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O dia de Ronaldo
Nunca se falou tanto de um jogador
após uma Copa. Ronaldo não foi
campeão em 1998, mas sua derrocada física e mental às vésperas da final com a
França gerou teorias de conspiração, discussão em CPI e muita história. Nos últimos
anos, o brasileiro foi ao chão, sofreu com dores e medos, mas cresceu. Mais maduro para
o momento mais importante de sua carreira,
a final da Copa, ele joga a decisão para a surpresa de milhões que o julgavam acabado. A
crise nervosa antes da final de 1998 deu lugar
a um "frio na barriga" antes da estréia contra
a Turquia, como confidenciou a um amigo.
RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
"A única coisa que mudou no
Ronaldo foi o cabelo."
A frase acima, dita por Roberto
Carlos à imprensa do mundo inteiro, ávida por saber se o colapso
do atacante às vésperas da Copa
de 1998 pode se repetir, está errada. Já começa pelo fato de que o
lateral-esquerdo não é mais companheiro de quarto de Ronaldo,
como no último Mundial. O mais
famoso jogador de futebol do planeta no final do século 20 e no começo do século 21 dorme só na
Ásia, como seus companheiros.
A Folha ouviu uma série de pessoas próximas a Ronaldo -que
contribuíram com frases e informações abaixo- nos dias que antecederam a final da Copa que
praticamente resgatou o ainda
dentuço centroavante. Todas afirmam: ele mudou, e muito.
Em 1998, quando chegou à
França, ele estava no auge, ostentando, por dois anos seguidos, o
título de melhor jogador do mundo. Isso com apenas 21 anos. Tinha mais a perder do que a ganhar na Copa. Agora é diferente.
Depois de quase dois anos inativo, fez intensa preparação e ""teve
a sorte" de chegar ao Mundial
deste ano em evolução -Zidane,
Figo e Beckham, entre outras estrelas estrangeiras, foram à Ásia
esgotados após dura temporada.
A Copa, tão dura em 1998 com
Ronaldo, foi sua amiga em 2002.
""Ninguém passou o inferno que
ele passou." Foram duas cirurgias
delicadas, um rompimento de
tendão patelar do joelho direito
que poderia encerrar sua carreira
prematuramente -muitos a deram como encerrada mesmo.
""O guerreiro está ferido, morto
nunca", afirmou Ronaldo após a
mais demorada das cirurgias, que
o fez viver mais no departamento
médico da Internazionale de Milão do que dentro de campo. E viver na Itália, para um técnico atacante carioca, não é nada fácil.
""Ele não é feliz na Itália."
Ronaldo está rompido com
Giovanni Branchini, homem que
cuidou de seus interesses na Europa e que foi essencial para tirá-lo do Barcelona, e levá-lo à Inter.
Maduro, ""muito mais maduro",
Ronaldo tem tomado decisões,
importantes e pequenas, por conta própria, sem pressão.
A opção por um novo corte de
cabelo, assim como a escolha de
uma nova cor de chuteira, é exclusivamente de Ronaldo.
Seu tratamento -trocou os sacos de gelo após os jogos em 98
por sessões de alongamento agora- é aberto. Se na França havia
a aura de super-homem em torno
dele -as doídas tendinites eram
minimizadas-, na Ásia ele está
mais humano do que nunca -todos compreendem quando é poupado, se movimenta menos etc.
Humano. Nos últimos dois
anos, Ronaldo começou a desenvolver gosto pela literatura. Mas,
mais que isso, é pai de família.
No último Mundial, Suzana
Werner era apenas sua namorada
-teriam incomodado o atacante
rumores de um flerte da modelo
com um apresentador de TV.
Agora, Milene Domingues é sua
mulher, ainda, apesar de muitos
boatos. E ela é mãe de Ronald.
""Ronaldo diz que só ouve não
de uma pessoa: de seu filho."
A atenção à imprensa continua,
mas é mais controlada. O sorriso
para as câmeras segue, mas agora
há mais momentos reservados.
As entrevistas ainda são muitas,
mas surgiram intervalos maiores
entre elas, mais organizadas. E ele
agora é capaz de passar por um
batalhão de câmeras, microfones,
gravadores e bloquinhos de anotações sem se importar com isso.
Tecnicamente, Ronaldo é outro.
Aos 25, começa a deixar a velocidade e a explosão em segundo
plano para explorar essencialmente a técnica e a presença de
área. Seus gols mostram isso. É o
artilheiro desta Copa, com seis
-se fizer mais dois, alcança Pelé,
que tem 12, como o maior artilheiro do Brasil em Mundiais.
Menos estrela, mais grupo. Os
companheiros, longe de qualquer
inveja à badalação em torno de
Ronaldo, estão com ele, dão
apoio, o querem bem, sempre.
Pelé, o maior jogador de todos
os tempos, já o elegeu o melhor
desta Copa. A mídia, sempre forte
em torno dele, ""tirou um pouco o
pé", mas celebra o novo Ronaldo,
que já pode ser biografado.
Seria possível então uma crise
nervosa? ""Ele está mais forte
mentalmente, psicologicamente."
O pior já passou, até a estréia na
Copa. ""Ele disse que sentiu um
frio na barriga na estréia da seleção brasileira, contra a Turquia."
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