São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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sorte e azar

Brasil faz rota da jogatina na Ásia

Usinas de apostas clandestinas, Cingapura, Vietnã e China vivem escândalos por resultados viciados

Estudo da Universidade de Pequim estima em R$ 158 bilhões por ano os gastos em apostas esportivas no país-sede da Olimpíada


PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A HANÓI

Não é por Ronaldinho e companhia que o futebol é uma verdadeira febre no roteiro da seleção olímpica pela Ásia.
Cingapura e Vietnã, palcos de amistosos do time de Dunga na última segunda e depois de amanhã, respectivamente, e China, sede dos Jogos, estão no epicentro do imenso furacão das apostas, quase todas clandestinas e feitas pela internet, em jogos de futebol no mais populoso dos continentes.
Febre que fez desses países uma usina de escândalos de resultados arranjados e de viciados em apostas. Que estão tendo a chance de testar a sorte nos jogos do Brasil -o amistoso contra Cingapura fez parte até da programação da casa de apostas oficiais da cidade-estado do Sudeste Asiático.
Partidas que engordam um pouco mais o bilionário mercado de apostas em futebol nos três países por qual passará o time olímpico na Ásia.
Estudo da Universidade de Pequim estima em US$ 100 bilhões anuais (cerca de R$ 158 bilhões) os gastos em apostas esportivas na China. Mais da metade desse valor vai para palpites em jogos de futebol de todo o mundo, especialmente de ligas européias e competições entre países, como a Copa e torneios continentais.
Bem menor e mais pobre, o Vietnã, que antes do Brasil teve como único visitante ilustre nos últimos anos a Juventus de Turim, estuda até legalizar as apostas no futebol. Para o governo local, isso pode significar uma arrecadação de US$ 2 bilhões em impostos em um país onde mais da metade da população adulta tem o hábito de apostar em competições esportivas, com novamente o futebol na dianteira.
Tanto dinheiro é a senha para transformar o futebol local, além de suspeitas em outras partes do mundo, em alvo fácil de gente interessada em manipular resultados para faturar alto com as apostas.
As ligas nacionais de Vietnã, Cingapura e China estão entre as recordistas de jogadores e treinadores presos por resultados arranjados.
Em 2008, seis jogadores de um clube de Cingapura foram presos por terem recebido cada um, por intermédio do treinador do time, US$ 20 mil para manipular o resultado de seis partidas do time local.
"Fichinha" perto do que já aconteceu na China e no Vietnã. Neste último, dois jogadores da seleção nacional foram presos em 2005 por manipularem resultados em prol de apostadores. Pior aconteceu na China, onde em 2006 a manipulação generalizada de resultados na liga nacional provocou violentos protestos de torcedores, boicote às partidas e a prisão de dezenas de jogadores e de treinadores.
As polícias da Ásia também tentam apertar o cerco às máfias que controlam as apostas de futebol. No início deste mês, uma operação em vários países, incluindo Cingapura, Vietnã e China, acabou com um saldo de 1.300 presos.
"As apostas ilegais na China são uma mancha negra no nosso futebol. É um câncer que está destruindo o futebol da Ásia. Mas nós não podemos lutar apenas com nossas federações", declarou Mohammed bin Hammam, o presidente da confederação asiática, dando um recado de que é o governo chinês que deve providenciar medidas para acabar com a manipulação de resultados.
O Comitê Olímpico Internacional disse que ficará atento nos Jogos de Pequim, que começam dia 8, para eventuais resultados estranhos e a movimentação de apostas on-line em resultados da Olimpíada.


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