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Foco
Muro esconde parte pobre de Pequim que a China não conseguiu "varrer"
DOS ENVIADOS A PEQUIM
Entre os aspectos que chamam a atenção em Pequim, estão a bela paisagem de avenidas com cartazes coloridos relativos aos Jogos e o trabalho
incansável de paisagismo nas
vias do circuito olímpico.
O trabalho de embelezamento escancara uma transformação radical onde antes
havia casas antigas e minúsculas, algo comparável aos cortiços brasileiros.
Em alguns locais, no entanto, não foi possível finalizar a
""operação belezura" chinesa.
No número 93 da South Tianqiao Road, um muro, construído há cerca de dez dias, impede
a visão de decadente conjunto
de lojas populares.
Lá fora, pinturas coloridas
com menção aos Jogos.
Dentro, as pessoas se identificam só pelo sobrenome, evitam criticar a atitude do governo, mas contabilizam prejuízos. ""Esse muro fez reduzir
nosso movimento em dois terços", diz Wang, vendedora de
uma loja de roupas. A ""segunda muralha da China" foi erguida em tempo recorde de
três horas. "Certo dia apareceram os operários e fizeram o
serviço", diz Song, dono de bar.
A pujante avenida, com cinco vias de cada lado, foi erguida nos últimos anos graças à
demolição de casas e ao envio
dos moradores para conjuntos
habitacionais distantes.
O trecho do muro fica próximo à praça da Paz Celestial,
orgulho do povo chinês e local
dos famosos protestos estudantis de 1989.
A via será exaustivamente
transmitida por TVs do mundo todo. Por lá irão passar a
maratona e a prova de ciclismo
de estrada da Olimpíada.
E pela avenida não é difícil
encontrar outros trechos em
que a pobreza é escondida. A
duas quadras dali, atravessando a via, cartazes gigantes e um
muro cinza de mais de três
metros encobrem moradias
minúsculas e paupérrimas.
Da rua atrás do tapume dá
para ver o interior das casas,
de um cômodo, que serve de
quarto, sala e cozinha. Os banheiros são externos e coletivos. Pequeno comércio popular também funciona no local.
Do lado de lá, atrás do muro,
há entulho por toda parte, mas
o serviço não foi completado:
várias casas ainda estão de pé.
"Não deu tempo de fazer antes da Olimpíada. Vão nos enviar para outro local. Tenho
certeza de que será melhor",
espera Li, uma das últimas remanescentes daquele trecho.
"Os Jogos trouxeram perspectivas melhores. Quero falar bem deles. Tenho vergonha de mostrar coisas feias.
Daqui a dois anos isso aqui vai
estar bonito", afirma ela.
Calcula-se que, por conta
das demolições realizadas durante a preparação olímpica,
cerca de 300 mil pequineses
tiveram que deixar suas casas.
"A renovação urbana teve
início muito antes de Pequim
ganhar o direito de sediar a
Olimpíada [em 2001]. O programa beneficiou muito os
moradores", afirmou o Bocog
(comitê organizador dos Jogos) à Folha. "As estatísticas
indicam que, de 1991 a 2003,
quase 550 mil casas, envolvendo 1,5 milhão de moradores, foram realocados para locais melhores", acrescentou o
comitê.
(ALF E EO)
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