|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLIFONIA
Na internet, os últimos ficam em primeiro
MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
N aturalmente, a atenção de quase todos numa
Olimpíada se concentra nas
vitórias, superações e conquistas. De quase todos, pois há
gente como o canadense Jonathan Crowe, 32, que tem mais
interesse em contar as histórias dos últimos colocados.
O webdesigner esmiúça os
resultados de Atenas-2004,
atrás das últimas colocações
em cada prova. As exceções
são eventos como o boxe e o judô -como as lutas são eliminatórias, não dá para determinar as "lanternas".
No www.mcwetboy.net/dfl
é possível saber, por exemplo,
que o polonês Jakub Czaja fechou os 3.000 m com obstáculos em 8min56s024, o mais lento entre os participantes. Que
no tiro, Aleksander Babchenko, do Quirguistão, acabou a
disputa da pistola 50 m em 40º
lugar, com 1.130 pontos (o mínimo para passar adiante
eram 1.164 pontos). Ou que o
americano Justin Wilcock sentiu dor nas costas e teve as piores notas nos saltos ornamentais (plataforma de 3 metros).
Crowe diz que sua idéia não
é ridicularizar os competidores. Para ele, "triunfar é sexy,
mas participar já é bravo".
Na página, não há referências aos medalhistas ("eles já
recebem publicidade demais"). O canadense monta
ainda um ranking, com os países com mais últimos lugares.
"Dou um ponto para cada um
que finaliza por último. Como
um monte de países ficaram
empatados, criei um critério, o
de dividir os pontos pelo tamanho das delegações." Nessa escala, o Brasil ocupava a 92ª colocação, ontem, à frente de Coréia do Sul, Japão e Espanha.
Crowe diz que histórias sobre os últimos colocados só
chamam a atenção quando
extremamente incomuns, como a de Dereck Ramond, que
só terminou uma bateria classificatória nos 400 m rasos em
Barcelona-92 com a ajuda do
pai. Mas, para o canadense,
elas deveriam ser contadas dado o esforço de cada atleta para chegar à Olimpíada. "Eles
de fato dão muito duro."
A página, que começou com
30 visitas diárias, já bate em 30
mil acessos. "É incrível como o
brasileiro está interessado."
E qual seria a melhor história de Atenas? "Difícil. Talvez
a dos chineses no salto sincronizado, que eram favoritos ao
ouro, mas tiveram a concentração quebrada por um torcedor que invadiu a área das piscinas e ficaram em último."
Texto Anterior: ATENAS 2004 Cruzeiro do sul Próximo Texto: O maratonista: Aqui Atenas ferve Índice
|