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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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FUTEBOL

Mata-mata de matar

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Viva o mata-mata!
Manchester 4 x 3 Real Madrid. Nacional 4 x 4 Santos. Milan 3 x 2 Ajax. Olimpia 2 x 3 Grêmio. Barcelona 1 x 2 Juventus, Valencia 2 x 1 Inter de Milão...
As melhores partidas do ano aconteceram nos últimos dias, todas em fases decisivas dos dois principais interclubes do planeta.
O momento, dentro e fora de campo, aponta para os mata-matas. O francês Michel Platini, potencial presidente da Uefa no futuro (alcançou tanto o Comitê Executivo da entidade máxima do futebol europeu quanto o da Fifa), resgatou na última semana a idéia da Copa dos Campeões com 100% de fases eliminatórias (confrontos de ida e volta).
"Quero um torneio com 256 clubes apenas com fases eliminatórias. O Bayern de Munique deve jogar em Malta ou na Geórgia."
Para quem não se lembra, a Copa dos Campeões já foi um básico mata-mata (aliás, bem legal, só com verdadeiros campeões).
Excepcional ex-jogador (e atual jogador de Joseph Blatter, o suíço que preside a Fifa), Platini ataca a estrutura montada pelo G-14, o clube que reúne os mais poderosos times do continente.
"A pressão exercida pelo G-14 levou ao formato atual da Copa dos Campeões, que é totalmente voltado para as nações mais desenvolvidas no futebol", disse.
Os grupos passaram a ganhar corpo no principal interclubes europeu em 1992. Três anos depois, esses receberam forte impulso.
Nas últimas temporadas, os grupos se multiplicaram, mas já sofrerão corte na próxima edição (uma das fases de grupos foi abortada). Franz Beckenbauer, outro notável ex-atleta que virou dirigente, bradou contra o formato atual, e o barulho deu resultado.
Não será estranho se Platini assumir a Uefa e Beckenbauer presidir a Fifa. Mas, pelo que se vê hoje em dia, causará muita estranheza uma Copa dos Campeões desenhada pela Uefa, e não pelos milionários clubes do G-14.
Duelos épicos, como Real x Juventus ou Milan x Inter, poderão ocorrer no ano que vem já nas oitavas-de-final (fase que abre o mata-mata da Libertadores). Nos grupos do formato atual, esses confrontos de gigantes até acontecem (e geram mais grana para os times), mas quando tais brigas são eliminatórias o público lucra.
A Libertadores durante muito tempo privilegiou grupos. Em algumas edições, não tão distantes, três dos quatro times de uma chave avançavam. Um absurdo.
A idéia do mata-mata 100% não chegou ao principal torneio sul-americano, mas será meio experimentada na Copa Sul-Americana (Supercopa e Copa Conmebol adotaram essa fórmula).
Até por questões geográficas, as disputas internacionais sempre foram pautadas por fases eliminatórias. Por razões econômicas, esse perfil tem sido sistematicamente desviado, mas quase sempre de forma tola (dez milhões de pessoas, só na Itália, viram na TV o sensacional duelo de morte entre Milan e Ajax, por exemplo).
O caminho até o céu deve ser longo (pontos corridos nos campeonatos nacionais) e cheio de riscos mortais (mata-mata nas competições continentais).

Proposta dos clubes
O G-14 se reúne nesta terça-feira e, dentre os vários assuntos do grupo, um deve gerar muita polêmica, podendo ser estendido aos clubes de todo o planeta. A idéia é cobrar da Fifa parte do dinheiro arrecadado com a Copa. Se os jogadores são funcionários dos times (recebem direito de imagem também), a participação desses empregados no Mundial não deveria render algum lucro para os empregadores? A questão é boa (lembra um pouco as discussões para que as federações nacionais paguem os salários dos atletas quando esses estejam defendendo seus países por um mês), mas não para a Fifa, que ganha bilhões com seus torneios e pouco divide o bolo. O G-14, que comemora ter brecado as convocações da seleção brasileira, deve usar o Mundial de Clubes como moeda de troca (os europeus jogariam o torneio, como quer a Fifa, mas essa passaria parte da grana da Copa).

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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