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OLIMPÍADA
Presidente Rogge diz que jamais houve candidatas tão qualificadas para Jogos e descarta rodízio de continentes
Para COI, 2012 terá a disputa mais dura
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cidade brasileira que se tornar
a aspirante a abrigar os Jogos-2012 terá uma tarefa inglória, pois
a disputa pela Olimpíada será a
mais acirrada da história. A opinião é de Jacques Rogge (pronuncia-se Rógue), 61, presidente do
Comitê Olímpico Internacional.
Para o belga, jamais tantas cidades qualificadas se lançaram juntas para tentar receber a Olimpíada. "Normalmente havia no máximo duas candidatas fortes, as
outras eram mais fracas. Agora
serão só nomes de peso", disse
Rogge à Folha, por e-mail. Além
de Rio ou São Paulo, tentarão ser a
sede dos Jogos-2012 Nova York,
Madrid, Londres, Paris, Moscou,
Leipzig, Istambul e Havana -a
escolha final será feita em Cingapura, em julho de 2005.
E ele avisa: se os brasileiros novamente não realizarem o sonho
de organizar uma Olimpíada
-Brasília-2000 e Rio-2004 já fracassaram-, poderão ter de esperar muitos e muitos anos mais. Isso porque o COI vai em sentido
contrário ao da Fifa e não pretende afrouxar as regras para beneficiar países de Terceiro Mundo.
A entidade que comanda o futebol mundial já anunciou que fará
um rodízio dos continentes. Assim, a Copa poderá ir pela primeira vez na história para a África,
em 2010, e voltar para a América
do Sul após 36 anos -em 2014,
quando deverá ser no Brasil.
Rogge declarou que a possibilidade de o COI adotar o rodízio de
continentes é nula. "Só levamos
em consideração para dar a um
país o direito de sediar uma Olimpíada o caderno de encargos e o
relatório da comissão de avaliação. Nada mais. É uma escolha
puramente técnica, não política."
Segundo o dirigente, a questão
de a América do Sul nunca ter recebido os Jogos Olímpicos só poderia entrar em discussão se houvesse empate na avaliação entre
uma cidade da região e outra de
um continente que já os abrigou.
Folha - No próximo dia 7, o Comitê Olímpico Brasileiro decide entre
Rio de Janeiro e São Paulo qual será
a cidade brasileira que tentará ser
a sede dos Jogos de 2012. Como o
senhor vê o lançamento de uma
candidatura do Brasil? Acha que
tem alguma chance?
Jacques Rogge - O COI ficou satisfeito e vê com bons olhos a intenção dos brasileiros. A postulação será muito bem-vinda. Os 199
Comitês Olímpicos Nacionais foram convidados para, se quiserem, submeter o nome de uma cidade em sua jurisdição para ser
concorrente. Eles ainda têm até o
dia 15 para fazê-lo. De certo sabemos que será uma disputa muito
forte, como nunca se viu antes,
mas [sobre as chances brasileiras]
tudo dependerá do projeto que
[vocês] apresentarem.
Folha - Até que ponto o problema
da violência nas grandes cidades
brasileiras pode prejudicar a candidatura olímpica?
Rogge - Há um único objetivo
em jogo, que é o de oferecer o melhor para os atletas e os torcedores. Se as condições de segurança
apresentadas no projeto forem
boas e consideradas suficientes,
não haverá problemas.
Folha - A América do Sul nunca recebeu uma Olimpíada. Não é chegada a hora de fazê-lo? E até que
ponto o fato de ainda não ter sido
sede dos Jogos pesa a favor ou contra a candidatura brasileira?
Rogge - O COI é muito claro sobre o processo de escolha. O caderno de encargos e as condições
para cumprir à risca o que tiver
sendo oferecido são os pontos
que a comissão de avaliação leva
em consideração. E assim deverá
continuar sendo.
Folha - Quando o senhor ainda
era candidato a presidente do COI,
havia dito que o principal problema do Movimento Olímpico era a
questão do doping. Sua administração tem feito avanços na área?
Rogge - A Conferência Mundial
sobre Doping no Esporte [realizada na Dinamarca, em março]
nos permitiu dar um grande salto
na luta para bani-lo. Depois de 30
anos de esforços descoordenados
de governos e entidades esportivas, finalmente conseguimos chegar a um código para seguir. O desafio agora é implantá-lo em todos os níveis. E outro ponto muito positivo é que a Agência Mundial Antidoping [Wada, na sigla
em inglês] tem feito um trabalho
incansável. Agora ela tem uma sede própria, uma administração
efetiva, um novo e importante
conceito de observadores independentes e testes de surpresa. A
Wada também tem desenvolvido
muita pesquisa científica para
aprimorar a lista de substâncias
proibidas e novos métodos para
detectá-las, além de programas
educacionais para atletas e profissionais envolvidos.
Folha - Após a Olimpíada de
Sydney, foi muito discutida a idéia
de enxugamento dos Jogos, com a
redução do número de esportes
praticados ou a possibilidade de
realizá-los em duas cidades que
serviriam como sede, e não em apenas uma, como se dá hoje. Como o
senhor vê a questão do gigantismo
da Olimpíada, uma de suas preocupações quando candidato?
Rogge - Já houve um avanço. O
COI decidiu limitar o número de
esportes [serão 28 em Atenas-2004, com 300 provas e 10.500
atletas na vila] e, quando terminar uma Olimpíada, vamos sentar
à mesa e conversar. A comunidade olímpica fará uma avaliação de
como foram os esportes nos Jogos
anteriores e daí decidiremos como agir. Alguns deverão sair, outros continuam, porque o que interessa é manter a qualidade. O gigantismo não era uma solução.
Mesmo que não haja um enxugamento, certamente haverá uma
maior qualidade geral. Cada modalidade tentará fazer o máximo
para provar que deve continuar
na Olimpíada.
Folha - E o futebol?
Rogge - Conversei algumas vezes com Joseph Blatter [presidente da Fifa], e ele sabe da importância dos Jogos também para o
futebol. É o segundo esporte [numa Olimpíada] em audiência de
TV, e ninguém em sã consciência
acharia isso pouco.
Folha - O Usoc [comitê olímpico
norte-americano] está atolado em
denúncias de corrupção. Como o senhor vê o caso?
Rogge - Não seria delicado de
minha parte comentar o caso,
mas posso dizer que o Usoc está
tentando mudar sua estrutura e
tem o apoio do COI.
Folha - No início do ano, o senhor
demonstrou publicamente sua
preocupação com as obras para os
Jogos de Atenas, marcados para
agosto do ano que vem. Em que estágio elas estão atualmente?
Rogge - Os preparativos em Atenas estão totalmente sob controle,
e estamos confiantes de que os
gregos organizarão uma excelente Olimpíada em 2004. É verdade
que os prazos são apertados e nenhum dia pode ser desperdiçado,
mas o comitê organizador e o governo grego têm trabalhado bem
em conjunto para fazer as coisas
acontecerem.
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