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FUTEBOL
Mata-mata de matar
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Viva o mata-mata!
Manchester 4 x 3 Real Madrid. Nacional 4 x 4 Santos. Milan
3 x 2 Ajax. Olimpia 2 x 3 Grêmio.
Barcelona 1 x 2 Juventus, Valencia 2 x 1 Inter de Milão...
As melhores partidas do ano
aconteceram nos últimos dias, todas em fases decisivas dos dois
principais interclubes do planeta.
O momento, dentro e fora de
campo, aponta para os mata-matas. O francês Michel Platini, potencial presidente da Uefa no futuro (alcançou tanto o Comitê
Executivo da entidade máxima
do futebol europeu quanto o da
Fifa), resgatou na última semana
a idéia da Copa dos Campeões
com 100% de fases eliminatórias
(confrontos de ida e volta).
"Quero um torneio com 256 clubes apenas com fases eliminatórias. O Bayern de Munique deve
jogar em Malta ou na Geórgia."
Para quem não se lembra, a Copa dos Campeões já foi um básico
mata-mata (aliás, bem legal, só
com verdadeiros campeões).
Excepcional ex-jogador (e atual
jogador de Joseph Blatter, o suíço
que preside a Fifa), Platini ataca
a estrutura montada pelo G-14, o
clube que reúne os mais poderosos times do continente.
"A pressão exercida pelo G-14
levou ao formato atual da Copa
dos Campeões, que é totalmente
voltado para as nações mais desenvolvidas no futebol", disse.
Os grupos passaram a ganhar
corpo no principal interclubes europeu em 1992. Três anos depois,
esses receberam forte impulso.
Nas últimas temporadas, os
grupos se multiplicaram, mas já
sofrerão corte na próxima edição
(uma das fases de grupos foi abortada). Franz Beckenbauer, outro
notável ex-atleta que virou dirigente, bradou contra o formato
atual, e o barulho deu resultado.
Não será estranho se Platini assumir a Uefa e Beckenbauer presidir a Fifa. Mas, pelo que se vê
hoje em dia, causará muita estranheza uma Copa dos Campeões
desenhada pela Uefa, e não pelos
milionários clubes do G-14.
Duelos épicos, como Real x Juventus ou Milan x Inter, poderão
ocorrer no ano que vem já nas oitavas-de-final (fase que abre o
mata-mata da Libertadores). Nos
grupos do formato atual, esses
confrontos de gigantes até acontecem (e geram mais grana para os
times), mas quando tais brigas
são eliminatórias o público lucra.
A Libertadores durante muito
tempo privilegiou grupos. Em algumas edições, não tão distantes,
três dos quatro times de uma chave avançavam. Um absurdo.
A idéia do mata-mata 100%
não chegou ao principal torneio
sul-americano, mas será meio experimentada na Copa Sul-Americana (Supercopa e Copa Conmebol adotaram essa fórmula).
Até por questões geográficas, as
disputas internacionais sempre
foram pautadas por fases eliminatórias. Por razões econômicas,
esse perfil tem sido sistematicamente desviado, mas quase sempre de forma tola (dez milhões de
pessoas, só na Itália, viram na TV
o sensacional duelo de morte entre Milan e Ajax, por exemplo).
O caminho até o céu deve ser
longo (pontos corridos nos campeonatos nacionais) e cheio de
riscos mortais (mata-mata nas
competições continentais).
Proposta dos clubes
O G-14 se reúne nesta terça-feira e, dentre os vários assuntos do grupo, um deve gerar muita polêmica, podendo ser estendido aos clubes
de todo o planeta. A idéia é cobrar da Fifa parte do dinheiro arrecadado com a Copa. Se os jogadores são funcionários dos times (recebem
direito de imagem também), a participação desses empregados no
Mundial não deveria render algum lucro para os empregadores? A
questão é boa (lembra um pouco as discussões para que as federações nacionais paguem os salários dos atletas quando esses estejam
defendendo seus países por um mês), mas não para a Fifa, que ganha
bilhões com seus torneios e pouco divide o bolo. O G-14, que comemora ter brecado as convocações da seleção brasileira, deve usar o
Mundial de Clubes como moeda de troca (os europeus jogariam o
torneio, como quer a Fifa, mas essa passaria parte da grana da Copa).
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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