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"Gatos às avessas" abrem guerra fria entre EUA e China
Mundo da ginástica duvida que 2 atletas chinesas tenham ao menos 16 anos, idade mínima para competir em Pequim
Jornal acha registros que apontam para adulteração de idade, e página na internet é bloqueada logo depois da publicação
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
A suspeita de que duas ginastas chinesas selecionadas para
a equipe que competirá na
Olimpíada tenham tido a idade
adulterada para participar dos
Jogos de Pequim iniciou o embate EUA x China, disputa que
permeará o evento pela liderança no quadro de medalhas.
Na última sexta-feira, o país
anfitrião anunciou suas seis selecionadas para os Jogos. Entre
as ginastas escolhidas estão He
Kexin e Jiang Yuyuan. Há dúvidas se elas têm, efetivamente,
16 anos, a idade mínima para
competir em Pequim.
"Nos blogs e sites especializados em ginástica, isso gerou
bastante debate. Há uma desconfiança quanto à idade delas", disse Eliane Martins, coordenadora da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).
A edição dominical do "New
York Times" estampou a desconfiança. O jornal encontrou
três registros oficiais de que as
ginastas são mais novas.
Um registro nacional de ginastas chineses de 2007 (cuja
página na internet agora está
bloqueada) aponta que He nasceu em 1º de janeiro de 1994.
Há outro registro da mesma
data de nascimento da ginasta,
indicando que a favorita ao ouro nas paralelas assimétricas
tem 14, e não 16 anos de idade.
É a lista de inscrição de uma
competição intermunicipal em
Chengdu, realizada em 2006.
Jiang, por sua vez, aparece na
lista de atletas juniores feita pela autoridade esportiva da Província de Zhejiang como nascida em 1º de outubro de 1993.
Em maio, depois de a FIG
(Federação Internacional de
Ginástica) receber denúncias
de que He teria 14 anos -informação presente inclusive numa reportagem do "China
Daily", o jornal oficial do país
em língua inglesa-, a entidade
cobrou um posicionamento da
federação chinesa.
Imediatamente foi enviada
uma cópia do passaporte dela,
com registro de nascimento em
1º de janeiro de 1992. O documento foi expedido em 14 de fevereiro deste ano. Depois disso,
a FIG deu a investigação por
encerrada. Ela só pode retomar
o processo se receber alguma
nova reclamação formal.
Já o passaporte de Jiang, cuja
cópia também foi mandada pelas autoridades chinesas para o
"New York Times", foi emitido
em 2006 e aponta nascimento
em 1º de novembro de 1991.
Zhang Hongliang, dirigente
da Federação Chinesa de Ginástica, disse que houve erros
nos registros das datas de nascimento encontradas pelo jornal e que a informação correta é
a que consta nos passaportes. E
alega que ambas participaram
de eventos internacionais.
Não é a primeira suspeita que
paira sobre os chineses de adulteração na idade das ginastas
para participarem dos Jogos.
Um vídeo no Youtube exibe
entrevista da atleta Yang Yun,
que obteve dois bronzes (equipe e paralelas assimétricas) à
TV estatal chinesa, em que ela
alega ter competido com 14
anos em Sydney-2000.
"Não quero entrar nessa. Não
estamos competindo contra
elas. Isso é a guerra particular
entre China e EUA, que devem
travar disputa por cinco ou pelos seis ouros da ginástica feminina. Isso pode pesar decisivamente no quadro de medalhas
dos Jogos, pois já vi uma projeção de que a diferença entre os
dois países deve ser de três ouros", declarou Renato Araújo,
técnico de Diego Hypólito.
A evasiva em comentar a suspeita não é só do brasileiro. Outros envolvidos nos Jogos temem tratar do assunto e acabar
vendo seus atletas julgados
com rigor excessivo na Olimpíada, segundo o "NYT".
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