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Brasil arrisca com australiano
Presença de Brett Hawke, técnico de César Cielo, no time nacional causa insatisfação antes de Pequim
"Fico honrado pelo Brasil confiar em mim. Irei ajudar qualquer atleta", afirma ele, aposta da confederação para obter pódio olímpico
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A MACAU
Alto, corpo atlético, excelente nadador, o australiano Brett
Hawke, 33, passaria despercebido à beira da piscina do centro aquático de Macau não fosse por um detalhe: ele enverga a
camisa do Brasil.
O motivo para sua presença
na seleção atende pelo nome de
César Cielo. Após a conturbada
campanha em Sydney-2000, a
confederação brasileira decidiu
arriscar e convocar um estrangeiro para a comissão técnica.
Naqueles Jogos, o Brasil levou três estrangeiros que pouco contribuíram com a equipe e
criaram um clima ruim no time. "Eles acabaram com a
união da equipe", diz Coaracy
Nunes, presidente da CBDA.
"Mas agora fizemos trabalho
visando o César e o grupo."
Hawke foi recebido na equipe com ressalvas. Ao menos um
técnico e dois atletas ouvidos
pela Folha não ficaram satisfeitos com a convocação (preferiam brasileiros). Mas, com a
inclusão de dois treinadores
nacionais e a postura de Hawke, o clima parece tranqüilo.
Técnico da Universidade de
Auburn, Hawke sabe quando o
pupilo sai da água insatisfeito
só de olhar. Nessas horas, prefere o silêncio. Quando fala, porém, sabe como atingir Cielo.
"Só de olhar, ele sabe o que
eu preciso. Também temos
temperamento parecido. Ele
também era estourado quando
não nadava bem. Ele me dá vários toques para isso não me
prejudicar", diz o brasileiro.
Além do velocista, os outros
dois principais nomes da "tropa de elite" do país também serão acompanhados de perto
por seus treinadores. E, assim
como Cielo, Thiago Pereira e
Kaio Márcio também guardam
relação de simbiose com eles.
"Fico honrado em o Brasil
confiar em mim. Sou próximo
do César, mas irei ajudar qualquer atleta. Não procuro glórias para mim, só quero ajudar
o César e o Brasil a atingirem
suas maiores glórias", afirma.
O técnico divide o mesmo espaço na piscina de Macau com
Fernando Vanzella e Rosane
Carneiro, responsáveis por
Thiago Pereira e Kaio Márcio.
Um telefonema de Thiago
fez Vanzella deixar o Pinheiros
após 13 anos para comandar o
Minas. O treinador, formado
em educação física e que teria
pela primeira vez um time em
suas mãos, aceitou o convite,
deixou a família em São Paulo e
foi morar em Belo Horizonte.
A distância da família, também comum a Thiago, além da
sintonia na piscina, aproximou
ainda mais os dois. "Tenho relação próxima não só com o
Thiago, mas com toda a equipe.
Nós formamos uma família",
afirma o treinador.
Na água, Thiago deslanchou,
levou seis ouros no Pan e atingiu o recorde mundial dos 200
m medley em piscina de 25 m
em menos de dois anos.
"O Vanzella me ajudou a evoluir muito", diz o nadador.
Na mesma época em que
Thiago começou a trabalhar
com o novo técnico, Kaio Márcio resgatou Rosane Carneiro
para retomar a parceria iniciada nas categorias inferiores.
"Já pensava em fazer outra
coisa da vida", relembra Rosane. "Mas Kaio me convenceu."
Rosane ganhou o cargo de
técnica, mas também se tornou
uma espécie de psicóloga e até
de segunda mãe do nadador.
"Sei provocar, mexer com os
brios dele. Dou apoio quando
ele precisa, mas também sei
dar bronca e exigir mais. Ele é
tranqüilo, mas às vezes precisa
de um tranco", diz a técnica.
Ontem, ela começou a dar os
primeiros trancos antes da estréia nos Jogos de Pequim, no
primeiro treino da equipe completa em Macau.
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