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O MARATONISTA
Aqui Atenas ferve
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
Madrugada de sábado, o amigo
Aristos Koroupoulis, 27, jovem
empresário, convida para um city
tour noturno pelas chamadas
boates de verão: em Atenas, os
clubes de inverno migram, de junho a outubro, do centro da cidade para uma avenida que corta as
praias do sul e que se parece com
a Sernambetiba, na Barra, Rio.
A porta da boate Messiah, em
Glifada, lembra a vitrine de uma
concessionária de automóveis da
avenida Europa: há cinco Porsches enfileirados e oito Mercedes
distribuídos no primeiro plano.
Eles têm, como os paulistas, o hábito de atrair clientes com carrões
-e esconder os Fusquinhas.
"O grego é deslumbrado, pede
dinheiro emprestado no banco
para comprar um carro de luxo,
mas mora em um quarto-e-sala
alugado", diz o economista Dimitris Papadopoulos, 31.
Passam de 2h, mas ninguém
dança. Por quê? Descobre-se que
mauricinhos locais acham pouco
glamouroso dançar: preferem capitanear mesas com bebidas a rodo, baldes de gelo com champanhe, e conversar. Todos se conhecem como se fosse festa fechada.
Aristos aponta uma morena
desmilingüida chamada Evelina
Papantoniou, espécie de Gisele
Bündchen local. "Ela é a modelo
mais famosa da Grécia. Se quiser,
te apresento, mas a conversa ali não evolui. O
cérebro da Evelina tem a
consistência de uma rocha", diz Aristos.
Evelina, 25, namora há
quatro anos, mas está
sozinha nesta noite.
"Minha mãe vai sempre
à Bahia, adora", diz, rindo demais, como se estivesse em uma sessão de
fotos para um anúncio
de pasta de dentes.
Nesse momento, o
empresário Yorgos
Bourtzos, 39, oferece-se
para dar seu depoimento: "Já estive 25 vezes no
Brasil. A primeira foi em
1992, para um baile de
Carnaval no Copacabana Palace. Tenho amigos cariocas. Gosto muito da mulher brasileira [estava
demorando]. Sabe qual a diferença para a grega? Elas sabem o que
querem, não te deixam na mão
no fim da noite. As gregas dão o
telefone, convidam para ir na casa delas, mas isso não quer dizer
nada. Outra diferença: o corpo.
Aqui elas têm o traseiro muito
grande e descuidado, acho que é
excesso de mussaká [prato típico
feito de camadas de berinjela,
carne, creme bechamel e queijo]".
Por volta das 2h30, junta-se ao
grupo a animada PhD em educação para crianças excepcionais
(ela se apresenta assim) Elena
Soucacou, 28: "Meu nome parece
japonês, mas é bem grego. Nasci
em uma região montanhosa do
Peloponeso onde as mulheres são
fortes, bigodudas, batalhadoras",
explica a PhD um pouco alta,
muito bronzeada, de minissaia, se
apoiando no repórter para dar a
resposta. Bebeu muito?
"Você quer um número preciso? Bem, algo entre uma e sete
vodcas, mais para sete..."
São quase 4h, e a reportagem resolve ir para um lugar chamado
Galea, onde acontece algo que
Aristos e sua turma classificam de
"popular": depois das 3h, o DJ
põe música grega, e as meninas
sobem em cima das mesas para
dançar. Os rapazes, embaixo, interpretam abrindo a palma da
mão com os braços esticados para
os lados e dando socos no ar.
"Adoro dançar. É a hora em que
a gente deve extravasar",
afirma a estudante Heleni Sara, 24.
Na Romeo, a dois quilômetros dali, a música
soa como o repertório da
Banda Mel, só que em
grego. As mais lentas parecem perfeitas para
dança do ventre em ritmo acelerado. Em cima
das mesas, as meninas
abrem os braços e giram
os pulsos na mesma rotação da barriga de fora.
Grupos de homens e
mulheres sobem no palco, onde o cantor some
na bagunça. Bem que o
leão-de-chácara Jannis
Assimakopoulos tinha
avisado. "Você não vai
encontrar nada mais
grego que isso."
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