|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TOSTÃO
Futebol não é só momento
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
"Futebol é momento." Esse
é um dos chavões mais repetidos. Outro: "Não há verdade
no futebol que dure mais de 24
horas".
Se o técnico da seleção convocasse pelo momento, haveria um
time diferente a cada jogo.
Futebol é passado, presente e futuro. Com poucas exceções, um
atleta deve ser avaliado pelo que
jogou, joga e poderá jogar.
Paulo César Vasconcellos, comentarista da ESPN Brasil e colunista do jornal "Lance!", criou
nova classe, a de ex-jogador em
atividade. Há inúmeros. Todos
com contratos.
Para entrar nesse grupo, o jogador deveria ser avaliado não somente pela qualidade atual, mas
também pela comparação com o
passado. Há vários níveis técnicos
de ex-jogadores em atividade.
Eles têm momentos bons e ruins,
de duração variável.
Romário foi um dos melhores
atacantes do mundo de todos os
tempos e talvez seja hoje o maior
entre os ex-jogadores em atividade, seguido pelo Roberto Baggio.
Há jogadores que tiveram um
passado recente brilhante e vivem
maus momentos, como Rivaldo e
Marcos, mas têm tudo para se recuperar. Futebol não é só momento. Eles estão longe de serem
ex-jogadores em atividade. Marcos teve uma atuação horrível e
estranha contra o Vitória.
Cafu, o mais velho dos campeões do mundo, sempre foi excelente e continua em forma. É incerto na Copa de 2006. Porém não
será surpresa se for eleito o jogador com melhor preparo físico do
próximo Mundial.
Existem jogadores que vivem
grandes momentos e tiveram ótimos períodos no passado. Alex é e
já foi o melhor jogador brasileiro.
As suas atuações no Cruzeiro não
são surpreendentes. Ele é jovem e
tem um ótimo futuro.
Obviamente, o Cruzeiro não é
apenas o Alex, mas ele é o diferencial. O time depende muito dele. É
impossível substituí-lo à altura
durante vários jogos. Sem Alex, o
Cruzeiro deixa de ser o melhor do
campeonato (neste momento) e
passa a ser um dos melhores.
É diferente a situação de outros
jogadores que passam por ótimos
momentos, foram bons no passado e estão sendo reclamados para
a seleção, como Fábio Luciano,
Kléber, Luis Fabiano, Deivid,
Maurinho, Athirson, Guilherme,
Felipe, Marcelinho, Gil e outros.
Nenhum deles já mereceu ser titular da seleção, como Alex, o que
não significa que não possam ser
chamados e brilharem.
Existem ainda jogadores que vivem um grande momento, mas
não têm nenhum ou pouco passado, como Diego, Robinho, Carlos
Alberto, Alex (do Santos), Adriano, Luisão, Elano, Nádson, Kaká
e outros. Todos devem participar
da seleção olímpica.
Esses jogadores começam a ultrapassar a barreira do momento.
Estão construindo uma história.
Já são excelentes.
Diego e Robinho continuam
brilhantes. Kaká já é uma realidade. Se os três são craques, depende da definição de cada um.
Não vou mais discutir o assunto.
Quando elogio, critico e volto a
elogiar esses jovens, não significa
que mudei de opinião a cada jogo. Aponto as virtudes e os defeitos de cada um, independentemente de suas atuações e do resultado da partida. Tenho também a ilusão de que posso ajudá-los com minhas críticas e com
meus elogios.
Há ainda jogadores que nunca
foram bons, com exceção de raros
momentos, continuam medianos
e não prometem nada para o futuro. Alguns são ex-jogadores em
atividade. No entanto atuam
sempre em grandes equipes e ganham ótimos salários. "O futebol
é uma benção", outra pérola do
Paulo César Vasconcellos.
Se esses jogadores, por acaso,
vestirem a camisa da seleção,
mesmo a de treino, fica ainda
mais fácil para os empresários colocá-los em grandes clubes, como
o Palmeiras. Basta mandar a foto
e assinar o contrato.
Analisar o presente e o passado
não é difícil. Quase impossível é
prever o futuro. Há muitas surpresas.
Às vezes, criticamos um jogador, com razão, e depois ele arrebenta. Vão dizer que o comentarista quebrou a cara. A própria
imprensa adora o fato.
Se a crítica foi correta, na época,
e o jogador melhorou, não foi o
comentarista que errou, e sim o
atleta que evoluiu. Ótimo! Passaremos a elogiá-lo.
Não posso é ser, a princípio,
contra, a favor, amigo ou inimigo
de jogador, técnico, dirigente e
nem da turma do oba-oba.
Tenho de analisar o fato, o momento e também o passado.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Caso divide agência antidoping Próximo Texto: Motociclismo: Assustados, pilotos correm hoje na África Índice
|