual. E evita comentários sobre os pilotos de hoje. Afinal, é de uma época em que
todos, mesmo adversários ferrenhos, se conheciam de perto.
"Não posso falar muito sobre o
Schumacher porque não conheço
esse senhor pessoalmente", diz.
Fangio, o outro pentacampeão,
Martin conhecia. "Ele brincava o
tempo todo. Era talentoso, mas
sempre teve os melhores carros...
Isso posso dizer do Schumacher.
Se ele e Fangio não tivessem os
melhores carros, não sei se conseguiriam todos aqueles títulos."
Após deixar as pistas, Martin
tornou-se diretor da Talbot. Depois disso, continuou acompanhando a F-1, como espectador.
E tem seu veredicto: "Os melhores pilotos da história foram Alain
Prost e Ayrton Senna. Prost sabia
tirar o melhor do carro, da equipe.
E Senna foi o mais veloz que já vi".
Colaborou Rodrigo Bertolotto, da Reportagem Local
Texto Anterior: Futebol: Real Madrid torce por vitória de arqui-rival Próximo Texto: Memória: "Os carros eram fáceis de guiar e difíceis de frear" Índice
|