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Manual chinês narra a história oficial
Guias distribuídos pelo comitê organizador dos Jogos fornecem a visão do governo sobre temas como Tibete e Taiwan
Texto ignora a luta tibetana por independência e diz que governo no exílio foi banido porque representaria uma
volta do regime de servidão
ADALBERTO LEISTER FILHO
EDUARDO OHATA
ENVIADOS ESPECIAIS A PEQUIM
Ao menos nos impressos oficiais, a China não se esquiva de
comentar os assuntos mais espinhosos do noticiário internacional a respeito do país.
Em guias distribuídos pelo
Bocog (comitê organizador dos
Jogos), órgão ligado ao governo, o país dá sua visão sobre a
situação do Tibete e as relações
com Taiwan, entre outros temas que geram polêmica.
A pequena ilha, considerada
Província rebelde por Pequim,
é descrita como "parte inalienável do território chinês" no
guia "China 2008", que aponta
razões históricas para isso.
Segundo o informativo, o
país asiático desenvolveu burocracia administrativa na ilha de
Taiwan desde o século 12. Perdeu o território em 1895, por
meio do "humilhante Tratado
de Shimonoseki" após derrota
em guerra contra o Japão.
Recuperou a região com o
fim da Segunda Guerra Mundial, mas não ficou muito tempo no comando da ilha.
Após ser derrotado no continente em conflito contra o grupo de Mao Tse-tung, Chiang
Kai-shek migrou para a ilha
com sua tropa e reivindicou o
status de verdadeiro representante da China em órgãos internacionais, como a ONU.
A situação criou, neste ano,
um constrangimento durante a
cerimônia da tocha olímpica.
Taiwan se recusou a participar
da etapa nacional do revezamento e acabou fora do périplo
do símbolo olímpico.
Nos informativos, tais problemas são ignorados. Apesar
de, na prática, haver dois governos há mais de 50 anos e na
Olimpíada as duas equipes
competirem separadas, a versão oficial encara o fato apenas
como uma ameaça iminente.
O livreto "China: Fatos e Cifras 2008" insiste no ponto de
que os dois territórios formam
"um país com dois sistemas".
"Hu Jintao [presidente da
China] afirmou: as atividades
separatistas pela "independência de Taiwan" são o maior desastre contra a soberania e a integridade territorial do Estado,
o maior obstáculo contra o desenvolvimento das relações entre ambas as fronteiras e a
maior ameaça à paz e à estabilidade na região do estreito de
Taiwan", diz o informativo.
O Tibete, cujas manifestações por sua independência o
colocaram como protagonista
do noticiário durante o revezamento internacional da chama
olímpica, não passa de uma "região autônoma" da China.
Segundo o livro "Tibete da
China: Fatos e Cifras", a região
espontaneamente decidiu incorporar-se ao hoje país-sede
da Olimpíada. A obra, a começar pelo título, ignora a luta tibetana pela independência.
Também não menciona a invasão sofrida pelo país em 1950.
A anexação do Tibete, segundo o livro, ocorreu após negociação diplomática: "Conforme
o acordo, o Tibete materializou
a liberação pacífica".
Os embates pelos quais passou o território são vistos como
a luta entre forças progressistas, aliadas ao governo de Pequim, e conservadoras, que defendiam a manutenção de uma
ordem feudal "que já havia sido
abolida havia mais de cem anos
em quase toda a Europa".
E, se hoje há um governo tibetano no exílio, banido da China, é porque ele representaria o
retorno do regime de servidão.
"Em 10 de março de 1959, o
grupo reacionário que detinha
o poder no Tibete proclamou a
"independência" e desencadeou
sublevação total na tentativa de
salvaguardar seus interesses."
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