Meia-atacante e Messi fazem hoje "jogo beneficente" no interior da Venezuela

Governador, em campanha para a reeleição e do mesmo partido do presidente venezuelano, é o principal patrocinador do amistoso

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada daquilo de trocar um ingresso por um quilo de açúcar. No caso dos astros Ronaldinho e Messi, "jogo beneficente" virou um grande negócio, que ainda ajuda a promover um grande aliado de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela.
Os dois craques fazem hoje mais uma edição do confronto "Amigos de Messi x Amigos de Ronaldinho" -a primeira, no ano passado, aconteceu na Argentina em um acanhado estádio na Província de San Luis, e o dinheiro arrecadado foi para fundações mantidas pelos dois jogadores do Barcelona.
Tudo bem diferente da partida de hoje, que terá como inusitado palco o estádio Monumental de Maturín, no Estado de Monagas, na Venezuela.
E não só pela boa capacidade para 52 mil torcedores daquela arena que o jogo foi para lá.
O principal patrocinador da partida é o governo de Monagas, chefiado por José Gregorio Briceño, do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), o mesmo de Hugo Chávez.
Na apresentação oficial do jogo, há cerca de um mês, o slogan "o governador Briceño leva a Monagas um jogo de outra galáxia" foi repetido à exaustão. O político está em plena campanha para sua reeleição, em pleito que acontece no final do ano.
Na sua gestão, o futebol já foi acusado de ajudar a divulgar seu nome -na Copa América do ano passado, Briceño foi acusado de usar dinheiro público para comprar quase 43 mil ingressos e repassá-los a aliados e eleitores de Monagas.
Além de principal patrocinador, o governo de Monagas ainda gastou com uma reforma no estádio (cerca de R$ 250 mil) e usou seu site para divulgar a venda dos ingressos.
No cartaz oficial da apresentação do amistoso, aparecem, além da marca do governo de Monagas, as do estádio, que é estatal, e do órgão que administra a arena, também sob tutela de Briceño. "Agradeço ao governo de Monagas pelo grande apoio para a partida", afirmou o atacante venezuelano Arango, que vai jogar na equipe dos "Amigos de Messi".
Na promoção do jogo na Venezuela, não há nenhuma menção de que se trata de um jogo beneficente. E os preços dos ingressos são alinhados com o que acontece em países ricos. As entradas mais baratas custam o equivalente a R$ 75 cada uma, mas em alguns setores o ingresso sai por quase R$ 600.
Os promotores também anunciam a presença de jogadores que não vão estar no amistoso na Venezuela.
É o caso do goleiro são-paulino Rogério, que, no horário do amistoso, estará concentrado com o São Paulo para a partida contra o Cruzeiro, amanhã, em Belo Horizonte, pelo Nacional.