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FUTEBOL
Assessor de imprensa particular se prolifera por grandes clubes do país ao oferecer contato diário e promessas de fama
Jornalista-babá faz boleiro surgir e sumir
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
Já vai longe o tempo em que o
profissional mais próximo do jogador de futebol era o massagista.
A espetacularização do esporte e a
evolução da mídia criaram um tipo que se multiplica com velocidade, a ponto de hoje invadir os
grandes clubes brasileiros: o assessor de imprensa de boleiro.
Tão ligados a seus contratados
quanto um cego a seu cão, eles são
pagos para manter jogadores e
técnicos em voga na imprensa.
Costumam buscar o objetivo
inundando de e-mails, faxes e telefonemas as redações dos veículos de comunicação.
A insistência é proporcional à
fama. Também faz parte do serviço isolar as estrelas do assédio dos
jornalistas. "Os jogadores me procuram para ter mais espaço na
mídia. Com o tempo, o efeito é
contrário, eles passam a pedir para não marcar tantas entrevistas",
conta Fabio Bolla, assessor de sete
atletas do Palmeiras, do técnico
do Corinthians, Tite, e com clientes espalhados por outros clubes.
Bolla seguiu uma trajetória comum nesse mercado: trocou de
lado no balcão. Na condição de
repórter de esportes ele conheceu
a maioria dos seus assessorados.
Depois montou seu negócio.
Mas não deixou a imprensa de
vez. Segue como repórter da rádio
Nove de Julho, cobrindo justamente o Palmeiras. Questionado
sobre a situação, Bolla afirma:
"Há um conflito de interesses,
acho até um pouco de falta de ética. Se o Lúcio [seu assessorado]
vai mal, o que vou dizer? Não posso falar mal de quem me paga.
Mas vou parar de fazer isso".
Ele era também assessor da organizada palmeirense Mancha
Alviverde. A torcida pediu cabeças de jogadores, entre eles clientes seus. O jornalista diz que rompeu o contrato com a Mancha.
No Palmeiras, Bolla disputa a
hegemonia do time com Cláudio
Farina, que assessora as maiores
estrelas, o goleiro Marcos e o atacante Vágner. Esse tipo de competição foi um dos motivos apontados pelo clube para, no ano passado, ter vetado a entrada de assessores em treinos.
Office-boy
A proibição, inédita nos grandes
clubes de São Paulo, é criticada
pelos profissionais, principalmente porque rompe num momento crucial um contato estreitíssimo. Os assessores em geral
são amigos dos boleiros.
Inevitável que a relação profissional -que começa na intermediação com a mídia e na orientação sobre como agir diante dela-
se misture com a pessoal. Assim,
alguns levam filhos de jogadores
para passear, outros oferecem
serviços de office-boy para pagamento de pendências domésticas,
muitos seguram barras existenciais do cliente-confidente.
A construção de um assessor
ajuda a explicar a relação. O mais
comum é o jornalista trabalhar
para um clube e, amizade feita
com os boleiros, passar a assessorá-los de forma particular.
Foi o que ocorreu com um dos
pioneiros da atividade no Brasil, o
carioca Rodrigo Paiva. Ele começou a atuar no Flamengo como
relações-públicas. Virou assessor
de imprensa em 1992, quando o
cargo inexistia no futebol.
Em 1995, iniciou trabalho com
Romário, talvez o primeiro caso
de um jogador famoso a ter seu
assessor particular. Em 1999, deixou o clube e trocou de craque:
passou a assessorar Ronaldo.
Exerce a função até hoje, simultaneamente à de assessor de imprensa da seleção brasileira. Paiva
diz não ver problema no acúmulo. "Ninguém pergunta se há conflito de interesse em um médico
trabalhar ao mesmo tempo num
clube, na seleção e ter a sua clínica. Isso é típico de jornalista, que é
muito crítico com sua classe."
Os casos se sucedem. Após quase oito anos como assessor do
Santos, Walmir Lopes foi demitido na esteira de um episódio em
que teve que dar versões em nome
do clube e de seu cliente Fábio
Costa. No início do ano, o goleiro
se transferiu para o Corinthians
brigado com o Santos. Aos repórteres que lhe questionavam sobre
a situação, Lopes respondia: "Pelo
Santos, digo que ele fica; como assessor do Fábio, digo que ele sai".
"Havia interesses divergentes,
mas procurei agir corretamente
com as duas partes", diz ele.
O assessor do Corinthians Luciano Signorini é outro que trabalha para jogadores do clube.
O mercado surgiu há cerca de
quatro anos, mas o seu boom é
um fenômeno recentíssimo. De
dez assessorias ouvidas pela reportagem, cinco foram abertas há
menos de dois anos.
O goleiro Juninho, 22, do Vitória, conta que contratou um assessor durante o Pré-Olímpico do
Chile, em janeiro, que disputou
como reserva da seleção. "Mesmo
na reserva, meu assessor divulgou
informações minhas. Se eu precisasse entrar no lugar do Gomes, o
Brasil já saberia quem eu era."
Outro jovem atleta, o volante
gremista Leanderson, 21, contratou o seu há dois meses. E explica:
"Mesmo se eu não estiver bem, o
assessor pode mexer seus pauzinhos e mostrar o que já fiz".
O crescimento do mercado é tão
voraz que até auxiliares técnicos e
jogadores de divisões de base já
possuem assessores. A VR Esportes, de MG, tem 27 atletas como
clientes, só dez profissionais -o
resto infantis, juvenis e juniores.
"O empresário me contrata para assessorar um jogador dele e
pede para incluir garotos no pacote", relata Paulo Vilhena, da
VR. Aí, cobra-se uma pechincha:
R$ 300 mensais por atleta.
Com profissionais, o valor varia
de R$ 500 (jogador de pouca expressão) a R$ 2.500 (craque de seleção). Os contratos, muitos dos
quais "no fio do bigode", costumam ter duração de um ano. As
receitas podem chegar a R$ 50 mil
mensais, como na carioca FD Assessoria, que tem 50 clientes.
Colaboraram Eduardo Arruda, Paulo
Cobos, Paulo Galdieri e Ricardo
Perrone, da Reportagem Local
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