São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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TOSTÃO

Transitoriedade


Existem momentos na vida e no futebol tão excepcionais e incomuns que raramente duram muito ou se repetem

NESTA SEMANA , escutei 1 milhão de vezes que Ronaldinho está feliz, sorrindo. Ele está sempre sorrindo, feliz ou não. Sorri até quando erra e joga mal.
Além de não saberem jogar futebol, os educados atletas de Cingapura não encostavam nos brasileiros. Ronaldinho aproveitou para mostrar sua classe. Ele repetiu também a lentidão de seus dois últimos anos. Atuou em um pequeno espaço e se limitou a dar belos passes. Assim, será facilmente marcado pelas defesas mais fortes, principalmente depois da Olimpíada.
Tenho a impressão, e torço para estar equivocado, de que o competente preparador físico Paulo Paixão, as orientações óbvias, mesmo que corretas, de Dunga, e as boas intenções de Ronaldinho não serão suficientes para ele voltar a jogar o futebol veloz, insinuante, espetacular e eficiente de outros tempos.
As suas dificuldades serão muito grandes. Não sei bem quais são. Uma delas é que todos querem vê-lo atuar como na época em que foi duas vezes o melhor do mundo.
Apesar de ter apenas 28 anos, Ronaldinho já tem uns dez de sucesso e fama. Atuou a maior parte desse tempo no máximo de suas possibilidades físicas. Os grandes craques são hoje rapidamente consumidos, física e emocionalmente. O esplendor técnico e físico não dura mais de dez anos.
Com o tempo, eles perdem também a ambição de superar obstáculos e passam a ter apenas esporádicos momentos brilhantes, cada dia menos freqüentes. Há ainda uma pressa da sociedade em trocar de ídolos. Jogam mal e entram outros. O espetáculo não pode parar.
Além disso, existem fatos no futebol e na vida tão espetaculares e incomuns que raramente perduram por longo tempo ou se repetem. É a transitoriedade das coisas.
Ronaldinho foi um dos jogadores que mais me encantaram em todos os tempos. O que vi, não esquecerei. Tomara que não tenha visto tudo.

Esperança
Quase todas as equipes do mundo atuam com uma linha de três ou quatro defensores e outra de três ou quatro armadores. No mínimo, são sete jogadores marcando no próprio campo ou atrás da linha da bola, como dizem os técnicos. Tudo bem, desde que sete cheguem ao ataque. Não é necessário que sejam todos de uma vez.
Não dá mais para atuar de rotina, desde o início, como muitos querem, com dois zagueiros, dois laterais que apóiem bastante, dois volantes que avancem, dois meias ofensivos que não marquem e dois atacantes. A defesa fica muito desprotegida.
A maior dificuldade tática de Dunga na seleção principal tem sido escalar juntos Ronaldinho, Kaká, Robinho e mais um centroavante. Já a seleção olímpica vai jogar com três volantes, que marcam e atacam, e três mais adiantados. São sete também para marcar.
Como a seleção principal do Brasil não tem um único ótimo volante, há grande esperança de que os jovens volantes brilhem na Olimpíada e passem a fazer parte da seleção principal.
Espero que a equipe olímpica faça pelo menos o essencial, que é tocar bem a bola, o que não ocorre com o time principal.


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