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"Dei paciência ao nosso futebol"
Campeão do mundo, técnico Vicente Feola diz que seu maior mérito foi mudar a cabeça dos jogadores
Treinador da seleção elege Pelé como homem-chave da conquista e lamenta a ausência do são-paulino Gino Orlando no escrete
DA REPORTAGEM LOCAL
Técnico que conduziu a seleção a seu primeiro título mundial, Vicente Feola disse, ainda
na Suécia, que seu maior mérito à frente da equipe foi "dar
paciência" ao jogador brasileiro
para trabalhar a bola e buscar
os gols com naturalidade. Após
a goleada sobre os suecos, ele
-muito contestado no ato de
sua nomeação pela CBD- isolou-se nos vestiários e entregou-se a um festejo particular.
PERGUNTA - Qual o sentimento
agora, com a taça nas mãos? De vingança após tantas críticas no Brasil?
VICENTE FEOLA - De forma alguma, o sentimento é de dever
cumprido. Quantas críticas injustas já foram feitas em nosso
país? Quem trabalha bem não
teme bordoadas. Vencemos. E
vencemos merecidamente, fomos os melhores. Um por 11 e 11
por um, eles jogaram como verdadeiros campeões.
PERGUNTA - Muito se falou sobre
as restrições aos jogadores na concentração, do espírito ditatorial...
FEOLA - Que restrições? Pergunte a eles e veja que simplesmente elaboramos um manual
de conduta sem imposições esdrúxulas. Desde meu primeiro
dia na seleção, disse que, comigo, isso não seria a casa da sogra. Pedimos apenas disciplina.
PERGUNTA - E o elenco correspondeu à expectativa nesse quesito?
FEOLA - Estou 100% satisfeito
com o grupo. Houve colaboração, disciplina, respeito e vontade de ganhar. Tecnicamente,
é verdade, tivemos altos e baixos. Mas nossos jogadores são
cavalheiros e, ao mesmo tempo, grandes atletas. Nunca duvidei do nosso triunfo.
PERGUNTA - Qual foi o momento
mais difícil da campanha do título?
FEOLA - A estréia, contra a Áustria. Precisávamos começar
com uma vitória e, apesar de
dominados territorialmente, o
fizemos com sobras [3 a 0]. Os
austríacos tinham vários elementos estreantes que sentiram a condição de novatos.
PERGUNTA - Quem foi o jogador
mais importante para o escrete na
Copa do Mundo?
FEOLA - Todo o quadro saiu do
Brasil jogando uma enormidade. Aquela partida contra o Corinthians [a última antes do
embarque para a Europa e que
terminou com vitória do Brasil
por 5 a 0, no Pacaembu] foi notável. Mas não posso deixar de
citar Pelé, ele foi nosso homem-chave. É pena que Dida,
não sei exatamente o porquê,
não apresentou o mesmo rendimento dos treinos e jogos na
fase de preparação no Brasil.
PERGUNTA - Qual o maior mérito
de seu trabalho com a seleção no
campeonato do mundo?
FEOLA - O jogador brasileiro está acostumado a fazer gols rapidamente, não tem paciência
para ir trabalhando o tento sem
pressa. Essa foi a base do trabalho, dar essa paciência, essa
condição de, bons passadores
que somos, fazer a bola circular
e chegar ao gol adversário.
PERGUNTA - O individualismo de
alguns jogadores também o preocupava no começo da campanha...
FEOLA - Muito. Tínhamos decidido pelo fim dos dribles improdutivos, queríamos objetividade. Só Garrincha, por sua
característica única, teve liberdades que outros não tiveram.
PERGUNTA - O que foi mais difícil:
dar paciência ao ataque para trabalhar os gols ou acertar a defesa?
FEOLA - Foi a defesa que maiores preocupações causou, por
causa dos buracos apresentados. Depois, quando iniciada a
Copa, surpreendentemente tudo funcionou às mil maravilhas
e chegamos às semifinais sem
sofrer tentos. No final das contas, os rapazes fizeram um brilhante trabalho defensivo.
PERGUNTA - Você usou 33 jogadores durante a preparação e trouxe
22 para o Mundial. Sentiu falta de
algum jogador que ficou no Brasil?
FEOLA - Gino Orlando [do São
Paulo] fez muita falta, seria de
utilidade tremenda. Mas a prova de que ele não se recuperaria
a tempo [estava contundido] é
que até hoje está sem jogar.
PERGUNTA - Quais seus planos, o
senhor pretende voltar a dirigir o
São Paulo ou ficará na seleção?
FEOLA - Pergunte ao presidente
da CBD, João Havelange.
Respostas de Feola sobre a campanha de 1958,
colhidas em pesquisa
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