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TÊNIS
Ex-número um afirma que busca "dias gostosos" e que perseguir sempre conquistas é "maneira errada de encarar a vida"
Guga anuncia que vencer não é preciso
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Gustavo Kuerten não quer saber
de cobranças por resultados.
A pressão que se formou após a
derrota no Aberto dos EUA, acha
ele, é "uma maneira errada de encarar a vida". Se um dia voltar a
ser o primeiro do mundo, bom. Se
não der, bom também.
"Tenho o direito de jogar tênis,
não é?", disse Guga à Folha numa
entrevista na tarde de quinta-feira, após sair da quadra onde fora
novamente eliminado na primeira rodada do torneio, agora nas
duplas, com John van Lottum.
Antes, na terça-feira, ele havia
sido derrotado em simples, encerrando sua pior passagem pela
temporada de quadras rápidas da
América do Norte. Pela primeira
vez, perdeu mais que ganhou
(cinco derrotas e quatro vitórias).
Após a primeira eliminação,
diante do desconhecido russo
Dmitry Tursunov, 20 anos e 206º
do ranking deste ano, Guga, 14º,
afirmou que não consegue mais
jogar como antigamente -culpa,
apontou, da cirurgia no quadril
direito que sofreu há 19 meses.
À explicação que ele sustenta,
porém, logo se somaram outras,
como a de que estaria abatido
com problemas na família, o que
ele nega. Ao mesmo tempo, indica que não se sente pressionado a
voltar ao nível de antigamente.
"Também faz parte acordar de
manhã e desfrutar do que é um
dia gostoso", filosofa Guga, que
chegou ontem a Florianópolis.
Aos 26 anos, o tenista já acumulou mais de US$ 14 milhões só em
premiações oficiais dos torneios.
Folha - Há uma boataria grande
no Brasil sobre o que está acontecendo com você. Existe alguma coisa além do que você falou na terça
à noite?
Gustavo Kuerten - Eu adoro jogar tênis, estou feliz jogando tênis
e tenho todo o direito, acho, de jogar tênis, não é? Vai continuar
sendo a minha vida.
Para mim, é um prazer hoje entrar na quadra e jogar um Grand
Slam, gente vindo do Japão até
aqui [Nova York] para me ver,
tem cara que vem da Europa só
para assistir às minhas partidas.
Isso faz eu ter muito prazer de ir à
quadra. É o meu direito: desfrutar
enquanto eu posso jogar esses
torneios grandes. Ganhar ou perder é um direito meu também.
Indiferente do resultado, acho
que faz parte, mais que tudo, eu
me satisfazer, como num sonho.
Acordar de manhã, jogar tênis, ir
para a quadra bater na bola. Isso é
o que eu mais gosto hoje em dia.
Por isso vou continuar fazendo
até não dar mais.
Folha - Tem alguma coisa na sua
família que esteja te atrapalhando
agora?
Kuerten - Nada. Isso é assim só
se acontecer um fato de saúde, o
resto é tudo chacrinha. O jornal
tem que escrever linhas, a televisão tem que encher as matérias
também, então têm que falar de
alguma coisa. Minha família é supersaudável. Está todo mundo
bem. Eu estou feliz também.
Acho que é uma maneira errada
de encarar a vida, de o brasileiro
querer o tempo todo vencer, ganhar, ganhar, [ser] o primeiro.
Acho que também faz parte a gente acordar de manhã e desfrutar
um dia gostoso, vir aqui, jogar um
Grand Slam, ficar tranquilo. Isso
também faz parte da minha vida.
É o mais importante para mim.
A derrota: pô, já perdi aqui duas
vezes na primeira rodada, sem
contar este ano. Se continuar jogando do mesmo jeito no ano que
vem vou jogar de novo [o Aberto
dos EUA], e mais um ano, e mais
um ano. Um dia vai acabar, isso
aqui é uma passagem.
Folha - Você se vê voltando a ser
número um ou não é uma coisa que
tire nenhum minuto do seu sono? O
que der para jogar deu?
Kuerten - Os objetivos vêm aos
poucos. Faz seis meses que eu não
chego à final de um campeonato.
Não vou pensar em ser número
um do mundo antes de ir cada vez
mais próximo, alcançar resultados mais reais.
Mas, da mesma forma, no começo fui o 50 do mundo e era um
cara feliz. Fui 70 do mundo e fui
um cara superfeliz. Fui número
um do mundo e era superfeliz
também. Então é isso que eu nunca vou deixar de ser: um cara contente, alegre, feliz na quadra, que
eu acho que é fundamental.
O resto... Resultado vai vir, uma
hora ou outra. Se for o número 25
do mundo por mais três anos, pô,
vou ficar minha carreira inteira
entre os 50 primeiros do mundo.
Já sou um cara super-respeitado
no circuito, como jogador e como
pessoa. No tênis, não tenho que
pedir mais nada. Tenho que ser
feliz com o que eu tenho. Uma
derrota, passou um dia, já esqueci. Hoje [quinta] era uma partida
de duplas. Agora já começo a preparação para o [Torneio do] Sauípe. Quando for a minha hora de
jogar, eu vou lá tentar cada vez
aproveitar e curtir mais.
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