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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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TOSTÃO

Futebol não é só momento

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

"Futebol é momento." Esse é um dos chavões mais repetidos. Outro: "Não há verdade no futebol que dure mais de 24 horas".
Se o técnico da seleção convocasse pelo momento, haveria um time diferente a cada jogo.
Futebol é passado, presente e futuro. Com poucas exceções, um atleta deve ser avaliado pelo que jogou, joga e poderá jogar.
Paulo César Vasconcellos, comentarista da ESPN Brasil e colunista do jornal "Lance!", criou nova classe, a de ex-jogador em atividade. Há inúmeros. Todos com contratos.
Para entrar nesse grupo, o jogador deveria ser avaliado não somente pela qualidade atual, mas também pela comparação com o passado. Há vários níveis técnicos de ex-jogadores em atividade. Eles têm momentos bons e ruins, de duração variável.
Romário foi um dos melhores atacantes do mundo de todos os tempos e talvez seja hoje o maior entre os ex-jogadores em atividade, seguido pelo Roberto Baggio.
Há jogadores que tiveram um passado recente brilhante e vivem maus momentos, como Rivaldo e Marcos, mas têm tudo para se recuperar. Futebol não é só momento. Eles estão longe de serem ex-jogadores em atividade. Marcos teve uma atuação horrível e estranha contra o Vitória.
Cafu, o mais velho dos campeões do mundo, sempre foi excelente e continua em forma. É incerto na Copa de 2006. Porém não será surpresa se for eleito o jogador com melhor preparo físico do próximo Mundial.
Existem jogadores que vivem grandes momentos e tiveram ótimos períodos no passado. Alex é e já foi o melhor jogador brasileiro. As suas atuações no Cruzeiro não são surpreendentes. Ele é jovem e tem um ótimo futuro.
Obviamente, o Cruzeiro não é apenas o Alex, mas ele é o diferencial. O time depende muito dele. É impossível substituí-lo à altura durante vários jogos. Sem Alex, o Cruzeiro deixa de ser o melhor do campeonato (neste momento) e passa a ser um dos melhores.
É diferente a situação de outros jogadores que passam por ótimos momentos, foram bons no passado e estão sendo reclamados para a seleção, como Fábio Luciano, Kléber, Luis Fabiano, Deivid, Maurinho, Athirson, Guilherme, Felipe, Marcelinho, Gil e outros. Nenhum deles já mereceu ser titular da seleção, como Alex, o que não significa que não possam ser chamados e brilharem.
Existem ainda jogadores que vivem um grande momento, mas não têm nenhum ou pouco passado, como Diego, Robinho, Carlos Alberto, Alex (do Santos), Adriano, Luisão, Elano, Nádson, Kaká e outros. Todos devem participar da seleção olímpica.
Esses jogadores começam a ultrapassar a barreira do momento. Estão construindo uma história. Já são excelentes.
Diego e Robinho continuam brilhantes. Kaká já é uma realidade. Se os três são craques, depende da definição de cada um. Não vou mais discutir o assunto.
Quando elogio, critico e volto a elogiar esses jovens, não significa que mudei de opinião a cada jogo. Aponto as virtudes e os defeitos de cada um, independentemente de suas atuações e do resultado da partida. Tenho também a ilusão de que posso ajudá-los com minhas críticas e com meus elogios.
Há ainda jogadores que nunca foram bons, com exceção de raros momentos, continuam medianos e não prometem nada para o futuro. Alguns são ex-jogadores em atividade. No entanto atuam sempre em grandes equipes e ganham ótimos salários. "O futebol é uma benção", outra pérola do Paulo César Vasconcellos.
Se esses jogadores, por acaso, vestirem a camisa da seleção, mesmo a de treino, fica ainda mais fácil para os empresários colocá-los em grandes clubes, como o Palmeiras. Basta mandar a foto e assinar o contrato.
Analisar o presente e o passado não é difícil. Quase impossível é prever o futuro. Há muitas surpresas.
Às vezes, criticamos um jogador, com razão, e depois ele arrebenta. Vão dizer que o comentarista quebrou a cara. A própria imprensa adora o fato.
Se a crítica foi correta, na época, e o jogador melhorou, não foi o comentarista que errou, e sim o atleta que evoluiu. Ótimo! Passaremos a elogiá-lo.
Não posso é ser, a princípio, contra, a favor, amigo ou inimigo de jogador, técnico, dirigente e nem da turma do oba-oba.
Tenho de analisar o fato, o momento e também o passado.

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